sexta-feira, 5 de outubro de 2012

JOAQUIM AGUIAR NO CRESPO DAS 9






A EUROPA E O ENDIVIDAMENTO
 
 

Joaquim Aguiar é o que se pode chamar um intelectual de Belém. Sempre que o locatário de Belém não prima pelos seus dotes intelectuais – e intelectuais aqui não tem nada a ver com inteligência, mas antes com a incultura de quem supõe que há, principalmente nas ciências sociais, uns sábios que tornam o Presidente mais respeitável se ele ler os discursos que aqueles intelectuais lhe escreveram - lá está o Joaquim Aguiar em Belém.

Crespo levou Joaquim Aguiar ao jornal das 9 para falar do 5 de Outubro. Joaquim Aguiar aproveitou para falar da Europa e do discurso do Presidente no Pátio da Galé. Então a tese de Joaquim Aguiar é de que os erros que se cometeram são nacionais, exclusivamente nacionais. Todos eles são posteriores a 1995 e até poderiam ter sido praticados pelas melhores razões. E agora tem de ser resolvidos no plano europeu (no plano federal) com a colaboração e o trabalho dos portugueses.

O que nós gostávamos de saber é como em capitalismo, e ainda por cima capitalismo liberal, com total liberalização das transações financeiras e da circulação de bens e serviços, se impede o endividamento desde que os juros sejam baixos. O endividamento, obviamente, de quem não tem excedentes e portanto não tem superávide nas contas externas. Que Joaquim Aguiar cite um exemplo. Um apenas.
Além de que essa tese peregrina de que foi o Estado que se endividou excessivamente é, no contexto europeu, falsa. A dívida europeia de quem está em dificuldades é (ou começa por ser) fundamentalmente uma dívida privada. A Espanha e a Irlanda tinham superávide orçamental e uma dívida pública que nem sequer atingia, percentualmente, metade do máximo permitido pelos critérios de Maastricht. Hoje é o que se conheece porque o Estado teve de salvar os Bancos, que, pelos vistos, não podem falir, embora os lucros revertam integralmente para os seus accionistas. Portanto, socialização dos prejuízos, privatização dos lucros.

Aliás, Joaquim Aguiar deveria saber que uma das razões que Cavaco Silva, como Primeiro Ministro, mais valorizava no processo de adesão à moeda única era Portugal passar a pagar juros semelhantes aos da Holanda (Miguel Beleza, dixit). E por aqui também se vê como são clarividentes os nossos economistas do establishment.

12 comentários:

Anónimo disse...

Em geral a tese de "desculpabilização" dos devedores é entendível, mas, como se sabe, no sistema capitalista, quem pede e quem empresta corre riscos:incobrabilidade e falência. Ora o que os portugueses esqueceram, parece-me, foi essa consequência. A singularidade da situação é que os falidos comungam da mesma moeda dos superavitários.

Mas há uma coisa que a tese do autor não explica ou eu não entendo: porque é que os do Norte, que também dispunham de créditos a taxas baixas, aliás já delas gozavam antes, foram, individual e colectivamente, mais prudentes?
Não me esqueço que, já uma década atrás, um tipo da classe média alemã tinha mais dificuldade em adquirir uma casa que o equivalente em Portugal e eram, pelo que pude observar, muito mais comedidos na quantidade e qualidade de casas que adquiriam!
Quem diz casas poderia dizer muitos outros tipos de gastos.
lg

JM Correia Pinto disse...

Quem comanda o crédito são os bancos, não os consumidores nem mesmo os investidores. Quem contraiu as dívidas no Sul foram os bancos para financiar o investimento, principalmente no domínio das obras públicas e do imobiliário. E os Estados também, mas em muito menor medida.
Por outro lado, o que pesa nas dívidas de que estamos a falar é o saldo de conta corrente. Se o saldo for positivo as dívidas não pesam para o efeito em vista. Se for negativo, pesam e muito. No Norte, a diferença entre as dívidas contraídas e os créditos concedidos era e é francamente positivo.
Os alemães não compraram tantas casas como os portugueses porque os bancos tinham outra estratégia. Dito de outra maneira: tinham outras áreas de negócio muito mais lucrativas. O recurso ao imobiliário é sempre o recurso de quem está a perder ou já perdeu ccompetetividade. Quem pode ganhar sustentadamente mais dinheiro noutras áreas não vai por aí.
Agora, resta sempre a velha questão: há uns que são ricos e outros que são pobres ou para não parecer tão radical: há sempre quem tenha mais dinheiro e quem tenha menos. Mas isso já talvez seja uma questão filosófica. Não o ter mais e o ter menos, mas por que razão uns tem mais e outros têm menos.
Por outro lado, é bom não esquecer que a Alemanha se endividou - e muito - para fazer a reunificação. Mas como apesar disso continuava a comandar a política monetária (antes do euro) pôde sempre estabelecer as taxas de juro que lhe eram mais favoráveis e obrigar os outros a alinhar a política monetária pela sua. Em consequência desse endividamento que se manteve depois da adopção da moeda única, incumpriu os critérios de Maastricht. Saiu dele (do grande endividamento e do défice) por duas vias: por um lado pelo crescimento exponencial das suas exportações para a zona euro; por outro, pela baixa generalizada das taxas de juro - o que lhe permitiu substituir oa antigos empréstimos por outros contraídos em condições muito mais favoráveis.
Isto está um pouco desordenado, mas o que importa sublinhar é que na macroeconomia não operações económicas unilaterais ou seja de efeitos repercutidos apenas sobre um dos lados. "Os meus gastos são os teus ingressos" e assim sucessivamente...
O que eu quero desde há muito dizer é que é anticientífico analisar os fenómenos económicos com base em padrões morais. Nem mesmo o Tratado de Versalhes deve ser analisado assim...e todavia...

