É PRECISO MUITO MAIS
Não se pode aplicar a todas as épocas e a todas as situações a mesma receita. Em situações normais, de relativa estabilidade, a luta através da palavra pode ser suficiente. Normalmente, até é. Em situações de grave crise, como a actual, a palavra só não chega.
A dificuldade em passar da palavra à acção está certamente no facto de para muitas pessoas a crise ainda não ser uma evidência. É uma ameaça mas ainda não é uma vivência. Mas vai ser e dentro de muito pouco tempo. O Estado português, na situação em estão as contas públicas, não tem condições para contrair por muito mais tempo empréstimos a 7%.
Mais dia, menos dia vai deixar de os pagar e deixando de os pagar deixam de lhe emprestar dinheiro. E não tendo dinheiro vai deixar de pagar muita coisa também cá dentro. Nem será difícil imaginar, com a gente que nos governa, ou que a que se propõe substituir a que nos governa, quais serão nesse caso as suas prioridades. Tal como já acontece agora, também nessa altura quem tem menos é quem mais vai sofrer.
Para denunciar esta e outras situações semelhantes a palavra serve, mas daqui para a frente, por mais que se multipliquem outros tipos de luta contra quem governa, deixa de servir. E os outros tipos de lutas contra quem governa, também.
De facto, estes tipos que nos governam portaram-se pessimamente: fizeram asneiras e praticaram outro tipo de actos pelos quais um dia terão de ser julgados. Mas se fossem gente séria, isto é, se apenas tivessem tido alguns erros de cálculo, e quanto ao resto, se tivessem portado correctamente, a situação seria sensivelmente a mesma.
Isto pode parecer cínico, mas é verdade. Zapatero, que é um homem sério em matéria de dinheiros públicos, tinha um apreciável superávide nas contas públicas quando a crise começou; nas poucas parcerias público-privadas que contratou defendeu o interesse do Estado, como se está a ver com as auto-estradas: os prejuízos decorrentes de um errado cálculo sobre o número de utentes recaíram na íntegra sobre os privados. E, todavia, está numa situação semelhante à nossa, nalguns aspectos melhor, noutros bem pior, com tendência para se agravar.
Portanto, por detrás de tudo isto estão outras forças: Forças que os governos não querem contrariar, não têm coragem para contrariar ou não podem contrariar.
Na Europa, quem está por detrás de tudo isto é a Alemanha, com o apoio acrítico de Sarkozy. E o silêncio cúmplice e covarde dos demais, inclusive dos mais prejudicados por estas políticas. As responsabilidades da Alemanha são imensas: em primeiro lugar foi ela que mais vantagens tirou do endividamento dos países do sul, quer pelo que lhes vendeu, quer pelo que os financiou. E por ter, internamente, praticado uma política de cerceamento da procura interna. É a Alemanha, também, que, depois de ter beneficiado de todas as vantagens do endividamento, impôs draconianas medidas de austeridade aos seus parceiros para se assegurar de que as dívidas contraídas junto dos seus bancos serão pagas pontualmente. E é ainda a Alemanha que simultaneamente vai incendiando os “mercados” para que estes em plena crise possam dela retirar dela todas as vantagens.
É a Alemanha, por fim, que defende e impõe a grande mistificação de o dinheiro dever ser tratado como uma entidade independente. Em palavras simples, a Alemanha diz: o Banco Central tem de ser tratado como os tribunais. É uma entidade independente na qual os governos não podem interferir. Como toda a gente sabe isto é uma vergonhosa mistificação ideológica. Em toda a parte os bancos centrais estão ao serviço da política dos países a que pertencem. O BCE também. Com uma grande diferença: é que o BCE é de vários, mas quem manda nele é só um – a Alemanha ao serviço da qual está. E dentro de pouco tempo, se nada se fizer, ainda estará mais, quando Trichet for substituído pelo actual presidente do Bundesbank.
É preciso, portanto, que a Alemanha comece a sentir em toda a União Europeia, ou, pelo menos, nos países da União Europeia que ela abertamente prejudica, a animosidade dos seus habitantes.
Como os nossos políticos nada fazem, nem os que estão no poder nem aqueles que os pretendem substituir, têm de ser o povo a tomar a defesa do interesse nacional em suas mãos. De facto, têm de se considerar imbecis tanto as justificações do governo para explicar a actual situação como os remédios que ele propõe para a superar; igualmente se têm de considerar uma vergonha as declarações de Cavaco sobre o “apaziguamento” dos mercados, bem como as irrelevâncias do irrelevante Passos Coelho.
