segunda-feira, 22 de março de 2010

AS VOZES DO PS CONTRA O PEC - II




UM ARTIGO DE RUI TAVARES

Rui Tavares, jovem historiador cuja competência admiro, e que sempre procura pôr nas suas análises políticas uma nota de moralidade, não de uma moralidade que tenha verdadeiramente a ver com princípios, mas antes de uma moralidade que se esgota no registo da indignação dos que contestam, vê nas vozes dissonantes do PS relativamente ao PEC a clara confirmação de que Sócrates já está a viver depois do fim (Público de hoje).
Nada mais errado. As críticas mais ou menos indignadas e desestruturadas de meia-dúzia de militantes do PS, independentemente das intenções que as animam, acabam por ser muito mais vantajosas a Sócrates do que o silêncio de todo o partido.
Primeiro - há que dizê-lo - porque as críticas que vieram a público têm pouco valor. Intrinsecamente têm um valor menor: nenhuma delas toca no essencial e todas se ficam pela indignação cujos matizes divergem consoante o autor da crítica. Vão desde a “sorte” de Pedroso que tem a felicidade de não ter sido a candidato a deputado na legislatura em curso até ao alívio de não pertencer ao grupo parlamentar (ele que até nada tem contra as privatizações), passando pelas de Cravinho que acha que o PS “deixou cair, sem cuidado, as bandeiras de esquerda” (com cuidado seria certamente outra coisa) e pelas de Adão e Silva (que deixava tudo na mesma com a diferença de ir buscar aos bónus dos gestores aquilo que o Portas lhes exigiu que cortassem no rendimento mínimo garantido), sem falar nas de Soares que, insisto, ainda não percebi bem se está interessado em discutir o PEC ou outras coisas ...
Em segundo lugar, porque, não tendo as críticas quaisquer consequências práticas do ponto de vista do seu objecto, elas, objectivamente, apenas servem para fixar o eleitorado de esquerda do PS, partido pelo qual Rui Tavares não foi eleito…
Um conselho sem sobranceria nem ironia: Rui Tavares aproveite as paragens do Reno por onde anda ou até as de Bruxelas, apesar de mais insípidas, para se dedicar mais à filosofia política e menos à história, na certeza de que tanto a História como o mandato que desempenha ficarão a ganhar.

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