A “IMPLOSÃO DO NEOLIBERALISMO”
Mário Soares interveio ontem com muita vivacidade nos Prós e Contras. Vê-se que está animado e esperançado com o futuro do mundo. Principalmente, com as mudanças que podem chegar da América. Relativamente à Europa e aos europeus, mantém o cepticismo que nos últimos anos o tem acompanhado.
No essencial, toda a gente que pugna pelo progresso da humanidade estará de acordo com este ponto de vista. Obama suscita muita mais esperança do que qualquer político europeu.
Daqui para a frente é que surgem as diferenças. Soares agora, como sempre durante toda a sua vida política, continua a acreditar que as grandes mudanças decorrem da chegada ao poder de homens excepcionais. Evidentemente, que é preferível ter na governação gente excepcional, clarividente, ousada, sinceramente dedicada e devotada à comunidade do que políticos de vistas estreitas, receosos, que passam o dia fazer contas como se estivessem a governar a cozinha de uma casa. Mas daí a supor-se que as grandes mudanças decorrem deles, vai uma grande diferença.
É preciso muito mais do que isso. É preciso que haja movimentos sociais poderosos, sejam eles estimulados por quem governa, ou destinados a estimular quem governa, para que as verdadeiras mudanças realmente ocorram. E isso é o que infelizmente se não vê. O que se vê é a tentativa de saída da crise por aqueles mesmos que a geraram. O que se vê é a tentativa de restaurar o sistema o mais rapidamente possível, sem curar das causas profundas que estão na origem da crise que o afecta.
É por isso muito precipitado dizer que nestes últimos vinte anos assistimos à implosão do comunismo e do neoliberalismo. Ou que assistimos à queda de dois muros: ao de Berlim e ao da rua do muro (Wall Street).
Realmente, o neoliberalismo não implodiu, nem as medidas que eventualmente venham a ser tomadas na sequência do G20 ou pelas principais potências económicas têm em vista acabar com o neoliberalismo. Elas destinam-se apenas a retocar alguns dos aspectos mais grosseiros do capitalismo actual.
Fala-se de regulamentação, por exemplo. Mas quando se fala de regulamentação não estamos todos a falar do mesmo. A regulamentação que porventura será posta em prática (se for…) irá muito provavelmente dizer respeito aos bancos de investimento, que na América passaram a desempenhar uma actividade, não regulada, semelhante à dos bancos comerciais. E talvez também a um maior controlo dos produtos financeiros, nomeadamente dos derivados. E nada mais do que isto.
E quando se fala de off shores também não estamos todos a falar da mesma coisa. O mais que se poderá avançar é no sentido da identificação da proveniência dos fundos e da sua movimentação. Ou seja, resolver (se se resolver) alguns problemas do foro criminal ou fiscal.
Quanto ao mais, o capitalismo financeiro e a liberalização do mercado de capitais, logo que se recupere da crise, continuarão a existir com a mesma pujança e com a mesma capacidade especulativa de agora. E que ninguém se esqueça: o capitalismo financeiro é que é o verdadeiro sangue arterial do neoliberalismo!
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