quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A CRISE ECONÓMICA E OS NOSSOS ECONOMISTAS

A INCAPACIDADE DE ASSUMIR A INCOMPETÊNCIA DO SISTEMA

É quase impossível uma pessoa normal ouvir os economistas habituais - aqui simbolizados na arrogante petulância de João Salgueiro - sem se indignar. Depois há os rafeiros sem nenhuma originalidade que seguem a cartilha dos maiorais e que nem sequer têm a honra de merecer uma nomeação.
Ao fim de muitos anos de discussão de temas económicos, esses economistas que repetidamente vemos nas televisões ou lemos nos jornais ainda não tiveram a coragem de dizer abertamente para que serve, na opinião deles, a economia. Melhor, para que serve a economia capitalista.
O que se ouve é um ataque permanente ao Estado e aos seus gastos e, simultaneamente, um apelo a uma menor tributação como factores de desenvolvimento económico. Para que serve este almejado e nunca alcançado desenvolvimento económico é coisa que eles não dizem, embora pelo discurso de que fazem uso não restem muitas dúvidas de que ele não se destina a beneficiar a generalidade das pessoas. Estas, qualquer que seja o resultado daquelas políticas, só são nomeadas em nome dos sacrifícios que se lhes continuará a exigir.
Vejamos a presente situação. Dizem eles: o Estado está endividado e gasta mais do que as receitas que aufere. Logo, tem de se endividar menos e passar a gastar muito menos, para que a despesa coincida com a receita.
Com o andar da conversa imediatamente se percebe que os gastos a que eles se referem são a despesa com o pessoal e as despesas sociais. Os salários devem ser congelados ou até reduzidos e as despesas sociais devem, sem contemplações, limitar-se. A demais despesa pública é normalmente silenciada ou apenas atacada pontualmente. No que toca aos impostos, igualmente se depreende que a receita é baixar todos os que incidem sobre as empresas, sendo de manter os restantes, salvo eventualmente os que incidem sobre o último escalão de rendimentos, que deveriam também descer.
Estes são os seus remédios para vencer a crise. O que isto possa custar a milhões de pessoas, não interessa. A economia está primeiro.
A esta gente nunca lhe ocorre pensar que a situação que actualmente se vive em Portugal seja da responsabilidade de um patronato genericamente incapaz, que vê no trabalho sem direitos e sem dignidade a salvação de todos os males nacionais. Nem sequer, mais modestamente, lhe ocorre pensar na responsabilidade conjunta de todos os agentes económicos. Não, a culpa é dos metecos, logo devem ser os metecos a suportar as consequências da crise.
A esta gente nunca lhes ocorre pensar que a famosa dívida de que tanto falam é em grande parte da responsabilidade das várias grandes empresas que em Portugal vivem à margem da concorrência, seja por via da situação de monopólio ou de oligopólio existente. E que essas mesmas empresas pagam vultosas quantias a “gestores” cuja competência se resume à sua capacidade para despedir pessoas e subir os preços dos serviços que prestam.
Estas empresas, dizem os doutos economistas, estão fora da crise…porque são rentáveis. A essa gente nunca lhe ocorre pensar que os preços dos produtos ou serviços vendidos por essas empresas condicionam decisivamente toda a actividade económica. Não, isso nunca lhes ocorre. O que lhes ocorre é fazer a defesa dos preços praticados. E elogiar a alta rentabilidade dessas empresas. Se as demais empresas têm de reduzir os custos para garantir a sua competitividade, que o façam à custa dos metecos!
Igualmente lhes não ocorre pensar que uma parte considerável da despesa pública se destina a assegurar a sobrevivência de empresas, de grandes empresas, que sem os contratos com o Estado fechariam imediatamente as suas portas. Que essas mesmas empresas se tenham revelado incapazes de encontrar mercados alternativos, é coisa que igualmente lhes não passa pela cabeça. O que interessa é que os sacrifícios sejam suportados pelos metecos!
A petulância e a impunidade vampiresca dessa gente que nos dá conselhos não lhes deixam espaço para reflectir sobre a capacidade do sistema económico para assegurar às pessoa um emprego digno e, consequentemente, concluirem que se isso não acontece é porque algo estará nele profundamente errado. Não. Isso não não é juízo que se faça a propósito deste sistema. Essa conclusão apenas era válida para outros sistemas. Não para o sistema que lhes permite ganhar num dia mais de três vezes o que um funcionário público licenciado ganha num mês! E não lhes deixa espaço para essas congeminações, porque para essa gente as pessoas não contam. A economia não se destina a servir as pessoas. As pessoas é que têm por obrigação servir a economia!
É por estas e por outras que o Governo, se quiser ser compreendido nalgumas medidas que vai ter de tomar, terá, antes de mais nada, que dar uma valente “talhada”nos rendimentos destes parasitas, de modo a situá-los a níveis compatíveis com a situação económica do país. Atacar estes parasitas que vivem à custa do capital alheio, que acumulam reformas milionárias com altíssimos salários ou até várias reformas, é um dever que não pode deixar de ser cumprido! E se alguns fugirem, como demagogicamente ameaçam, só teremos de nos congratular. O país ficará mais rico sem eles! De facto, eles nunca contribuíram em nada para o bem-estar colectivo, nem para o desenvolvimento do país.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro autor do Blog:
Penso que estes economistas, como os princípios do liberalismo (de que eles propagandeiam uma espécie de vulgata) estão mais adequados à "natureza" humana que o velho principio "a cada ums egundo as suas necessidades" Aliás, penso que a monumental falência do mundo comunista tem no âmago a incapacidade de criar o "homem novo". Agora que este senhores têm pouco pudor.. lá isso têm. O caso conhecido mais escandaloso continua a parecer-me o do ex-ministro Campos Cunha; tão defensor da austeridade, das contas públicas sãs (eu tb sou)do ganho de competitividade pela via da redução dos custos do trabalho et. etc. não tinha qualquer problema de "consciência" em receber pela passagem de 4 anos pelo B.P. (não sei se produtiva ou não essa passagem)o equivalente a mais de 5 rendimentos médios. Coisa do género se poderia dizer relativamente a outros pregadores. Não é preciso ser um grande economista para perceber o que quer dizer a evolução da repartição do rendimento pelos diversos "factores", a distribuição do rendimento etc etc. Sobre estas "grandezas" estatísticas ou macroeconómicas eles não piam.