PIOR SERIA DIFÍCIL
Está prestes a consumar-se, com as eleições de hoje, 2 de Novembro, uma verdadeira hecatombe eleitoral para o Partido Democrático.
Está prestes a consumar-se, com as eleições de hoje, 2 de Novembro, uma verdadeira hecatombe eleitoral para o Partido Democrático.
Depois das muitas esperanças suscitadas pela categórica vitória de Obama de há dois anos, contra um adversário que, apesar de tudo, até nem representava aquilo que o Partido Republicano tem sido desde Reagan, e pela não menos importante vitória nas duas Câmaras do Congresso - na Câmara de Representantes, por 255 lugares contra 178, e no Senado, por 60 contra 40 (actualmente 59 contra 41, em virtude da eleição intercalar de Massachusetts, por morte de Ted Kennedy) -, seria difícil imaginar, dois anos depois, maior frustração do que a que actualmente reina nas hostes do partido democrático e da maioria da população americana.
As expectativas eram grandes, os resultados não poderiam ser piores. Com maioria no Congresso, em ambas as câmaras, terá de concluir-se que o balanço destes dois anos é tão negativo para o Presidente como para o partido que o apoia.
Na política externa, nem Obama, nem os congressistas e senadores que o apoiam conseguiram convencer os americanos, a maioria dos americanos, de que a segurança da América passava por um acordo no conflito israelo-árabe, aceitável pelos palestinianos, pelo Hamas e pela Fatah, e não apenas por esta. Enredado pelo lobby judaico na América e pela intransigência de Israel, Obama perdeu a face por mais de uma vez, foi desrespeitado pela extrema-direita israelita, e mantém o conflito no mesmo estádio em que se encontrava há dois anos ou, porventura, até com mais baixas expectativas de resolução.
No Iraque, e em tudo o que lhe está associado, só simbolicamente as promessas foram cumpridas. Muitas dezenas de milhares de soldados americanos continuam no Médio Oriente e lá ficarão por muito mais tempo. Guantánamo não foi, nem muito provavelmente será, desmantelado. Os presos não serão transferidos para território americano (a transferência para a famosa prisão da alta segurança em Illinois está cada vez mais longe de obter consenso no Senado) e, portanto, continuarão, como no tempo de Bush, a ser julgados por “comissões militares” ou pura e simplesmente a permanecer presos por tempo indeterminado.
É certo que esta era uma herança muito pesada, mas o incumprimento das promessas apresentadas com tanta convicção durante a campanha eleitoral deixaram nos americanos, mais do que a frustração pelo desrespeito pela palavra dada, a convicção de que o Presidente era um homem impreparado, sem o real conhecimento dos problemas com que se iria defrontar.
No Afeganistão, que cada vez se aproxima mais de um Vietname da era moderna, não evidentemente pelos propósitos que animam os talibãs, mas pelos resultados da guerra para os americanos, a política de Obama também fracassou, tanto junto da esquerda, como da direita. Obama parece ter optado pela pior via: incrementou o esforço militar, bem como o envolvimento americano e dos seus aliados e simultaneamente estabeleceu um prazo para a guerra acabar, dando a entender que os resultados pretendidos teriam de ser alcançados dentro de datas pré-estabelecidas. Como as guerras não se fazem com prazos marcados, os objectivos propostos estão longe de ser alcançados, pouco mais restando aos americanos do que um sempre crescente envolvimento ou uma saída tanto menos honrosa quanto mais tardia for.
As expectativas eram grandes, os resultados não poderiam ser piores. Com maioria no Congresso, em ambas as câmaras, terá de concluir-se que o balanço destes dois anos é tão negativo para o Presidente como para o partido que o apoia.
Na política externa, nem Obama, nem os congressistas e senadores que o apoiam conseguiram convencer os americanos, a maioria dos americanos, de que a segurança da América passava por um acordo no conflito israelo-árabe, aceitável pelos palestinianos, pelo Hamas e pela Fatah, e não apenas por esta. Enredado pelo lobby judaico na América e pela intransigência de Israel, Obama perdeu a face por mais de uma vez, foi desrespeitado pela extrema-direita israelita, e mantém o conflito no mesmo estádio em que se encontrava há dois anos ou, porventura, até com mais baixas expectativas de resolução.
