A "GUERRA" DAS DIVISAS, A CRISE DA DÍVIDA … E O RESTO
A crise financeira lançou o mundo num verdadeiro turbilhão, cujos efeitos só agora, verdadeiramente, começam a atingir toda a gente. Certamente que os desempregados são as principais vítimas da crise em que o capital financeiro mergulhou o mundo, sendo esta consequência a mais grave de todas. Mas não são apenas os desempregados que foram ou vão ser atingidos pela crise. Ela está em pleno desenvolvimento e o mais que se pode dizer é que ninguém agora faz ideia de como acabará.
Os governantes são impotentes para lhe fazer frente: umas vezes porque representam o capital financeiro, partilham os mesmos pontos de vista e os mesmos interesses; outras, por falta de coragem; outras, ainda, por manifesta falta de força para isoladamente lhe fazer face.
Perante este cenário, a política que começa a ganhar terreno é a de exportar a crise para o terreno do vizinho. A “guerra das divisas” é um bom exemplo dessa política.
A China tem uma moeda subvalorizada e é detentora de biliões em créditos sobre os Estados Unidos e outros países. Como os Estados Unidos não conseguem que as autoridades chinesas valorizem a sua moeda, optam por uma desvalorização indirecta do dólar, mediante massivas injecções de liquidez feitas pela Reserva Federal, destinadas à compra da dívida pública, inundando o mercado de dólares. A moeda americana desce. Por outro lado, por via dessas injecções o dólar procura rentabilidade na moeda de outros países em prosperidade, fazendo subir o valor da moeda dos países para onde migra. E, então, os que estavam prósperos e de boa saúde, como o Brasil e outros emergentes, passam a temer o pior. Porque subindo o real, as exportações brasileiras baixam e as importações sobem.
A Alemanha, que se tem cevado à grande e à francesa nos países periféricos do sul da Europa, não fica, para já, prejudicada por estas movimentações, porque ficando mais valorizada a moeda dos emergentes, as suas exportações sobem. Ou seja, além de vender o que, em princípio sempre venderia, porque somente ela produz ou produz em condições mais competitivas que os demais, passa também a vender o que antes não vendia por ser caro. Daí que, para já, as reacções da Alemanha à guerra das divisas sejam muito tímidas…
No meio de toda esta grande movimentação, o presidente do Banco Mundial, um neocon nomeado por Bush, Robert Zoellick (que aliás entrou para o BM em substituição de um outro neocon (Wolfowitz) que para lá tinha ido para combater a corrupção, tendo sido corrido por nepotismo ao fim de dois anos), acaba de defender a peregrina ideia de uma espécie de regresso ao padrão ouro. Ideia imediatamente rechaçada por JC Trichet, presidente do BCE, que pediu mais flexibilidade para as taxas de câmbio. Mais contundente foi Bradford DeLong, professor de economia em Berckeley, que no seu blogue chamou a Zoellick “o maior estúpido vivente”, atributo que Paul Krugman considerou demasiado amável…De facto, a última coisa que a economia mundial necessita é de mais fontes de deflação.
Provavelmente, não se vai chegar a nenhum consenso em Seul, na próxima cimeira do G 20. Algumas das ideias que têm sido lançadas para travar estes movimentos não são verdadeiramente para levar a sério, ou porque não são aceitáveis pelos demais, ou porque são puras manobras de diversão. Se a história nos servisse de alguma coisa, e nem sempre serve, o mais provável seria seguir-se a toda esta movimentação uma onda proteccionista, com as consequências que se conhecem… Ver o que se passou antes da Primeira Guerra Mundial e entre as duas guerras.
Simultaneamente, na Europa, a dívida dos países periféricos do sul e da Irlanda não cessa de subir. E um facto é indesmentível: sempre que os juros tendem a estabilizar, mesmo a níveis inaceitáveis, a Alemanha lança uma mecha para a fogueira. Fê-lo durante a primeira fase da crise espanhola, para obrigar Zapatero a obedecer aos “mercados”, fê-lo permanentemente durante a crise grega e está a fazê-lo agora relativamente a todos.
É a Alemanha que permanentemente reaviva as suspeitas sobre a suspensão de pagamentos, sobre a capacidade de certos Estados executarem as políticas que ela impôs; enfim, é a Alemanha que tange o essencial do que se está a passar.
O que dizem os nossos políticos? Calam-se.
Sobre isto o que diz Cavaco? O que hoje à noite todos ouvimos…
Uma vergonha!
