quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SONDAGENS

O QUE SE PODE ESPERAR

As sondagens hoje publicadas confirmam uma subida acentuado do PS relativamente ao PSD, que se afunda ligeiramente. O Bloco aparece em todas as projecções como terceira força política, embora desça relativamente às anteriores. O CDS, como se esperava, sobe e a CDU ou se mantém ou sobe ligeiramente.
A subida do PS é o resultado de uma campanha onde quase tudo saiu bem e de uma campanha adversária onde quase tudo saiu mal. A campanha do PSD, melhor dizendo, a sua estratégia político-eleitoral, parece ter sido gizada por pessoas sem experiência política ou, pior do que isso, sem grande inteligência política (punhamos o adjectivo para amenizar). A intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, em Coimbra, muito festejada por representar o apoio de mais um ex-líder do partido a MFL, não foi analisada nem pelos media, nem dentro do Partido, pelo significado ela realmente teve ou queria ter.
Marcelo foi a Coimbra dizer ao PSD que não se deixasse encostar à direita, que não andasse a esgrimir com fantasmas, que enaltecesse e sublinhasse os contributos do Partido para a institucionalização da democracia em Portugal, que atacasse Sócrates nos pontos politicamente fracos, apresentando com clareza, e de forma simples, as políticas alternativas, e que – muito importante – não deixasse fugir votos para o CDS. Ou seja, o contrário de tudo aquilo que o PSD andava e tem andado a fazer.
Tendo estupidamente embarcado na teoria da “asfixia democrática”, dos elogios a Jardim, na insinuação das escutas, no nacionalismo mais retrógrado, na política do não fazer, nas frases sem conteúdo, apenas apoiadas na “ verdade”e nos famosos “princípios e valores”, sempre desmentidos em cada dia que passava, o PSD cavou a sua própria derrota. Por outro lado, não querendo hostilizar o CDS – como se isso tivesse politicamente algum relevo para a hipótese de uma futura coligação eleitoral, esquecendo-se que em 2002 não houve debate mais violento do que o protagonizado entre Portas e Durão Barroso (que, desde o Independente, odiava politicamente Portas, aliás, como Cavaco) – foi perdendo gradualmente votos, já que nas áreas onde Portas se meteu acabou por ser muito mais eficaz. É até caso para perguntar o que poderia ter acontecido se Portas não tivesse privilegiado os seus habituais "nichos eleitorais de mercado" e tivesse feito uma campanha mais abrangente.
O Bloco começou bem, mas acabou por ser traído pelo debate com Sócrates, pelo seu programa e pelo triunfalismo, que Louçã não só não soube evitar, como até estimulou. Ficará mesmo assim com um bom resultado, mas aquém do que se chegou a supor que poderia alcançar.
Pressentindo esta descida do Bloco e a subida do CDS, nestes últimos dias Portas não se tem cansado de atacar o Bloco, como se estivesse a concorrer com ele no mesmo espaço político. Como obviamente não é isto o que se passa, o que Portas pretende com este seu discurso é continuar a capitalizar votos à direita do PS para poder ombrear ou mesmo superar o Bloco, de forma a tornar-se uma força de peso idêntico à sua no futuro diálogo com o PS. Por outras palavras, Portas, sem o dizer, não põe de parte nenhum cenário…
Com todos os partidos a sublinhar as suas “grandes preocupações sociais”, seria sempre difícil à CDU crescer significativamente para além do seu espaço natural. É natural que vá um pouco além daquilo que as sondagens lhe atribuem, mas o resultado, quanto a deputados, vai depender muito da concentração do voto nos distritos que, em princípio, lhe são mais afectos.
Assim sendo, o PS ganhará por maioria relativa. E não é indiferente, diga-se o que se disser em contrário, que ganhe o PS ou o PSD. Assim como também não é indiferente que o PS ganhe por maioria relativa ou absoluta. Uma eventual vitória do PS por maioria absoluta seria nefasta para a esquerda em geral e para a própria democracia em Portugal. A democracia portuguesa aguentaria muito mal duas legislaturas seguidas com maioria absoluta do mesmo partido. Já se passou por isso com Cavaco Silva e os efeitos dessa situação ainda hoje se fazem sentir no que há de mais negativo na política portuguesa, de que o BPN é apenas um exemplo. Com o PS oito anos seguidos no poder, sem controlos, nem contra-pesos, passar-se-ia rigorosamente o mesmo, como os exemplos da legislatura agora finda eloquentemente demonstram.
A democracia portuguesa precisa de diálogo, de compromisso, de outros rumos político-económicos que somente com o partido mais votado em maioria relativa poderão ser alcançados. Para o PS e principalmente para os seus ideólogos vai ser um exercício muito difícil, mas não há nada como a crua realidade para os fazer entender o que agora ainda não estão em condições de aceitar.

4 comentários:

jvcosta disse...

Estou de acordo. Se o meu voto pesasse decisivamente, certamente não o usaria para fazer com que o PSD fosse o partido mais votado, mas também certamente não para que o PS tivesse novamente maioria absoluta.

É neste aspecto que podemos estar em discordância. Não estou seguro, como dizes, de que o PS não terá maioria absoluta. A evolução das sondagens, em crescendo para o PS à custa do BE, dando-lhe hoje 38%, não excluem a hipótese de uma maioria absoluta.

Mais uma razão para o meu voto, que tenho anunciado: branco.

JMCPinto disse...

Meu Caro JVC

O voto branco não impede em nenhum caso a maioria absoluta. Os votos brancos e nulos não entram em linha de conta para esse efeito. Reflecte, portanto, muito seriamente.
CP

jvcosta disse...

Tens razão, não estava a pensar bem.

Anónimo disse...

Ainda vão ter uma surpresa.
Quando virem o PSD ganhar as eleições vão-se penitenciar, mas será tarde...
Oxalá não!

Cumps

Outeiro