terça-feira, 30 de novembro de 2010

WIKILEAKS E GUANTÁNAMO



AS DÚVIDAS QUE SUBSISTEM

A informação que tem vindo a público sobre a acção do "Departamento de Estado" em todo mundo deixa-nos uma ideia muito clara do modo como actua a diplomacia de uma superpotência. São eloquentes a este respeito as diligências realizadas pela diplomacia americana sobre Guantánamo.
Para já apenas se vai conhecendo o começo da parte final, sempre de acordo com os “critérios jornalísticos” do jornal que, dispondo de toda a informação, escolhe o que deve publicar.
O El País de hoje publica largos extractos de relatos de conversas entre Washington e alguns dos seus aliados, referidas ao período em que o governo americano, depois de ter sacado dos prisioneiros o que tinha para tirar, começa a querer ver-se livre de alguns deles, não só porque não sabe o que lhes há-de fazer, mas também para se libertar da imensa pressão internacional exercida pelas organizações de defesa dos direitos humanos e outras entidades, governamentais inclusive.
Pela documentação publicada percebe-se como foi difícil convencer os aliados americanos a aceitar os prisioneiros e como muitos deles resistiram, sem ceder, às pretensões de Washington.
Tudo foi discutido à americana, ou seja, como se de um negócio se tratasse. Umas vezes os americanos ofereciam dinheiro, muito dinheiro, outras influências, noutros casos eram os solicitados que pediam contrapartidas, sem nunca deixarem de exigir o pagamento das estadias dos prisioneiros que viessem a receber, mas tudo sempre muito regateado e retardado, a ponto de os embaixadores americanos ficarem frequentemente exasperados com as demoras, que tinham por dilatórias, na execução de compromissos já assumidos.
Nos documentos “filtrados” há muitíssima informação sobre Portugal. Em todo o caso em número inferior à de dois ou três outros países europeus, à dos países do Médio Oriente e do Golfo, à da China, à Rússia e pouco mais. Desconhece-se para já o número de telegramas tendo por objecto o nosso país ou tendo daqui sido emitidos. Apenas se sabe, segundo a classificação de El País, que são em número inferior a 3 mil.
Mas ainda nenhuma desta informação foi publicada pelo jornal espanhol que, naturalmente, tem dado prioridade aos grandes temas da política internacional e aos que se referem a Espanha.
No entanto, o que se vai conhecendo acerca dos outros, levanta inúmeras questões sobre o que se terá passado com Portugal na “recolha” dos prisioneiros de Guantánamo.
O que se sabe, o que o próprio Parlamento sabe, é muito pouco. Apenas as parcas explicações do Ministro dos Negócios Estrangeiros.
E é caso para perguntar: foi Portugal que se ofereceu (como o Ministro deu a entender) ou foram os americanos que “exigiram”? E como é que o negócio foi feito? Quem interveio? Intervieram os serviços de informação ou outros ministérios, como aconteceu nos demais países, ou somente interveio o Ministro dos Negócios Estrangeiros? Quem escolheu os presos? Houve contrapartidas? E se houve, de que tipo e quem beneficiou delas? E são os americanos que pagam a estadia dos ex-prisioneiros em Portugal ou somos nós?
Enfim, há muita coisa a escrutinar, coisas de que o Parlamento se deveria ocupar. Mas também a imprensa. Então, não haverá nenhum meio de comunicação social capaz de obter informação de um dos cinco jornais que receberam toda a informação? O “arco do poder” chegará tão longe, que até isto impede? Nem sequer os media que pertencem ao mesmo grupo de “El País” conseguem obter algo?
Já agora, o “prato completo”… Não estamos apenas interessados em saber como se passaram as coisas quando os americanos se quiseram ver livres dos presos, mas também o que se passou antes, quando os prenderam!

1 comentário:

jvcosta disse...

Uma coisa vi eu e meus patrícios (até por terem sido quem me chamou a atenção): um jato de médio curso estacionado ao fim da pista do aeroporto de Ponta Delgada, todo pintado de branco mas com matrícula começada por NS, a americana. ficava de um dia para o outro. Só nunca percebi porquê em Ponta Delgada e não na base das Lajes. Porque aí haveria mais jornalistas a ver?