O QUE FICOU POR DIZER
Sócrates assentou a entrevista de ontem à noite no discurso oficial de Bruxelas. O mundo mudou em duas semanas, houve necessidade de tomar medidas urgentes para fazer face a uma crise sem precedentes que tinha o euro como vítima mais próxima e a União Europeia como vítima subsequente da desintegração da zona euro.
Em primeiro lugar, seria interessante que se tivesse perguntado a Sócrates quem atacou o euro, em vez de se andar á volta da inútil questão de saber se cedeu ou não cedeu ao PSD ou do incumprimento das promessas eleitorais, com excessiva focalização das perguntas numa subentendida personalidade perversa do entrevistado.
De facto, quem ataca o euro? São os mercados, diria muito provavelmente Sócrates. Mas quem são e o que querem os mercados? Os mercados são os bancos, as seguradoras, as grandes instituições do capital financeiro, nas quais se incluem os fundos de pensões e todos aqueles que têm superavides para investir. Mas se for apenas isso o que aconteceu (e que continua a acontecer), então essa seria a prova mais cabal da irracionalidade dos mercados. Se os mercados começam por atacar a Grécia, levando o ataque aos limites do suportável (ultrapassando os limites como adiante se verá), e depois Portugal, a Irlanda e, principalmente, a Espanha, e sabendo-se, como não poderia deixar de se saber, que tal ataque levado às suas consequências normais, implicaria o fim do euro como moeda única e à falência dos maiores devedores, estaria a prosseguir-se uma finalidade exactamente oposta à pretendida: maximizar os lucros.
Ou seja, há aqui qualquer coisa que não bate certo. Irracionalidade sim, mas não tanta.
E se pensássemos antes que os mercados sabedores e conhecedores das suas fragilidades, resultantes de estarem particularmente expostos às chamadas dívidas soberanas dos grandes países devedores em dificuldades, e com problemas de liquidez semelhantes aos de 2008, entraram numa jogada de alto risco, única que os poderia salvar, de mais uma vez transferirem para os contribuintes o risco das suas carteiras de títulos, através do tal Mecanismo de Estabilização Financeira (MEF), deixando pairar na opinião pública em geral a ideia de que tal Mecanismo se destina a resgatar os países endividados?
É que tal fundo que alimenta o MEF apenas tem um suporte: o contribuinte! E o que agora se está a passar é o mesmo que antes já se passou, em 2008, a escala bem menor: utilizara capacidade de endividamento dos Estados para absorver o “passivo” dos mercados. Não é isso que o BCE já está a fazer? E não vai ser também isso que o MEF fará?
Esta a primeira questão sobre a qual teria interesse ouvir a opinião de Sócrates. Mas haveria outras…eu é que estou com falta de tempo. Talvez logo volte ao assunto.
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