quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A DERROTA DOS DEMOCRATAS NA AMÉRICA



QUEM SÃO OS VENCEDORES

O Estado, mínimo. Dirigidos por aqueles que mais se parecem com os cidadãos. Não por quem sabe. Inactivo ante as desigualdades. Insensível ante os desfavorecidos. Dedicado a castigar rapidamente os delinquentes, dentro e fora do país. Se possível, sem impostos. Também sem funcionários, salvo nas prisões e nas esquadras de polícia. O mesmo no mundo: Com menos diplomatas, quanto menos melhor e, contrapartida, com tantos soldados quantos os necessários. E, claro, também nas fronteiras e nas alfândegas. Para travar o passo às hordas estrangeiras que se dispõem invadir e a desnaturalizar a fibra íntima e autêntica desta nação que se sente excepcional, eleita por Deus. Para destruir os terroristas, claro, os islâmicos, que desafiam o poder americano e tentam destruir o seu domínio.
E, logo a seguir, o mais difícil: política sem políticos, parlamento sem autênticos parlamentares. Com homens e mulheres intrépidos, dispostos a resistir às elites governantes, defensores da lei e da ordem, armados até aos dentes para defender os direitos individuais, iluminados pela inspiração da sua divindade particular, completamente rendida à sua causa.
Esta é a força que venceu as eleições na América a meio-mandato
”. Se gostou, leia aqui o resto desta crónica de Lluís Bassets, no El País de hoje.
Sim, foi esta gente que ganhou as eleições na América. Esta força tão elogiada por Vargas Llosas, pela cronista do Público Esther Mucznic, e por tantos outros que entre nós se escondem por detrás do politicamente correcto para afirmar que estes são os “valores fundacionais” da América.
Felizmente, que a derrota não atingiu as proporções que se chegaram a anunciar, apesar da perda de muitos lugares (pelo menos, 70) na Câmara de Representantes e de lugares importantes (7) no Senado, onde a maioria, pela diferença mínima, se outros lugares não forem ganhos, continua cirurgicamente pouco homogénea (Liebman e Joe Manchin).
A democracia americana, desde há muito debilitada pelo papel que nela exerce o dinheiro, está mais que em qualquer outro momento da sua história seriamente ameaçada pelo domínio, quase absoluto, dos media pelos sectores mais reaccionários e pelas gigantescas doações que o capital plutocrático despeja às catadupas, anonimamente, em cima dos seus candidatos, encarregados da missão de combater por todos os modos quem faça tenção de impedir a expansão livre e desregulada do "mercado".
Ainda é cedo para tirar conclusões empíricas sobre a derrota, mas os dados conhecidos apontam, como tendência, do lado dos democratas, para a derrota dos candidatos democráticos mais conservadores (blue dogs) e a vitória dos mais radicais, o mesmo se passando do lado republicano: derrota dos (poucos) candidatos centristas e vitória dos mais extremistas.
De facto, só mesmo por sectarismo vesgo se pode afirmar que são todos iguais, que, bem-feitas as contas, é indiferente que ganhem uns ou outros. No fim, vai sempre dar ao mesmo. O sectarismo que não deixa ver as diferenças, que tudo uniformiza, nunca é, nem será um bom conselheiro.
É evidente que uma coisa é a força do sistema, outra muito diferente, lá como em qualquer outro lado, é o papel daqueles que dentro dele lutam e agem por um mundo diferente.
Comparando com o que se passa na Europa, a começar por Portugal, não será difícil constatar muita da gente eleita pelo Partido Democrata não teria cá lugar num partido como PS, a não ser, fazendo o trocadilho, como “red dogs”.
Na hora da derrota, uma palavra de muito apreço para essa grande progressista que nos últimos quatro anos desempenhou as funções de Speaker da Câmara de Representantes - Nancy Pelosi!

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