sábado, 6 de novembro de 2010

NOTAS DE FIM DE SEMANA


DE CAVACO À UNIÃO EUROPEIA

1 - Um grupo de jovens foi ao Palácio de Belém fazer uma qualquer homenagem a Nuno Álvares Pereira. Cavaco, frugal e hirto, terminada a sessão, comunicou aos jovens que em tempos de austeridade só tinha para lhes oferecer um copo de sumo de laranja, presume-se do fabricado sem laranja com aditivos vários de sabor a ácido cítrico, e um pastel de Belém.
De facto, não havia melhor exemplo, em tempos de crise que o de Nuno Álvares Pereira. Para ficar do lado de Portugal contra Castela exigiu ao Mestre um “património tão vasto que alguns contemporâneos alegavam que cobria metade do reino”.

2 – Pacheco Pereira no Público de hoje relata uma espécie de sonho (ele chama-lhe ficção utópica) que coincide com a minha “Premonição sobre a política doméstica”. Há, porém, entre os dois textos uma diferença de vulto: enquanto a minha premonição é, digamos, impressionista, porque deixa aos intervenientes e aos leitores grande margem de manobra e de imaginação, o “sonho” de Pacheco Pereira é detalhado, minucioso e quem nele entra não tem outro remédio senão aceitá-lo por inteiro ou “cair fora”.
Enfim, duas concepções muito diferentes do “centralismo democrático”.

3 – Os blogers e a imprensa portuguesa em geral dão muito pouco atenção, com excepção de um ou dois cronistas, ao que se passa em Bruxelas. Por isso, passou praticamente despercebido o último Conselho Europeu, bem como a votação sobre quem deveria contribuir para a constituição do tal “fundo de resgate” em teoria destinado a apoiar os “países em crise”. Em causa estava a participação dos bancos privados naquele fundo, além, evidentemente, dos Estados da União e do FMI. Quem votou contra? Portugal, a Grécia, a Espanha e o BCE, obviamente.
Sobre as diferentes concepções de afrontar a crise, nem uma palavra. Vale em toda a linha a posição da Alemanha, “negociada” com Sarkozy em Deauville, com total desprezo pelos demais membros do Conselho, da Comissão, do Parlamento e do próprio Presidente do Conselho, que não passa de um triste burocrata.
Ou seja, o que em Bruxelas não foi discutido, conforme aqui sugeríamos no postQue políticos temos nós?”, vai ser certamente tratado na próxima cimeira do G20, na qual a posição da Europa acabará por ser a da Alemanha, secundada pelos governos, também de direita, da França e do Reino Unido.
Sim, a “Europa” acabou, hoje o que há um directório de dois países, dominado pela Alemanha, em tudo que diga respeito à zona euro e que, nos demais assuntos, se basta com a abstenção da Inglaterra.
Só os tontos não vêem o que se passa. Em Portugal, infelizmente, a maior parte deles está no Parlamento Europeu….

4 comentários:

horta pinto disse...

1.É conhecida a devoção de Cavaco e de sua piedosa Esposa por Nuno Álvares Pereira, agora santo, por ter cometido a proeza de curar o olho esquerdo de D. Guilhermina.
Quanto ao sumo, pouco interessava de que era feito; o que era preciso era que fosse cor de laranja...

2. A Europa está mal, mas não acabou. Portugal também não acabou quando foi governado pela coligação PSD/CDS, nem mesmo quando foi governado por Salazar.
A Europa é uma realidade, e Portugal faz parte dela. O que é preciso é lutar, a nível da Europa, por mudar a maneira como ela é governada.

Um abraço

Anónimo disse...

Em Portugal e na Europa, a esquerda não tem futuro.O futuro pertence ao Nacional Socialismo. A politica actual serve os propósitos das Nações, como a China, a Índia..
A Europa deve fechar as portas, o que timidamente já esta a acontecer, com a subida da Extrema direita.
Certas pessoas continuam a tentar fazer opinião, da mesma maneira que antes da queda do murro de Berlim.

JMCPinto disse...

Bem vindo Horta Pinto como teu fino humor, que lamento não poder "saborear" ao vivo, como nos bons velhos tempos.
Quanto à Europa, estamos conversados. Ou melhor, sabes muito bem a que me refiro. Não adianta "chutar para escanteio". Esse teu optimismo cósmico quando um dia se concretizar já cá não estarei para o desfrutar....
Grande abraço

Ana Paula Fitas disse...

... a caminho do velho projecto da "Europa a duas velocidades" que se encarregaram de "apagar" da terminologia dos últimos anos... enfim... ignorar a realidade não lhe retira a existência...
Abraço.