segunda-feira, 14 de setembro de 2009

AS REPERCUSSÕES EM ESPANHA DAS DECLARAÇÕES DE MF LEITE


UM MAL DISFARÇADO COMPLEXO DE INFERIORIDADE

Como seria de esperar as declarações de MF Leite sobre a alegada interferência espanhola na construção da linha do TGV em Portugal tiveram amplas repercussões em Espanha. Com efeito, a Presidente do PSD depois de ter acusado Sócrates, ou os seus camaradas, de andar a promover manifestações transfronteiriças com os espanhóis, rematou dizendo que não queria ver os espanhóis a tratar dos assuntos de Portugal e que Portugal não era uma província espanhola (provavelmente deveria querer dizer região, mas dada a sua relação com a língua portuguesa e o seu conhecimento da organização político-administrativa de Espanha, mais vale citá-la textualmente, sem correcções).
Reagiu o governo espanhol por intermédio do Ministro do Fomento, lembrando os acordos assinados, e reagiram os media, embora sem grandes considerações, salvo as que o contexto permite retirar.
E o que o contexto do discurso de MFL permite concluir é um muito mal disfarçado complexo de inferioridade em relação a Espanha, um anti-espanholismo primário, típico da direita portuguesa mais retrógrada. Esse anti-espanholismo, aliás, esteve hegemonicamente presente na diplomacia portuguesa muitos e muitos anos depois do 25 de Abril, tendo-se atenuado ultimamente por acção de alguns governantes e por força da participação dos dois países, desde há cerca de duas décadas, em duas organizações internacionais onde, frequentemente, têm que fazer convergir as suas políticas.
A última coisa que um político português, moderno, sem complexos, se lembraria de dizer, principalmente num tempo em que a Espanha se debate com gravíssimos problemas territoriais na Catalunha e no País Vasco, é que “Portugal não é uma província de Espanha”. Infelizmente, esta nossa “padeira de Aljubarrota” só se lembrou de levantar a “” contra os espanhóis quando eles já “estavam muito longe” e seguros dos compromissos assumidos. Se ela tem em tão grande conta a defesa dos interesses portugueses contra os espanhóis, então, em vez de andar a assinar acordos para a construção de uma linha de TGV, de ligação à Europa, por Badajoz, deveria era nessa altura ter pugnado por uma ligação por Vilar Formoso (Salamanca e por aí fora) que, essa sim, é ligação natural de Portugal à Espanha e à Europa.
Mas o que se pode esperar de uma "padeira de Aljubarrota" que, no intervalo das batalhas, pertence à administração de um banco de capital maioritariamente espanhol?

1 comentário:

Ana Paula Fitas disse...

Caro JM Correia Pinto,
Não resisto a fazer link deste texto no "Leituras Cruzadas" do A Nossa Candeia(com a indicação devidamente actualizada)... Escelente... e delicious! Obrigado.
Um abraço,
Ana Paula