sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O CERCO A ZAPATERO CONTINUA

CONVERGÊNCIA OBJECTIVA DE SECTORES DO PSOE, OU PRÓXIMOS, COM A DIREITA REACCIONÁRIA

Zapatero disse e fez aquilo que nenhum outro social-democrata do nosso tempo ousou dizer e muito menos fazer.
A crise não foi provocada pelos trabalhadores, não tem a sua origem em reivindicações irrealistas, nem em greves, nem em nenhum tipo de contestação que lhes possa ser imputada. A crise tem a sua origem na ganância e na desregulamentação do capital financeiro. Por isso, no meu governo não vão ser os trabalhadores a pagar a crise, disse Zapatero por estas ou outras palavras.
Enquanto este discurso não passava disto mesmo, de um discurso com apoios sociais aos que iam ficando desempregados e aos que entretanto iam perdendo o subsídio de desemprego, bem como de uma devolução universal e indiscriminada de 400 euros a cada contribuinte, a hostilidade à sua política pouco se fez sentir, com excepção dos habituais ataques do PP. Mas quando passou das palavras aos actos e se negou a flexibilizar as relações de trabalho, como insistentemente vem sendo exigido pelo Governador do Banco de Espanha, e quando agora se prepara para apresentar um orçamento que dê corpo àqueles princípios, agravando a situação fiscal dos que mais têm para poder continuar a ajudar os que têm menos, as críticas não se fizeram esperar e começaram a abater-se sobre ele com toda a violência.
Não são apenas as críticas da direita reaccionária representada pelo PP, com ou sem Aznar, nem as daqueles que rejeitando a lei da memória histórica e tudo o que ela representa, bem como todas as medidas adoptadas em defesa do princípio da laicidade do Estado, como a hierarquia da Igreja e todos os que lhe são próprios – que aproveitaram este momento de dificuldades para acirrarem a contestação ao governo -, é também a crítica de sectores que teoricamente lhe são próximos.
É a crítica antes de mais do El País, em rota de conflito com Zapatero desde que este não deu à Prisa aquilo que ela queria na televisão digital terrestre, mas é também a crítica cada vez menos velada de alguns “camaradas” de partido sobejamente conhecidos pelas suas ligações aos grandes interesses.
Dizem que o governo está à deriva, que o Presidente do Governo muda frequentemente de posição, que velhos socialistas o estão a abandonar e que outros o farão em breve. Tudo isto para criar na opinião pública um estado de incerteza e de insegurança, martelando frequentemente as mesmas ideias para criar um clima de desprestígio ao governo. As críticas dos ditos sectores socialistas começam a ser tão repetidas e propositadamente tão distanciadas das posições de Zapatero que dificilmente podem deixar de ser encaradas como um apelo velado a eleições antecipadas.
As dificuldades de Zapatero não resultam verdadeiramente da praticabilidade da sua política fiscal, já que ele recolheria com facilidade os apoios parlamentares necessários para a aprovar, mas dos crónicos problemas territoriais com que a Espanha se debate, como é presentemente o caso do Estatuto da Catalunha. Zapatero, mesmo que concorde, não pode dizer o que dizem os nacionalistas catalães e o próprio Partido Socialista da Catalunha e também algumas personalidades progressistas espanholas, inclusive ligadas ao PSOE, sobre a falta de competência Tribunal Constitucional para se pronunciar sobre o Estatuto da Catalunha e, como não pode, dificilmente conseguirá alianças com os partidos da Catalunha enquanto não for conhecida a decisão daquele Tribunal. Alianças que noutras circunstâncias conseguiria com relativa facilidade e poucos custos políticos.
Neste emaranhado da política espanhola, de crise económica generalizada e de crispação nas relações com a Catalunha, sectores afectos ao PSOE ou do próprio PSOE atacam o Presidente do Governo deixando claro com a sua conduta que para a defesa dos interesses que os movem não hesitam em fragilizar ainda mais a defesa da própria hispanidade em que igualmente estão empenhados.
Mas o que se passa em Espanha, com Zapatero, é também o exemplo vivo das limitações de um partido social-democrata do nosso tempo!

1 comentário:

Anónimo disse...

Falta de competência do TC? Não conheço nada do edifício juridico-constitucional da Espanha. No entanto, recordo que esse TC foi "competente" para julgar a intenção do independentistas bascos de realizar um referendo "soberanista". É curiosa a posição da esquerda, por exemplo do BE, sobre o nacionalismo na Espanha, esquecendo que entre os grupos bascos se cultivam ideias de superioridade baseada no puro-sangue basco e se defende a expulsão do "gentios". Sim, li isto, por estas ou outras palavras, no jornal Egin(?). Esta posição faz lembrar ou interrogar-mo-nos sobre o que leva pessoas como M.Portas ( por exemplo) a deslumbrarem-se com a gesta revolucionaria de Imãs, Ayatohlas e quejandos os quais não têm o mínimo rebuço em fazer explodir crianças deixando para elas (crianças) e outros o privilégio do martírio e das virgens contentando-se com os haréns bem menos viçosos . São, de facto, insondáveis os labirintos da mente humana.