UMA ASSINALÁVEL DIFERENÇA DE TOM
Artur Santos Silva, Presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, esteve hoje na SIC N para falar das comemorações e também da situação do país.
Sobre a situação do país falou sobre o défice, a dívida e os investimentos públicos. Apesar de ter dito o que porventura outros já terão dito, houve na sua intervenção uma clara diferença de tom quando comparada com a da generalidade dos economistas que por lá tem passado.
Em primeiro lugar, é preciso que se diga que Santos Silva não é economista de formação. A sua formação é jurídica e apesar de em Coimbra ter leccionado, como assistente da Faculdade de Direito, cadeiras da valência económica da licenciatura, há sempre uma considerável diferença de estilo entre os juristas e os economistas quando abordam temas económicos.
Santos Silva marcou a diferença entre o défice e a dívida, nomeadamente a externa, facto que os economistas passam frequentemente por alto, lembrando que as medidas para atacar um não produzem efeito na outra. E quanto aos investimentos públicos, recusou-se a concretizar, por não dispor de toda a informação de que necessitaria para opinar, limitando-se a dizer que a situação económica exige que se restrinja o investimento público.
Enfim, o que achei diferente na sua intervenção foi o facto de não ter ostensivamente identificado os destinatários directos das medidas de redução do défice orçamental, da dívida e dos investimentos.
Não admira que Santos Silva, oriundo de uma família de largas tradições democráticas e ele também com passado democrático no tempo da ditadura, tenha abordado aqueles temas com a delicadeza política que eles merecem. Pode dizer-se que o simples facto de não ter apontado os alvos é pouco. Talvez, mas no presente contexto em que há uma clara ofensiva no sentido de fazer pagar a crise aos mais fracos, aquele silêncio não pode deixar de ser interpretado positivamente.
Bem vistas as coisas não é de estranhar, para quem o conhece, que tenha actuado assim. Pertencente a uma certa “aristocracia” burguesa do Porto, comprometida com os valores da democracia e da cidadania, ele está pela sua origem de classe e pela sua formação a léguas desses economistas lacaios do grande capital que diariamente nos debitam, sem qualquer originalidade, as receitas habituais qualquer que seja a situação sob análise.
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