quarta-feira, 24 de março de 2010

O PRÓXIMO CONSELHO EUROPEU


A SITUAÇÃO PORTUGUESA NO CONTEXTO EUROPEU

O próximo Conselho Europeu, diga a agenda o que disser, versará sobre a Grécia e os problemas que a situação da Grécia suscitou na zona euro. Espero que tenha sido sobre este assunto que tenham falado os partidos hoje consultados por José Sócrates antes da reunião de amanhã. O resto, neste momento, é secundário.
A situação portuguesa é grave, embora não seja assustadoramente mais grave do que a da generalidade dos países europeus. Há, porém, algumas diferenças importantes. A primeira é que os efeitos nefastos da crise manipulados pelo capital financeiro e especulativo incidirão muito mais onerosamente sobre os países com economias tradicionalmente mais fracas do que sobre países com economias tradicionalmente mais fortes. A segunda resulta do facto de uma eventual alteração do status quo (que inevitavelmente vai acontecer mais ano menos ano) não permitir a todos sair da crise da mesma forma. Uns sairão melhor do que outros.
Dito isto e conhecida que é a actual situação político-económica na zona euro, Portugal para combater a crise tem de fazê-lo em duas frentes: na frente externa e na frente interna.
Na frente externa, o combate à crise passa pelo apoio político sem reservas à Grécia e pela oposição frontal às posições da Alemanha. Tanto aquele apoio como esta oposição devem basear-se numa rigorosa análise da situação político-económica-financeira da zona euro. Sem medo, Portugal deve bater-se contra os critérios do Pacto de Estabilidade e Crescimento associado à moeda única, deve demonstrar que o Pacto impede o crescimento, aumenta o desemprego e arruína em proveito de muito poucos (talvez só de um) várias economias europeias.
Portugal deve bater-se pela consagração de mecanismos que, em situação de crise gerada por factores exógenos à generalidade dos agentes económicos, possam ajudar os Estados pelo menos em condições tão generosas quanto as que o Banco Central Europeu prodigalizou ao capital financeiro.
Portugal e muitos outros países da União Europeia não podem estar à mercê das agências de rating, órgãos do capital financeiro e especulativo. E a única forma de eliminar os seus efeitos espoliadores é lutar pela consagração de mecanismos financeiros que as inviabilizem.
Portugal não deve ter medo de dizer em Bruxelas e especialmente à Senhora Merkel que é absolutamente inadmissível que o BCE e os tesouros nacionais tenham prodigalizado fundos e garantias aos bancos a custo quase zero para se salvarem da ruína de que eles, pela sua ganância, foram os exclusivos causadores e esses mesmos bancos, na sua maioria alemães, estarem agora a emprestar esse mesmo dinheiro aos Estados a juros especulativos.
Portugal deve bater-se por uma solução europeia para a crise, porque somente na Europa será possível construir aqueles mecanismos.
Merkel deve ser confrontada com as suas responsabilidades na União Europeia e desde logo não pode ser desresponsabilizada pelo estado em que se encontra a opinião pública alemã, que, causticada há mais de dez anos por uma política de brutal compressão salarial, vê naturalmente com inquietação as” ajudas”concedidas a quem optou por outro caminho. Só que as “ajudas” não são ajudas que recaiam sobre o povo alemão nem sobre os trabalhadores da Alemanha. As ajudas que se pretendem são apenas aquelas que visam retirar aos bancos os lucros com que eles se têm locupletado à custa de acções especulativas.
O povo alemão tem de perceber que Merkel e os seus sequazes, ou os seus “patrões”, não podem fazer com o dinheiro o mesmo que Hitler fez com as tropas. E quanto mais cedo o povo alemão souber disto, tanto melhor para todos.
Teremos Governo para travar esta batalha na frente externa? A avaliar pelas intervenções dos nossos políticos, a resposta é infelizmente negativa. Nem neste governo, nem no PS, nem nos outros dois partidos de direita se ouve uma voz minimamente alternativa à ideologia dominante.
Confiar este discurso, dito à maneira deles, a José Sócrates ou a Teixeira dos Santos é infelizmente o mesmo que esperar que o PS seja capaz de deixar de ser o que é!
A frente interna (que muito depende da externa) será analisada noutro post.

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