No Iraque, e em tudo o que lhe está associado, só simbolicamente as promessas foram cumpridas. Muitas dezenas de milhares de soldados americanos continuam no Médio Oriente e lá ficarão por muito mais tempo. Guantánamo não foi, nem muito provavelmente será, desmantelado. Os presos não serão transferidos para território americano (a transferência para a famosa prisão da alta segurança em Illinois está cada vez mais longe de obter consenso no Senado) e, portanto, continuarão, como no tempo de Bush, a ser julgados por “comissões militares” ou pura e simplesmente a permanecer presos por tempo indeterminado.
É certo que esta era uma herança muito pesada, mas o incumprimento das promessas apresentadas com tanta convicção durante a campanha eleitoral deixaram nos americanos, mais do que a frustração pelo desrespeito pela palavra dada, a convicção de que o Presidente era um homem impreparado, sem o real conhecimento dos problemas com que se iria defrontar.
No Afeganistão, que cada vez se aproxima mais de um Vietname da era moderna, não evidentemente pelos propósitos que animam os talibãs, mas pelos resultados da guerra para os americanos, a política de Obama também fracassou, tanto junto da esquerda, como da direita. Obama parece ter optado pela pior via: incrementou o esforço militar, bem como o envolvimento americano e dos seus aliados e simultaneamente estabeleceu um prazo para a guerra acabar, dando a entender que os resultados pretendidos teriam de ser alcançados dentro de datas pré-estabelecidas. Como as guerras não se fazem com prazos marcados, os objectivos propostos estão longe de ser alcançados, pouco mais restando aos americanos do que um sempre crescente envolvimento ou uma saída tanto menos honrosa quanto mais tardia for.
No que respeita ao Irão, Obama conseguiu, melhor: tem conseguido, impedir o que seria uma verdadeira catástrofe para a humanidade, sem simultaneamente lograr alcançar um verdadeiro acordo do Irão com a comunidade internacional, representada pelo ONU ou por aqueles que maioritariamente a representam. Assim, há todas as razões para supor que o pior ainda está para vir, nomeadamente a partir da primavera do próximo ano. A pressão de Israel e dos círculos belicistas americanos vai ser terrível, constituindo neste momento uma incógnita aquela que virá a ser a decisiva reacção do Presidente americano. Como muito provavelmente jogará parte da sua reeleição neste conflito, tudo pode acontecer…
Em conclusão, o conflito na Palestina envenena as relações da América com o mundo árabe, o conflito no Afeganistão agrava a “guerra”com os muçulmanos, um e outro dão força ao fundamentalismo iraniano e a América, não obstante o “discurso do Cairo”, não está hoje, neste complexo xadrez em que está envolvida,em melhor posição do que estava quando Bush se foi embora, sendo até convicção do povo americano mais permeável à propaganda da direita belicista que os Estados Unidos são hoje um país mais vulnerável do que há dois anos.
Na Europa, pelo contrário, as relações melhoraram substancialmente, tanto com a generalidade dos aliados da NATO, como com a Rússia. Não obstante os progressos realizados, Obama corre o risco de não ver ratificados pelo Congresso os acordos que negociou com a Rússia, repetindo-se o que aconteceu nos tempos da Guerra Fria.
Na frente interna, que é sempre a mais decisiva para o resultado das eleições, os progressos foram escassos. Com maioria nas duas câmaras, até com uma super maioria no Senado durante largos meses, Obama não foi capaz de fazer aprovar a reforma do sistema de saúde que tinha prometido na campanha eleitoral. Enredou-se demasiado tempo na busca de um entendimento com os republicanos, cujo único objectivo era boicotar o projecto, deixou consolidar as posições dos congressistas e senadores democratas conservadores e, pior do que tudo, deixou criar numa parte considerável da opinião pública, inclusive naqueles a quem a reforma mais favorecia, a ideia de que reforma do sistema sanitário era um gigantesco desperdício de dinheiros públicos. Enfim, a reforma acabou por fazer-se, mas muito ao gosto das seguradoras.
