AS PRÓXIMAS PRIMÁRIAS
São cada vez mais ténues as hipóteses de Barack Obama obter a nomeação do Partido Democrático, na Convenção Nacional de Denver, a 25 de Agosto. Os factos ainda não apontam nesse sentido, mas o clima já é esse. Ontem foi um dia fatídico para Obama: o pastor Jeremiah Wright não podia ter escolhido pior oportunidade para falar sobre o seu apostolado. Numa altura em que Obama estava fragilizado pela derrota na Pensilvânia, as declarações do pastor, a que justa ou injustamente o eleitorado o considera ideologicamente ligado, caíram como sopa no mel para os adversários do senador de Illinois. Bem pode Obama dizer que se sente horrorizado com o que ouviu e que rejeita em absoluto as opiniões do pastor. Para o eleitor médio do Partido Democrático, está, no mínimo, instalada a dúvida. E é natural que outros sectores do partido comecem a reequacionar as consequências do apoio a um candidato hipotética ou potencialmente perdedor.
Obama tem ainda uma hipótese de reverter a situação, ganhando, no dia 6, em Indiana, um estado com peso operário, não obstante ter dado a vitória ao candidato republicano nas últimas eleições. As sondagens dão-no com uma ligeira vantagem relativamente a H. Clinton, mas como se trata de um estado com voto livre, tudo pode ainda acontecer.
Na Carolina do Norte, Obama continua à frente, com uma vantagem confortável, não obstante o governador, Mike Easley, ter ontem assegurado o seu apoio a Hillary. Mesmo assim, Obama mantém neste estado uma vantagem razoável entre os superdelegados (6 contra 2).
As sondagens dizem também que dois em cada três apoiantes de Hillary não votarão em Obama se ele for o nomeado. Estes dados podem ainda alterar-se, embora sejam reveladores do grau de animosidade que a campanha atingiu. Pela própria composição do eleitorado de cada candidato, é perfeitamente natural que os fiéis de H. Clinton sejam muito mais renitentes em conceder o voto a Obama do que os deste a Clinton e esse será mais um factor a pesar negativamente na sua candidatura.
Nos tempos difíceis que ai vem, nada pior poderia acontecer ao mundo do que a rotatividade entre os Bush e os Clinton, na América. Teríamos “mais do mesmo”, sem prejuízo de o “mesmo” não ser idêntico em ambos os casos.
Na Europa, toda a ala atlantista (e natista), da Inglaterra à Itália de Berlusconni, passando pelo bloco central português de obediência americana, até aos aspirantes a “protectorados respeitados e respeitáveis” do leste europeu, suspira por uma vitória de Clinton. Nada mais tranquilo de que aquilo a que Guterres chamava a “hegemonia benigna”, que os Clinton certamente assegurariam.
Na América, com os Clinton no poder, nada de verdadeiramente diferente se passaria. Apenas mais impostos para os ricos, que Bush obscenamente isentou, e mais saúde para os pobres. Tudo o resto continuaria na mesma: Wall Street continuaria a especular e o contribuinte americano a pagar os prejuízos sempre que a crise acender a luz vermelha. Na reserva federal e na secretaria do tesouro continuariam a mandar os representantes do grande capital financeiro, no comércio, os representantes das grandes empresas americanas, na defesa, um homem da confiança do complexo militar-industrial e nas relações externas, alguém capaz de entoar uma música audível por europeus ansiosos de participar no concerto…
E o mundo continuaria cada vez mais perigoso!
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