Aproxima-se duas datas que têm de ser aproveitadas para manifestar sem hesitações a nossa hostilidade face à política alemã: a cimeira da NATO e a Greve Geral do dia 24 de Novembro.
Como aqui tenho dito sempre a nossa luta não deve ser como a dos animais. Não adianta bater em que está mais perto, se por esse lado nada se resolve. A palavra de ordem tem de ser outra: hostilidade à Alemanha. Mais tarde ou mais cedo, se houver na Europa, ou numa parte dela, um clima verdadeiramente hostil, ela vai compreender…
Não se pode aplicar a todas as épocas e a todas as situações a mesma receita. Em situações normais, de relativa estabilidade, a luta através da palavra pode ser suficiente. Normalmente, até é. Em situações de grave crise, como a actual, a palavra só não chega.
A dificuldade em passar da palavra à acção está certamente no facto de para muitas pessoas a crise ainda não ser uma evidência. É uma ameaça mas ainda não é uma vivência. Mas vai ser e dentro de muito pouco tempo. O Estado português, na situação em estão as contas públicas, não tem condições para contrair por muito mais tempo empréstimos a 7%.
Mais dia, menos dia vai deixar de os pagar e deixando de os pagar deixam de lhe emprestar dinheiro. E não tendo dinheiro vai deixar de pagar muita coisa também cá dentro. Nem será difícil imaginar, com a gente que nos governa, ou que a que se propõe substituir a que nos governa, quais serão nesse caso as suas prioridades. Tal como já acontece agora, também nessa altura quem tem menos é quem mais vai sofrer.
Para denunciar esta e outras situações semelhantes a palavra serve, mas daqui para a frente, por mais que se multipliquem outros tipos de luta contra quem governa, deixa de servir. E os outros tipos de lutas contra quem governa, também.
De facto, estes tipos que nos governam portaram-se pessimamente: fizeram asneiras e praticaram outro tipo de actos pelos quais um dia terão de ser julgados. Mas se fossem gente séria, isto é, se apenas tivessem tido alguns erros de cálculo, e quanto ao resto, se tivessem portado correctamente, a situação seria sensivelmente a mesma.
Isto pode parecer cínico, mas é verdade. Zapatero, que é um homem sério em matéria de dinheiros públicos, tinha um apreciável superávide nas contas públicas quando a crise começou; nas poucas parcerias público-privadas que contratou defendeu o interesse do Estado, como se está a ver com as auto-estradas: os prejuízos decorrentes de um errado cálculo sobre o número de utentes recaíram na íntegra sobre os privados. E, todavia, está numa situação semelhante à nossa, nalguns aspectos melhor, noutros bem pior, com tendência para se agravar.
Portanto, por detrás de tudo isto estão outras forças: Forças que os governos não querem contrariar, não têm coragem para contrariar ou não podem contrariar.
Na Europa, quem está por detrás de tudo isto é a Alemanha, com o apoio acrítico de Sarkozy. E o silêncio cúmplice e covarde dos demais, inclusive dos mais prejudicados por estas políticas. As responsabilidades da Alemanha são imensas: em primeiro lugar foi ela que mais vantagens tirou do endividamento dos países do sul, quer pelo que lhes vendeu, quer pelo que os financiou. E por ter, internamente, praticado uma política de cerceamento da procura interna. É a Alemanha, também, que, depois de ter beneficiado de todas as vantagens do endividamento, impôs draconianas medidas de austeridade aos seus parceiros para se assegurar de que as dívidas contraídas junto dos seus bancos serão pagas pontualmente. E é ainda a Alemanha que simultaneamente vai incendiando os “mercados” para que estes em plena crise possam dela retirar dela todas as vantagens.
É a Alemanha, por fim, que defende e impõe a grande mistificação de o dinheiro dever ser tratado como uma entidade independente. Em palavras simples, a Alemanha diz: o Banco Central tem de ser tratado como os tribunais. É uma entidade independente na qual os governos não podem interferir. Como toda a gente sabe isto é uma vergonhosa mistificação ideológica. Em toda a parte os bancos centrais estão ao serviço da política dos países a que pertencem. O BCE também. Com uma grande diferença: é que o BCE é de vários, mas quem manda nele é só um – a Alemanha ao serviço da qual está. E dentro de pouco tempo, se nada se fizer, ainda estará mais, quando Trichet for substituído pelo actual presidente do Bundesbank.