A tentativa, de que parece não estar curado, de se entender com a direita republicana, nesta como noutras matérias, foi-lhe fatal. A ele e ao partido. De facto, é difícil compreender como se pode esperar que um partido que ataca o Medicare e o Medicaid, com os quais só ainda não acabou por falta de força, possa viabilizar algo parecido com um sistema nacional de saúde!
O mesmo se diga relativamente à regulamentação do sistema financeiro. Aquilo que parecia óbvio, quando a crise financeira rebentou, acabou por tornar-se um exercício extremamente complicado, a ponto de os republicanos terem conseguido passar para a opinião pública a ideia de que a reforma visava salvar os grandes bancos à custa do dinheiro dos contribuintes! Também nesta matéria, os grandes visados, ou seja, Wall Street, acabaram por sair relativamente confortáveis da contenda.
Mais uma vez Obama desagradou à esquerda e não ganhou nada à direita, tendo até involuntariamente contribuído para a radicalização das posições mais conservadores, de que o Tea Party é um eloquente exemplo.
No plano do emprego e do crescimento, os resultados também não são nada animadores. O desemprego mantém-se a níveis muito altos (superior a 10%), e a economia, apesar do programa de estímulo, cresceu pouco, vivendo-se neste momento sob o receio de uma nova recessão.
O desencanto está bem expresso nas palavras daquela mulher do povo que na região dos Grandes Lagos dizia um dia destes a Obama: “Presidente, desde que o Senhor foi eleito, não parei de o defender. Mas a verdade é que ainda não ganhei nada com isso. E estou a ficar cansada!”
Há um paralelo que não pode deixar de ser feito e que na América é frequentemente invocado, tanto pelas camadas instruídas, como pelo povo inculto. Esse paralelo é Roosevelt. Tal como Obama, também Roosevelt, em 1932, chegou à presidência com o país mergulhado numa profunda depressão. Com as medidas corajosas que implementou, genericamente consubstanciadas naquilo a que se chama o New Deal, a América voltou a ganhar confiança em si e foi saindo gradualmente da crise em que estava mergulhada, não obstante o retrocesso ocorrido em 1936.
Roosevelt foi corajoso, afrontou os grandes interesses estabelecidos e lançou as bases de uma nova América que foi sendo progressivamente melhorada até Reagan.
Obama, até agora, não tem estado à altura do seu notável antecessor. E vai pagar por isso. Já hoje!
Em conclusão, o conflito na Palestina envenena as relações da América com o mundo árabe, o conflito no Afeganistão agrava a “guerra”com os muçulmanos, um e outro dão força ao fundamentalismo iraniano e a América, não obstante o “discurso do Cairo”, não está hoje, neste complexo xadrez em que está envolvida,em melhor posição do que estava quando Bush se foi embora, sendo até convicção do povo americano mais permeável à propaganda da direita belicista que os Estados Unidos são hoje um país mais vulnerável do que há dois anos.
Na Europa, pelo contrário, as relações melhoraram substancialmente, tanto com a generalidade dos aliados da NATO, como com a Rússia. Não obstante os progressos realizados, Obama corre o risco de não ver ratificados pelo Congresso os acordos que negociou com a Rússia, repetindo-se o que aconteceu nos tempos da Guerra Fria.
Na frente interna, que é sempre a mais decisiva para o resultado das eleições, os progressos foram escassos. Com maioria nas duas câmaras, até com uma super maioria no Senado durante largos meses, Obama não foi capaz de fazer aprovar a reforma do sistema de saúde que tinha prometido na campanha eleitoral. Enredou-se demasiado tempo na busca de um entendimento com os republicanos, cujo único objectivo era boicotar o projecto, deixou consolidar as posições dos congressistas e senadores democratas conservadores e, pior do que tudo, deixou criar numa parte considerável da opinião pública, inclusive naqueles a quem a reforma mais favorecia, a ideia de que reforma do sistema sanitário era um gigantesco desperdício de dinheiros públicos. Enfim, a reforma acabou por fazer-se, mas muito ao gosto das seguradoras.
