quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O MAIOR FRACASSO DE OBAMA



DUAS MANEIRAS DE ENTENDER A MESMA REALIDADE

Acabei de ler num blogue especializado em política americana que o maior fracasso de Obama foi a sua incapacidade para estabelecer pontes com os Republicanos e com os sectores mais conservadores do Partido Democrata, sendo incapaz de superar um forte bipolarismo sócio-politico que se verifica na América.
Deixando de parte a relativa incoerência da afirmação, o maior fracasso de Obama parece exactamente ter residido nessa sua utópica obsessão de procurar conciliar o essencial das suas promessas eleitorais com o programa político do Partido Republicano e não ter sido capaz unir o Partido Democrata em torno de um programa progressista mais audaz e, principalmente, executado com mais prontidão.
Durante a campanha eleitoral, Obama, não obstante a sua brilhante inteligência, já havia deixado alguns indícios de que não tinha compreendido muito bem o que se tinha passado na América desde 1980, embora verdadeiramente o começo da grande viragem tenha começado bastante mais atrás, no tempo de Johnson, quando os democratas perderam definitivamente o sul e os neoconservadores iniciaram um processo de conquista do Partido Republicano e depois do Poder, que se iniciou com Reagan, se consolidou nas presidências subsequentes, Clinton incluída, e atingiu o apogeu com Bush/Cheney.
Durante a campanha eleitoral, Obama frequentemente aludiu à superação do bipartidarismo, apontando Washington como uma espécie de encarnação do mal, e chegou a referir-se a Reagan, como um exemplo a seguir para se alcançar a unidade do povo americano. Um exemplo sem sentido e até obsceno para um afro-americano, já que a famosa “união” conseguida por Reagan foi em grande medida a união do homem branco (WASP) contra os “preguiçosos” dos guetos raciais, dos latino-americanos, dos sindicalizados, dos emigrantes, enfim, foi a “união” de todos aqueles que estavam predispostos a aceitar a ideia de que os seus impostos só serviam para alimentar o despesismo do governo que gastava em programas sociais o que devia ser alcançado pelo trabalho de cada um!
Talvez porque nunca tenha vivido noutra época, talvez por não ter um conhecimento profundo do que foi a América de Roosevelt a Lyndon Johnson, talvez por sobrestimar as suas capacidades de conciliador, Obama escolheu como modelo um paradigma inaplicável à sua governação. A conciliação com os republicanos, estando em maioria qualificada no Congresso (Senado e Câmara dos Representantes), como esteve até ontem, foi um erro que ele pagará bem caro.
O partido republicano é hoje um partido monolítico de direita que não admite heterodoxias dentro das suas fileiras, como o comprovam os estudos de ciência política, quanto mais acordos de regime com os “radicais de esquerda”. Apesar da ampla liberdade partidária de que gozam os senadores e congressistas (deputados) americanos, os estudos das votações nas duas Câmaras demonstram que, desde 1980, praticamente não há senadores nem deputados republicanos a votar à esquerda da votação do senador ou deputado mais à direita do Partido democrata. Uma ou outra excepção que possa existir respeita a individualidades que, pelo seu poder económico ou pelo seu excepcional prestígio político, conseguiram sobreviver, nas primárias, aos elevados financiamentos com que as fundações neoconservadoras brindavam os seus apoiantes. E quem no Congresso fugisse à linha, e não estivesse no tal lote restritíssimo de personalidades capazes de sobreviver por si, já sabia que na próxima eleição não contaria com “as forças vivas” do partido para se reeleger.
Perante um panorama desta natureza, que Obama não podia desconhecer, tentar encontrar aliados do lado republicano ou procurar conciliar com ele em vez de se empenhar em unir os eleitos do Partido Democrata à volta de um programa que desse satisfação às promessas eleitorais acabou por se tornar numa debilidade e até num factor de descrédito do Presidente. Ele perde o apoio dos seus e não ganha o apoio nem o respeito dos adversários. Esse sim, o grande fracasso de Obama!

2 comentários:

Raimundo Narciso disse...

Mas quem me manda a mim vir aqui ler-te andas de escrever o post sobre o Obama. Agora tenho de ver se o que escrever parece diferente. É a vida, dizia o Guterres, e acrescentava, há coisas pior que o PS.

Raimundo Narciso disse...

Errata: ao comentário anterior. "antes" em vez de "andas".