É preciso, portanto, que a Alemanha comece a sentir em toda a União Europeia, ou, pelo menos, nos países da União Europeia que ela abertamente prejudica, a animosidade dos seus habitantes.
Como os nossos políticos nada fazem, nem os que estão no poder nem aqueles que os pretendem substituir, têm de ser o povo a tomar a defesa do interesse nacional em suas mãos. De facto, têm de se considerar imbecis tanto as justificações do governo para explicar a actual situação como os remédios que ele propõe para a superar; igualmente se têm de considerar uma vergonha as declarações de Cavaco sobre o “apaziguamento” dos mercados, bem como as irrelevâncias do irrelevante Passos Coelho.
Aproxima-se duas datas que têm de ser aproveitadas para manifestar sem hesitações a nossa hostilidade face à política alemã: a cimeira da NATO e a Greve Geral do dia 24 de Novembro.
Como aqui tenho dito sempre a nossa luta não deve ser como a dos animais. Não adianta bater em que está mais perto, se por esse lado nada se resolve. A palavra de ordem tem de ser outra: hostilidade à Alemanha. Mais tarde ou mais cedo, se houver na Europa, ou numa parte dela, um clima verdadeiramente hostil, ela vai compreender…
Post Scriptum - É com inegável satisfação que vejo finalmente alguém (João Rodrigues e Nuno Teles, Público de hoje) defender a recusa dos programas de austeridade impostos pela Alemanha, com a aquiescência do directório e a obediência servil dos demais, através de uma acção concertada das economias em crise, proposta que neste blogue tem sido frequentemente advogada.
3 comentários:
São "judearias" a mais, Zé Manel.
Alemães sempre ficarão na história pelas piores razões...
Abraço e de tanto gostar vou fazer Link...:))
Ana
Dardos pensados pelo Tocando Sem Tocar…
O meu abraço.
No dia 30/8/2010, um dos dias de maior tráfego nas estradas do Norte, passei na auto-estrada (A7 da Ascendi-Mota-Engil!!!! soube agora) que liga Guimarães a V.P.Aguiar. Basta uma dose mínima de bom senso para se poder aquilatar da governação criminosa, sim criminosa, que está por detrás deste tipo de "Investimentos". O que se diz da Alemanha e dos credores em geral pode até ter toda a validade (os bancos em portugal, face aos seus clientes/devedores não têm comportamento diferente), podem até desencadear campanhas de animosidade perante o país A ou B e talvez reacender fogueiras que pareciam apagadas,(é fácil imaginar como vê a questão um holandês ou dinamarquês para não estar só a falar dos alemães) mas aquela auto-estrada é um exemplo gritante da nossa incúria/malandragem que transformou o pequeno rectângulo num gigantesco Alandroal, utilizando aqui uma recente referência de MST a este Concelho onde o eleito do povo a coberto do estatuto de Boi-Apis de que se rodeou o "Poder Local democrático", praticou todo o tipo de desmandos numa permanente orgia financeira de que sabia não viria a ser responsabilizado. Isto pode não se enquadrar em nenhuma grande teoria sobre as relações de poder mas era o que as pessoas comuns do Alandroal anteviam. A Chanceler pode até tirar partido, pelas vias que refere, mas deve razoavelmente, ser responsabilizada pelas megalomanias das viagens de helicóptero, as múltiplas geminações com os quatro cantos do mundo e viagens para tal necessárias, praça de touros onde cabe 3 ou 4 vezes a população do concelho, centro cultural que nunca abriu etc etc etc etc? Não me parece. Os argumentos que o Sr aqui tão bem tece não podem escamotear o governo do pequeno e do grande Alandroal. Perdoe-me, mas estas questões fazem-me lembrar uma Assembleia de Frequesia (a minha) onde um eleito, quando toda a gente já queria sair, teimava em que se discutisse se se deveria apoiar a China ou atacar a Rússia a propósito, penso, do Vietname. Como sabe, bem melhor que eu, Portugal é irrelevante, seria-o mesmo que pretendesse (quem em seu nome se pronuncia) alterar as regras que conhecia aceitou e de que se diz defensor. Acicatar a opinião pública contra o agiota, seja alemã, chinês (hilariante o que sobre estes se disse nos últimos dias) pouco mais faria que arranjar bode expiatório. Primeiro julgue-se o gang do BPN, do Vara as PPP de criminosa inspiração, etc. etc. . Se nem a esse nivel os portugueses conseguem justiça não será devaneio pretender "julgar" as potências planetárias?
LG
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