A tentativa, de que parece não estar curado, de se entender com a direita republicana, nesta como noutras matérias, foi-lhe fatal. A ele e ao partido. De facto, é difícil compreender como se pode esperar que um partido que ataca o Medicare e o Medicaid, com os quais só ainda não acabou por falta de força, possa viabilizar algo parecido com um sistema nacional de saúde!
O mesmo se diga relativamente à regulamentação do sistema financeiro. Aquilo que parecia óbvio, quando a crise financeira rebentou, acabou por tornar-se um exercício extremamente complicado, a ponto de os republicanos terem conseguido passar para a opinião pública a ideia de que a reforma visava salvar os grandes bancos à custa do dinheiro dos contribuintes! Também nesta matéria, os grandes visados, ou seja, Wall Street, acabaram por sair relativamente confortáveis da contenda.
Mais uma vez Obama desagradou à esquerda e não ganhou nada à direita, tendo até involuntariamente contribuído para a radicalização das posições mais conservadores, de que o Tea Party é um eloquente exemplo.
No plano do emprego e do crescimento, os resultados também não são nada animadores. O desemprego mantém-se a níveis muito altos (superior a 10%), e a economia, apesar do programa de estímulo, cresceu pouco, vivendo-se neste momento sob o receio de uma nova recessão.
O desencanto está bem expresso nas palavras daquela mulher do povo que na região dos Grandes Lagos dizia um dia destes a Obama: “Presidente, desde que o Senhor foi eleito, não parei de o defender. Mas a verdade é que ainda não ganhei nada com isso. E estou a ficar cansada!”
Há um paralelo que não pode deixar de ser feito e que na América é frequentemente invocado, tanto pelas camadas instruídas, como pelo povo inculto. Esse paralelo é Roosevelt. Tal como Obama, também Roosevelt, em 1932, chegou à presidência com o país mergulhado numa profunda depressão. Com as medidas corajosas que implementou, genericamente consubstanciadas naquilo a que se chama o New Deal, a América voltou a ganhar confiança em si e foi saindo gradualmente da crise em que estava mergulhada, não obstante o retrocesso ocorrido em 1936.
Roosevelt foi corajoso, afrontou os grandes interesses estabelecidos e lançou as bases de uma nova América que foi sendo progressivamente melhorada até Reagan.
Obama, até agora, não tem estado à altura do seu notável antecessor. E vai pagar por isso. Já hoje!
2 comentários:
O autor, com a qualidade que lhe é habitual, faz aqui quase uma súmula da política mundial. Sem questionar isso, há um ponto em que me permito discordar: O problema com o mundo árabe/muçulmano não acabaria se, vamos imaginar por artes mágicas, o estado israelita se evaporasse ou fosse engolido por uma espécie de buraco negro. Muito provavelmente leu uma entrevista dada a um semanário por um dirigente da CGTP e seu representante na FSM onde, entre outras questões, abordava o relacionamento com os sindicalistas oriundos desses países, que, segundo o mesmo sindicalista, são o principal esteio financeiro daquela organização internacional. Interessantes apreciações, sobretudo, por vir de quem vinham. Na minha modesta opinião (não é falsa), as teses e raciocínios que aqui são expostas são, com frequência, prejudicados por este preconceito qual "pedra no sapato" que não deita fora. Recordo o que fez Sadam aos comunistas no Iarque e que os soviéticos engoliram em seco para não perderem o "aliado", depois, o que se passou no Egipto etc. etc..
LG
Tudo o que LG diz é verdade.Todavia, não advogo, de forma alguma, o fim do Estado de Israel, nem nada que se pareça: Nem tão pouco estou convencido que, com a formação de um Estado palestiniano viável tudo se resolveria.
Mas acho que ajudava muito e que o "Mundo ocidental" tinha a ganhar com isso.
Enviar um comentário