sábado, 11 de julho de 2009

O BELICISMO DE AMADO, SEVERIANO E COMPANHIA


A PROPÓSITO DA GUERRA NO AFEGANISTÃO

Já aqui nos referimos por várias vezes à guerra no Afeganistão. Até já citámos um notável texto de Eça de Queiroz, escrito na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, sobre as guerras do Império Britânico naquele longínquo território, na esperança de que a CIA ou os serviços secretos ingleses, sempre tão atentos a tudo o que se passa na blogosfera, o lessem e aprendessem alguma coisa com ele. Esperávamos que os nossos governantes o conhecessem. Infelizmente não o conhecem. Duplamente infelizes: por não o conhecerem e por não terem garantida a posteridade que o nascimento de Eça de Queiroz um século mais tarde certamente lhes asseguraria.
Portugal, completamente à margem do Parlamento e da própria opinião pública nacional, está a entrar numa guerra onde cada vez mais se enterra a esperança de vitória e sem que se percebam as razões que ditam o seu envolvimento num acontecimento de tão graves consequências. Uma guerra que não é nossa, com a qual nada temos e da qual nada temos a lucrar e tudo a perder. Portugal já andou pelo extremo oriente em tempos idos. Já lá travou as suas batalhas, que ganhou e perdeu, na defesa dos seus interesses. Hoje não tem interesses a defender naquela parte do mundo. Nem tem inimigos que, vindos de lá, o ameacem. Por isso, a participação na guerra do Afeganistão, além de irresponsável, ameaça os interesses nacionais, tornando o país alvo de acções que, noutro contexto, nunca teriam lugar.
Recentemente foi anunciado o reforço da participação portuguesa na guerra. Os militares belicistas, como sempre, exultam, mais ainda quando a responsabilidade pela condução das operações está cometida a outrem e as consequências do fracasso lhes não podem ser directamente imputadas. Os políticos sentem-se importantes por terem soldados a combater nas montanhas afegãs. Alguns até já fazem périplos pelos principais teatros de operações bélicas americanas, quais Rumsfelds de terceira categoria, orgulhosos por estarem a servir o Império em tão longínquas paragens. Sem certamente lhes passar pela cabeça a vergonha de um dia, se tentarem ter uma opinião, serem confrontados com a terrível pergunta que Estaline fez aos ingleses: “Quantas divisões tem o Papa?”.

1 comentário:

Ana Paula Fitas disse...

Brilhante, esta ideia de evocar a pergunta de Estaline.
Abraço.