sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

GARCIA LORCA: OS RESTOS MORTAIS DO POETA NÃO ESTÃO EM ALFACAR



IAN GIBSON DESTROÇADO

A Junta de Andaluzia dá por assente, depois de 51 dias de escavações, que os restos mortais de Garcia Lorca não estão em Alfacar, povoação situada 9 km a nordeste de Granada.
Os terrenos onde hoje se situa o Parque Garcia Lorca foram comprados pela autarquia a seguir à instauração da democracia em Espanha, por se supor, de acordo com as investigações então existentes, que lá se encontrava enterrado Federico Garcia Lorca. Era uma forma de homenagear o grande Poeta espanhol do séc. XX, subtraindo esses terrenos à mais que certa especulação imobiliária. Por outro lado, é certo que, não muito longe daquele local, ocorreu o fuzilamento que além de Lorca vitimou os bandarilheiros Francisco Galadi e Joaquim Arcollas, e o maestro Dióscoro Galindo.
A família de Garcia Lorca sempre se opôs às escavações. Aquele era o local onde simbolicamente o poeta tinha sido enterrado e assim deveria continuar pelos tempos fora. Mas na família dos toureiros havia promessas feitas, na hora da morte, aos filhos dos que morreram fuzilados de que todos os esforços seriam feitos para encontrar os restos mortais das vítimas dos fuzilamentos de 18 de Agosto de 1936.
Ian Gibson, por seu turno, tendo dedicado grande parte da sua vida ao estudo de Lorca, acreditava piamente que o Poeta estava enterrado em Alfacar, no local que lhe tinha sido indicado por Manuel Castilla, Manolillo, el Comunista. Ainda ontem, numa entrevista que concedeu em Espanha, Gibson afirmou que se sentia destroçado por as escavações não terem tido qualquer êxito e continuava a acreditar na veracidade das informações prestadas por Castilla, por este não ter qualquer interesse, passados 30 anos (as informações são de 1966), em lhe mentir.
Este desconhecimento dos povos mediterrânicos é que está na origem de uma tese assente num testemunho que, segundo agora se afirma, depois de novas investigações, não tinha qualquer credibilidade, tanto mais que o dito Castilla nem sequer terá participado na inumação de Lorca.
Depois do insucesso das escavações de Alfacar, duas hipóteses se põem como mais prováveis: uma, a de que o pai de Garcia Lorca, tendo sido informado do local onde enterraram o filho, teria exumado o corpo e sepultado noutro local; outra, a de que as autoridades franquistas, depois de várias pressões externas com vista à investigação das circunstâncias e dos autores da morte de Loca, teriam feito desaparecer o corpo.
Enfim, razão tinha a família do Poeta: Deixar os restos mortais em paz e celebrar a sua memória na leitura dos mais belos poemas que alguma vez se escreveram na língua castelhana!

2 comentários:

jvcosta disse...

Federico está sepultado no cérebro dos muitos milhões de pessoas que ainda se continuam a maravilhar com a sua poesia.

Anónimo disse...

pitchougToureiros é gente de coragem mas supersticiosa.
Eu há muito que desmaterializei (como agora se diz)a homenagem, a saudade (muito portuguesa)o amor ou a consideração aos mortos. Como diz o JVC Federico dá-nos vida na nossa Memória. Llanto por Ignacio Sánchez Mejías, Romance de la luna, La zapatera prodigiosa, Bodas de sangre, Yerma y Doña Rosita la soltera...
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