A CRÍTICA É COMO AS AUTO-ESTRADAS: TEM DUAS VIAS. O INSULTO NEM UMA!
A equipa de Eixo do Mal insurgiu-se com veemência contra o artigo do Jornal de Angola, de resposta ao seu anterior programa.
Convém relembrar sumariamente os factos para se compreender melhor o que se passou. Na sequência das palavras do cantor, Bob Geldorf, que insultou e criticou os governantes de Angola, a equipa do Eixo do Mal resolveu assumir o tema numa dupla perspectiva: por um lado, criticando asperamente os empresários, responsáveis pela vinda a Portugal do cantor, por dele se terem distanciado; por outro lado, ultrapassando no insulto e na crítica o próprio cantor, principalmente D. Oliveira e C.F. Alves.
Oito dias mais tarde vociferaram contra o Jornal de Angola por este lhes ter respondido como respondeu, ou seja, nos mesmos termos. E novamente reagiram com insultos, agora quase exclusivamente a cargo de D. Oliveira, e com críticas várias.
Faço propositadamente a distinção entre insultos e críticas, por mais implacáveis que sejam. Acaso sabem os componentes do Eixo do Mal que se os ditos insultos tivessem sido proferidos por ocasião de uma visita oficial dos ofendidos a Portugal incorreriam no crime previsto no art. 322.º do Código Penal? E que não se tratando de visita oficial sempre os visados se poderiam queixar, posto que noutro contexto penal?
É natural que não saibam, nem tão-pouco compreendam semelhante legislação. Pois não são os seus insultos veiculados ao abrigo das mais nobres razões morais? Quem ouve D. Oliveira e também, embora em menor medida, C. F. Alves (que no sábado passado já arrepiou caminho) logo compreende que há nas suas posições uma inequívoca superioridade moral legitimadora de todas as afirmações. Pois, mas esse é que é o problema. A superioridade moral, primeiramente, legitima afirmações, depois comportamentos, a seguir actos e, por último, leva á identificação da moral com os princípios que defendemos, para terminar na identidade entre é que é útil que nós façamos para defesa dos nossos princípios e a própria moral. A história está cheia de exemplos destes e nem sequer costumam ser necessários tantos degraus para se atingir o último patamar.
Acresce que D. Oliveira – C. F. Alves também, mas menos – ainda não compreendeu o programa em que participa. O que os espectadores certamente esperariam era que ele falasse de coisas sérias a brincar ou com humor (já não digo com ironia, porque isso seria pedir-lhe muito) e não que interviesse como se estivesse a usar da palavra na mesa de um qualquer agrupamento político-moral. Para isso há outros muito mais credenciados, isto é, com votos. Se ele não consegue acertar com a natureza do programa ou se somente o faz à custa da piada de mau gosto, às vezes mesmo boçal, deveria deixar o lugar a outro.
Para terminar duas notas mais: a primeira relacionada com a Sonangol: há despeito nas críticas, só que ainda não consegui inteirar-me bem da sua natureza; a segunda, diz respeito ao papel do físico na actividade humorística; toda a gente sabe que sempre houve uma ligação muito intensa entre o aspecto físico de uma pessoa e a actividade humorística por ela desempenhada. Onde a ofensa?
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