sexta-feira, 12 de março de 2010

ALEMANHA MOSTRA O JOGO



JÁ SE ESPERAVA

Depois de tudo o que na Alemanha se disse a propósito da crise grega, nos jornais, nas televisões, nos partidos e das “soluções” que foram aventadas para a superar, não é de estranhar a posição hoje defendida no Financial Times pelo Ministro das Finanças alemão.
Wolfgang Schauble advoga a saída do euro dos países que não consigam consolidar ou reestruturar a sua economia. “Se um país membro da zona euro, no limite, não conseguir consolidar o seu orçamento ou restaurar a sua competitividade, este país, deve, como solução de último recurso, sair da zona euro, embora mantendo-se como membro da União Europeia”, diz o Ministro.
Segundo o Ministro, esta pode ser a melhor solução, tanto mais que um país cujas finanças estão em convulsão não deve participar em decisões relativas às finanças de outro membro. O Ministro não é contrário á criação de um Fundo Monetário Europeu, mas depreende-se das suas palavras que tal fundo teria condições ainda mais rigorosas do que as do FMI. E admite expressamente a possibilidade de um Estado falir.
Não vale a pena esgrimir argumentos económicos nem fazer analogias com outras situações ocorridas no passado. O problema é exclusivamente político e esta tomada de posição favorecida pela crise grega vinha desde há muito sendo anunciada e não constituiu surpresa para quem segue os aspectos mais relevantes da política europeia da Alemanha.
Como se verá mais tarde, a questão que agora começa a ser discutida é bem mais complexa do que possa parecer. Insistindo a Alemanha no equilíbrio orçamental quase absoluto, como já consta da sua Lei Fundamental, mantendo a exigência de níveis baixíssimos de dívida, esta problemática acabará por atingir a própria França que está muito longe de nos tempos mais próximos poder acompanhar tais exigências.
Vinte anos depois da Queda do Muro, da Reunificação e da desagregação da União Soviética a Alemanha “autonomizou-se” e já pôs um ponto final na derrota de 45, com uma pequena excepção para os assuntos relacionados com a questão judaica. Até onde poderá ir a Alemanha é a grande interrogação. Convém estar atento às reacções de Paris a este artigo do Financial Times. Não tanto às de Sarkozy, que é volátil e demasiado hiperactivo para ser levado completamente a sério, mas antes às reacções daquilo a que se poderia chamar o “gaullismo” francês. Como sempre, desde Bismark, a Alemanha vai até onde a deixarem ir. Só que desta vez, nestas guerras modernas, económico-financeiras, haverá menos aliados contra ela e nem será de estranhar que o mundo anglo-saxão a apoie…

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei mas penso que o Estado alemão tem a designação de República Federal. Portanto da antiga e "boazinha" sempre com o livro de cheques na mesa, RFA, resta a sigla. O primeiro sinal da sua crescentemente reclamada "normalidade" deve ter sido o reconhecimento da Croácia.

Anónimo disse...

Não me surpreendem, nem a posição da República Federal Alemã, nem as reclamações contra ela mediante a agitação de fantasmas do passado. As Comunidades de que nasceu a construção da União Europeia nasceram da conveniência de "vencedores" e da sujeição da vencida, num contexto da oposição dos blocos. Décadas andou a RFA de livro de cheques no bolso a pagar a PAC, que a tanto se reduzia o essencial da economia para que os Euro-Cidadãos, as Euro-mercadorias e os Euro-capitais circulassem no coração dessa Europa pequenina dos grandes, política ou economicamente.
O primeiro alargamento foi a semente daquilo em que a Comunidade se iria tornar, um palco onde o Reino Unido não podia dar-se ao luxo de deixar de protagonizar a contra-corrente da versão EFTA, a união aduaneira.
A RFA vem-se voltando para a Europa central por saber bem que ao as suas parcerias não são ensombradas pelo passado - por mais de um quarto do seu território teve que viver a reedificação como os seus vizinhos de leste, pagá-la, pagar a PAC, pagar as idiossincrasias britânicas e financiar a fundo perdido as fraudes dos novos alunos. Pagou finalmente a construção do €, abdicando de muitos dos poderes que lhe advinham de uma moeda ligada a uma economia próspera, contra ventos e marés.
Cada estado - e estou a pensar no nosso - é uma unidade político-economica, responsável pela efectividade das políticas destinadas a recuperar do atraso assumido, segundo diagnósticos que triunfaram em eleições mas foram derrotados pela falta de visão e de coragem e pelo apetite feroz da máquina de segurar o poder.
Empobrecemos pela estupidez e ganância dos que deveriam ter promovido e premiado o aumento de produtividade, da paquidérmica e napoleónica máquina estatal até aos industriais de meia tijela, analfabetos e ladrões das gerações dos actuais sem-emprego, aliados de economistas cuja especialidade de engenharia financeira ganhou uma sólida reputação no encobrimento da ruína de um país.
Chegou ao limite a capacidade de aumentar impostos porque doravante, onerando não a insuficiente produtividade mas o produto, passou a confisco.
Que espanto pode causar a recusa alemã de estender as suas generosas mamas aos do costume, que lhes compram os Mercedes?
Nós, portugueses descalços, quando roubávamos gordos relógio e cordão a um rubicundo John Smith com armazéns a abarrotar de Port, respondíamos já da segura distancia do pé ligeiro "é o guibes!!" à exaustinada intimação do beef, "give me my watch!).
Foi tempo.

jlsc