quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A REVISÃO CONSTITUCIONAL E O ORÇAMENTO

O QUE PRETENDE O PSD

A confluência de forças e de interesses que conseguiu a eleição da actual liderança do PSD parece ter apostado na ideia de que para ganhar ao PS era necesário, por um lado, fazer uma demarcação ideológica clara e, por outro, que ela assentasse em alguém que aos olhos do eleitorado pudesse apresentar-se como credível para asim contrastar com a liderança do PS acossada por vários escândalos.

Do ponto de vista ideológico, as forças dominantes que se encontram por detrás da actual liderança não encontraram nada mais marcante do que a aposta clara numa via neoliberal como panaceia para todos os males de que o país padece.

Quanto à credibilidade, optaram por apoiar alguém que, estando desde tenra idade ligado ao partido e a ele tendo dedicado uma parte já considerável da sua vida, com sacrifício inclusive de uma carreira escolar feita na idade própria, pudesse, pelos seus limitados conhecimento, ser presa fácil de múltiplas influências que, noutro contexto, teriam muita maior dificuldade em se afirmar.

Acontece que a opção ideológica que melhor se quadra aos interesses directos e indirectos dessas “múltiplas influências” que estão por detrás da liderança do PSD – e que diariamente aparecem na televisão “a salvar Portugal” ou em manifestos dirigidos ao país - parece não constituir uma via do agrado da generalidade dos portugueses.

De facto, apresentar como prioridade política, em tempo de crise, uma revisão constitucional que tem como principal objectivo a diminuição da despesa pública à custa do aumento correspondente da despesa privada, para quem quiser continuar a usufuir dos mesmos serviços que hoje correm por conta do erário público, não parece, mesmo para as pessoas menos informadas, uma opção susceptível de colher grande apoio.

E ainda gozaria de menos se a generalidade das pessoas soubesse que este “generoso esforço patriótico” se destina a abrir novas áreas de negócio ao capital privado sem que daí resulte, macroeconomicamente falando, qualquer benefício para a economia nacional. Ou seja, se soubesse que se trata de encontrar mais umas tantas “áreas de refúgio” para um capital maioritariamente incapaz de concorrer com êxito na Europa e no mundo.

Colocado perante os resultados das sondagens, que registam uma considerável quebra, depois de um começo relativamente auspicioso, a nova liderança do PSD, hesitante entre as “novas e as velhas influências”, percebeu que a insistência no mesmo tema lhe acarretaria novas perdas, mas também não pôde deixar de compreender que a retirada pura e simples da sua “bandeira eleitoral” lhe acarretaria uma não menor perda de credibilidade, porventura definitiva, dentro e for a do partido.

Por isso, optou por uma jogada que pode parecer de risco, a quem está por fora e desconhece a personalidade dos restantes jogadores, mas que no fundo assenta que nem uma luva nas velhas estratégias do "Bloco Central", a qual consiste em fazer a “maquillage” possível da proposta original, para a tentar fazer passar por algo diferente daquilo que realmente é, e apresentá-la ( ao PS) como contrapartida da sua abstenção na votação do Orçamento.

Se os factos coincidissem com a vozes que para aí se ouvem, o PSD acabaria a falar sozinho e o problema estaria à partida resolvido. Mas há uma grande diferença entre as aparências e a realidade: o PSD não exigirá que se concorde com textos radicais da sua proposta, basta-lhe que o PS vá a jogo” e aceite, no essencial, como intempestivamente já o fez a Ministra da Cultura e outros antes dela, a ideia de que é preciso introduzir alterações no “Estado Social” tal como está regulado na Constituição.

O futuro dirá se se vão entender ou não, mas estando no Partido Socialista a revisão constitucional entregue a Silva Pereira e a Vitalino Canas estão à partida criadas as condições para que se assista a um “número típico” do PS: de um lado, as “vozes” dos que afirmam que o Estado Social é o último reduto da democracia. Do outro, os “actos” dos que não vêem alternativa à defesa do “interesse nacional”, consubstanciado na aprovação do Orçamento, que não seja a cedência possível às pretensões do PSD.

E assim se vai governando Portugal…

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