Sarkozy deportou ciganos, uma, duas, várias vezes. É uma vergonha para a França, é também uma vergonha para a UE, que tais factos tenham ocorrido sem a censura oficial de nenhum Estado europeu. Houve certamente muitas vozes contra desde as da oposição francesa às daqueles que por essa Europa fora criticaram duramente o ignominioso comportamento do governo francês. Mas não houve protestos oficiais, salvo os do Vaticano e da Comissária da Justiça da União Europeia, que muito justamente comparou o comportamento francês a outros ocorridos durante (e depois!) da II Guerra Mundial. Antes desta declaração da Comissária, já Barroso no Parlamento Europeu, sem referir expressamente a França, tinha censurado os comportamentos que violam o princípio da livre circulação de pessoas no interior da União Europeia e as próprias normas universais de protecção dos direitos do homem.
Aqui ao lado, em Espanha, o El País, sempre pronto criticar tudo o que seja português, foi de opinião que Barroso exprimiu uma frouxa censura sobre os eventos de França.
Sarkozy, essa caricatura de Napoleão, reagiu vivamente às palavras da Comissária. Primeiro, aconselhou o Luxemburgo (Estado de que a Comissária é nacional) a receber os ciganos que a França expulsa; e depois, chegou mesma a dizer que uma Comissária do Luxemburgo (!!!) não pode tratar assim um dos grandes Estados da União.
Por esta “peixeirada” de Sarkozy se percebe melhor o que é a União Europeia, hoje, para os “grandes países” da Europa.
Pois bem, no almoço do Conselho Europeu de ontem, Sarkozy voltou a insurgir-se contra o comportamento da Comissária e como se tratou de uma reunião à porta fechada não será difícil imaginar o que destemperado Presidente francês tenha dito. Acontece que Barroso, que já não precisa de Sarkozy para nada e certamente não esquecendo as múltiplas traições de que foi vítima no período que antecedeu a sua segunda eleição, fez-lhe frente, defendendo a Comissão e a Comissária.
Nesta Europa intergovernamental que nos condena aos predadores financeiros e ao financiamento das exportações alemãs pelos países endividados, bem podem os colegas de Sarkozy, incluindo o Primeiro Ministro espanhol, terem-lhe prestado o apoio formal por ele solicitado, que nem por isso o gesto de Barroso deixará de ser menos aplaudido por todos aqueles – e são muitos –que rejeitam o directório que hoje governa a UE.
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