Anónimo disse...

Dr. JM C. Pinto.

Sem querer ocupar-lhe aqui muito espaço e tempo, sempre lhe direi que me parece certa a sua "explicação", sabe-se quem comanda as escolhas na política do crédito. Aliás, basta lembrarmo-nos, aos que aqui vivíamos nos anos 90, do que foi a prática dos bancos, estiveram-se borrifando para as consequências da sua acção, aliás há boas explanações, iclusivé filmes, dessa espiral especulativa .
Mas, descendo aspectos e a niveis mais terra a terra tenho realmente dificuldade em perceber o que ia na cabeça dos responsáveis pelo endividamento; nunca se questionaram sobre a inviabilidade de um recurso ilimitado, no tempo e na quantidade, ao crédito, sobretudo externo, não havia limites? Depois, o Capitalismo não explica a sistemática irracionalidade na utilização dos recursos( não vale a pena desfiar o rosário, estádios etc etc etc). O Capitalismo também não explica, por exemplo, o desinteresse dos portugueses pela coisa pública revelador(?) de um congénito egoísmo ou de uma indisfarçável incultura(o dr Vital Moreira tem uma explicação mais "técnica" para esse comportamento). Ora, sabemos que nem todos os povos se relacionam dessa maneira com o seu Governo e com o seu Estado.
lg

JM Correia Pinto disse...

Meu Caro lg
Certamente que os povos não são todos iguais. Mas não creio que haja uma “ciência económica” para os países do Sul e outra para os do Norte. Quando os americanos começaram a estudar os ciclos económicos, a famosa Escola de Viena não acreditou nos resultados obtidos a partir de dados empíricos. Mas depois não teve outro remédio senão render-se aos factos.
E o que nós hoje sabemos bem – falando apenas de situações ocorridas depois da II Guerra Mundial - pelos exemplos da África e da América Latina é que o dinheiro barato provoca endividamento. E quando a torrente financeira por qualquer motivo estanca acontece sempre o que está a acontecer aqui. Agravado pela existência de uma moeda única com circulação em economias muito desiguais. Não se trata de haver regiões ricas e regiões pobres nas quais circula a mesma moeda (isso acontece nos EUA desde a sua fundação até hoje). Trata-se de haver várias economias. E isso é que torna a moeda inviável….como se verá.

jvcosta disse...

Esta discussão está muito interessante. Permitam-me lembrar também uma coisa. No nosso endividamento privado, principalmente o das famílias, nem tudo foi jogo financeiro "objetivo". As pessoas foram sujeitas a enormes pressões de marketing, de construção de imagem de sucesso, enfim de manipulação. E isto teve um claro responsável: a banca a criar uma enorme bolha de crédito.

Outro fator de grande importância, e de agravamento de crise, foi que, a seguir a uma situação prolongada de crédito barato e afluxo de capitais, houve a mudança súbita, com refluxo. Foi o que se passou com o capital do norte, causando a atual descapitalização da banca portuguesa.

Com o dogma da imprescindibilidade da banca a qualquer preço e com a política de privatização dos lucros e nacionalização dos prejuízos, quem é que depois paga tudo isto? Escusado dizer!

L. Rodrigues disse...

A acrescentar às diferenças locais, podemos talvez considerar as leis dos solos. Ao que sei na Holanda, por exemplo, as mais valias decorrentes da requalificação de solos revertem inteiramente para o estado.

Cá, a mais valia reverte para o proprietário, o que proporcionou vastos esquemas de compadrio e especulação envolvendo bancos, construtores e autarcas...

Ao que li, 70% da divida privada portuguesa teve origem neste tipo de operação...

Um autor que se tem debruçado com profundiade sobre este assunto é Pedro Bingre do Amaral:

http://ambio.blogspot.pt/2005/11/caos-urbanstico-em-portugal-escolha.html

JM Correia Pinto disse...

Obrigado pelos comentários.
Respondendo a JCV
Estou de acordo contigo, mas falta ainda dizer que mesmo os que não devem nada, os que não têm dívidas de nenhuma espécie, também concorrem, pelo menos uma parte deles, para o agravamento da dívida em consequência da sua actividade económica numa economia completamente aberta.
E como quem ganha mais muito provavelmente contribui em maior medida para o agravamento da dívida talvez se possa dizer, mas num sentido completamente diferente do habitual, que essa é a principal razão por que "vivemos acima das nossas possibilidades".

JM Correia Pinto disse...

JVC desculpa ter alterado a ordem das iniciais. Aqui a ordem dos factores não é arbitrária...

Anónimo disse...

Um dos mais brilhantes comentadores portugueses. João Teixeira.

Unknown disse...

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