terça-feira, 8 de dezembro de 2009

REFLEXÕES SOBRE O "CASO VARA"



INGENUIDADE OU ACTUAÇÃO SOFISTICADA?

Já toda a gente percebeu que vai uma luta de morte entre os dois maiores partidos da democracia portuguesa. Mas já não é certo que toda a gente tenha percebido que essa luta ocorra pelas melhores razões. Provavelmente o chamado “interesse público”, aparentemente sempre presente, é o que na realidade menos interessa. O que interessa é substituir quem lá está. Depois, o resto virá por si…
Ao reflectir-se sobre as notícias postas a circular a respeito do processo “Face Oculta”, principalmente as que dizem respeito a Vara, não pode deixar de considerar-se intrigante que algumas delas, e logo as mais importantes, não tenham qualquer suporte processual. Por que é que se pôs a circular com foros de veracidade a informação de que Vara havia sido escutado nos mais diversos locais com recurso a novas tecnologias (que a gente sabe existirem, pelo menos desde que viu a Shoah de Claude Lanzman) e, inclusive, se afirmou que a polícia ou as autoridades de investigação criminal tinham em seu poder provas factuais do recebimento de certa quantia em dinheiro?
Por que razão se põem a circular factos que, mais tarde ou mais cedo, se saberá não terem qualquer apoio probatório no processo? Ninguém é tão ingénuo que não perceba que, uma vez descoberta a mentira, acabe por ficar descredibilizada toda a informação publicamente veiculada sobre o processo “face Oculta”. Pior ainda: se no processo não há elementos concludentes da culpabilidade de Vara, mais difícil ficará responsabilizá-lo criminalmente pelas alegadas suspeitas da prática do crime de tráfico de influência.
Pelo que Vara já disse e fez, bem como pelas medidas de coacção que lhe foram aplicadas não será ousado prever que muito dificilmente ele será condenado por algo que tenha a ver com os “negócios” da sucata. Pois se já era difícil em qualquer caso fazer a prova dos elementos constitutivos do crime de tráfico de influência, principalmente em relação a uma pessoa que exerce uma actividade profissional como a sua, mais difícil se tornará fazê-la depois de toda esta baralhada.
Então, volta-se à pergunta inicial: por que razão foram postos a circular aqueles factos? Vara não é hoje assim tão importante que justifique uma acção desta envergadura. Poderia convir tirá-lo do Banco, é certo, mas também não é menos certo que não é uma andorinha que faz a primavera. Sabe-se como e por quem foi ganha a direcção do Banco e não é a ausência de uma só pessoa que vai alterar o rumo das coisas.
Mas se à época em que aqueles factos foram postos a circular já se soubesse, como realmente se sabia, que havia no processo escutas de conversas entre Sócrates e Vara, então já pode fazer algum sentido pôr a circular com alguma antecedência factos “inequivocamente incriminatórios” em relação a Vara para posteriormente se justificar a notícia sobre as outras escutas. Ou seja, se Vara já estivesse suficientemente “queimado”, maior credibilidade passaria a ter a notícia sobre o conteúdo das segundas escutas e maior justificação haveria para as pôr a circular…
Este exercício como muito bem se percebe não versa sobre conteúdos, nem sobre eles toma qualquer posição, mas apenas sobre como podem encadear-se os episódios da luta política em curso.
Não sei se já há entre nós quem actue com esta expertise na luta política. A verdade é que os portugueses ainda há bem pouco tempo não sabiam “clonar” cartões de crédito e agora, mercê da assessoria que lhes começou a ser prestada por alguns especialistas, parece que também já o fazem…

2 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Permita-me o 2º link, meu amigo...
Obrigado :)
Abraço.

MANOJAS disse...

E, de reflexão em reflexão, não iremos esbarrar na tal, tão repudiada, espionagem política?