A crise financeira lançou o mundo num verdadeiro turbilhão, cujos efeitos só agora, verdadeiramente, começam a atingir toda a gente. Certamente que os desempregados são as principais vítimas da crise em que o capital financeiro mergulhou o mundo, sendo esta consequência a mais grave de todas. Mas não são apenas os desempregados que foram ou vão ser atingidos pela crise. Ela está em pleno desenvolvimento e o mais que se pode dizer é que ninguém agora faz ideia de como acabará.
Os governantes são impotentes para lhe fazer frente: umas vezes porque representam o capital financeiro, partilham os mesmos pontos de vista e os mesmos interesses; outras, por falta de coragem; outras, ainda, por manifesta falta de força para isoladamente lhe fazer face.
Perante este cenário, a política que começa a ganhar terreno é a de exportar a crise para o terreno do vizinho. A “guerra das divisas” é um bom exemplo dessa política.
A China tem uma moeda subvalorizada e é detentora de biliões em créditos sobre os Estados Unidos e outros países. Como os Estados Unidos não conseguem que as autoridades chinesas valorizem a sua moeda, optam por uma desvalorização indirecta do dólar, mediante massivas injecções de liquidez feitas pela Reserva Federal, destinadas à compra da dívida pública, inundando o mercado de dólares. A moeda americana desce. Por outro lado, por via dessas injecções o dólar procura rentabilidade na moeda de outros países em prosperidade, fazendo subir o valor da moeda dos países para onde migra. E, então, os que estavam prósperos e de boa saúde, como o Brasil e outros emergentes, passam a temer o pior. Porque subindo o real, as exportações brasileiras baixam e as importações sobem.
A Alemanha, que se tem cevado à grande e à francesa nos países periféricos do sul da Europa, não fica, para já, prejudicada por estas movimentações, porque ficando mais valorizada a moeda dos emergentes, as suas exportações sobem. Ou seja, além de vender o que, em princípio sempre venderia, porque somente ela produz ou produz em condições mais competitivas que os demais, passa também a vender o que antes não vendia por ser caro. Daí que, para já, as reacções da Alemanha à guerra das divisas sejam muito tímidas…
No meio de toda esta grande movimentação, o presidente do Banco Mundial, um neocon nomeado por Bush, Robert Zoellick (que aliás entrou para o BM em substituição de um outro neocon (Wolfowitz) que para lá tinha ido para combater a corrupção, tendo sido corrido por nepotismo ao fim de dois anos), acaba de defender a peregrina ideia de uma espécie de regresso ao padrão ouro. Ideia imediatamente rechaçada por JC Trichet, presidente do BCE, que pediu mais flexibilidade para as taxas de câmbio. Mais contundente foi Bradford DeLong, professor de economia em Berckeley, que no seu blogue chamou a Zoellick “o maior estúpido vivente”, atributo que Paul Krugman considerou demasiado amável…De facto, a última coisa que a economia mundial necessita é de mais fontes de deflação.
Provavelmente, não se vai chegar a nenhum consenso em Seul, na próxima cimeira do G 20. Algumas das ideias que têm sido lançadas para travar estes movimentos não são verdadeiramente para levar a sério, ou porque não são aceitáveis pelos demais, ou porque são puras manobras de diversão. Se a história nos servisse de alguma coisa, e nem sempre serve, o mais provável seria seguir-se a toda esta movimentação uma onda proteccionista, com as consequências que se conhecem… Ver o que se passou antes da Primeira Guerra Mundial e entre as duas guerras.
Simultaneamente, na Europa, a dívida dos países periféricos do sul e da Irlanda não cessa de subir. E um facto é indesmentível: sempre que os juros tendem a estabilizar, mesmo a níveis inaceitáveis, a Alemanha lança uma mecha para a fogueira. Fê-lo durante a primeira fase da crise espanhola, para obrigar Zapatero a obedecer aos “mercados”, fê-lo permanentemente durante a crise grega e está a fazê-lo agora relativamente a todos.
É a Alemanha que permanentemente reaviva as suspeitas sobre a suspensão de pagamentos, sobre a capacidade de certos Estados executarem as políticas que ela impôs; enfim, é a Alemanha que tange o essencial do que se está a passar.
O que dizem os nossos políticos? Calam-se.
Sobre isto o que diz Cavaco? O que hoje à noite todos ouvimos…
Uma vergonha!
1 comentário:
Doutor Correia Pinto, mais uma vez, a ver claro onde 99% vê turvo, e mais uma vez a ver ao longe quando todos os outros vêem ao perto.
Impõe-se a pergunta: Como resolver esta situação?
É que uma guerra mundial não dava jeito nenhum. Seria para arrebentar com o nosso planeta!
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