sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A CAMPANHA ELEITORAL APROXIMA-SE DO FIM



DOMINGO VOLTAREMOS A FALAR DE ELEIÇÕES…ENTRETANTO

Entretanto, o que mais me choca nesta campanha é o comentário em uníssono da maior parte dos comentadores sobre a desgraça de uma vitória por maioria relativa. É certo que alguns o dizem por estratégia eleitoral. Querem assustar os eleitores pré-anunciando o caos com vista a, num último esforço, desviarem o sentido do voto, apelando a uma espécie de voto racional contra aquilo a que deixam subentendido ser o voto emocional ou até irresponsável.
Curiosamente um dos maiores apóstolos da desgraça do nosso país, António Barreto, não obstante manter todo o seu habitual pessimismo, o título do artigo não engana: “Desastre iminente” (para quem é professor e tem por missão formar gerações futuras, admito que este permanente estado de espírito e esta atitude constituam uma terrível frustração), vem desta vez dizer que se impõe uma coligação.
Ao defender e aceitar a coligação, pelo menos, e ao contrário de quase todos, vem dizer que é possível governar em coligação. O que nos separa, todavia, na aceitação do princípio da coligação é que ele a advoga em nome da estabilidade governativa. Ora, está provado que não é a maioria absoluta, nem tão-pouco a coligação com maioria no Parlamento que asseguram a estabilidade governativa. O que assegura a estabilidade governativa é a política do governo. E somente neste sentido estaria correcto afirmar que a coligação proporciona à partida uma maior probabilidade de estabilidade governativa por, em princípio, proporcionar uma política susceptível de maior aceitação popular.
Pode até acontecer que o Partido Socialista no domingo à noite, ou depois de contados os votos do estrangeiro, esteja numa situação única e ímpar na democracia portuguesa. A avaliar pelo que dizem as sondagens, pode dar-se o caso de o PS poder fazer maioria no parlamento com qualquer outro partido. Se tal vier a acontecer, o pior erro que o Partido Socialista poderia cometer seria formar um governo minoritário e deixar-se tentar por uma espécie de “queijo limiano” a la carte.
O governo seria, nestas circunstâncias, efémero, não obstante as limitações legais (temporais) de dissolução, nefasto para a esquerda em geral tanto do ponto de vista da eleição presidencial, como das próximas legislativas e perigoso para a própria democracia.
A democracia política apenas sairá favorecida se em Portugal se criar o hábito da formação de coligações, ou seja, se o PS deixar de ser um partido incapaz de se entender à sua esquerda, já que, do outro lado do espectro político, a direita nunca hesitou na formação de coligações sempre que delas necessitou e dispôs dos meios necessários para as pôr em prática e o próprio PS também já as fez tanto com o CDS como com o PSD.
Mas não é com a ideia de que o PS faça uma coligação com a esquerda que eu defendo as coligações. Defendo as coligações porque elas são clarificadoras e porque, pelo menos em teoria, fornecem condições para um governo mais aceitável do que um governo minoritário monopartidário. O PS pode e deve escolher um parceiro para governar. Se escolher um parceiro à sua direita e a principal dificuldade da formação da coligação residir na divisão das pastas, como muito provavelmente aconteceria, e não tanto no programa de governo, ela estaria à partida condenada, qualquer que fosse a base numérica do seu apoio. Se porventura escolhesse um parceiro à sua esquerda, toda a negociação incidiria seguramente sobre as políticas. Uma coligação com a direita que subalternize as políticas e privilegie os lugares é, em princípio, uma falsa coligação e estará, como se disse, condenada ao fracasso. Somente uma coligação que assente numa negociação sobre políticas tem condições de sobrevivência.
É natural que haja dentro do PS muitas objecções à ideia das coligações, não tanto pelo resultado da governação que delas saísse, como pela imagem que elas criavam. O PS necessita de manter no imaginário dos seus eleitores a convicção de que ocupa um lugar ímpar no espectro político português – o partido da”esquerda possível”.
Veremos, nos próximos dias, como vai actuar o PS. Se, mais uma vez vai tentar governar sozinho, mesmo sabendo que isso o arrasta para um abismo donde não sairá tão cedo, ou se cede aos sibilinos cantos de sereia do CDS…

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Correia Pinto:
Diz que o PS deve deixar de se mostrar incapaz de se entender à esquerda. Acontece que à esquerda se situam forças que, sobre pontos essenciais, têm perspectivas opostas às do PS, por resultarem, no fundo, ainda de uma matriz revolucionária. Para mais, o BE, por exemplo, deu mostras de que nem numa autarquia (como a de Lisboa)é capaz de fazer os compromissos necessários. A nível nacional, só o vejo a aceitar coligar-se na base das suas políticas, apesar de representar apenas, na melhor das hipóteses, pouco mais de 10 por cento da população portuguesa. Para além disso, a coligação PS-BE seria desastrosa para a coesão interna de qualquer dos dois partidos. Duraria meses e abriria a porta ao domínio da direita por vários anos. O que se me parece impor é um trabalho de aproximação de posições, através de acordos pontuais(mas não sei se mesmo isso se mostrará viável). Para mais, grande parte do eleitorado socialista é contra um governo de coligação com esta esquerda, não me parecendo de boa ética passar por cima desse "pormenor".Por último,é de ter em conta o verdadeiro ódio que os círculos dirigentes do BE votam a este PS, sonhando com outro, moldado à medida dos seus desejos(como também acontece no PC).Tais são os factos:esquecê-los é preparar o desastre.