quinta-feira, 20 de maio de 2010

A MOÇÃO DE CENSURA DO PCP




O QUE INTERESSA PERCEBER

Causou alguma estranheza, inclusive em certos meios de esquerda, a moção de censura do PCP. Não que o PS a não mereça, não que os “superiores interesses da Pátria” a tanto se oponham, mas pela vantagem que ela poderia trazer à direita.
Para se compreender a moção de censura do PCP é preciso antes de mais perceber que o PCP não tem como primeira prioridade política aquilo a que se poderia chamar uma estratégia eleitoral.
Evidentemente que ao PCP interessam as eleições e o resultado eleitoral, mas apenas e só na estrita medida em que tais resultados servem a sua estratégia política.
O PCP não tem qualquer ilusão que as profundas mudanças estruturais que propõe, mesmo que no presente momento histórico não sejam necessariamente incompatíveis com o sistema capitalista, não têm qualquer hipótese de ser levadas à prática pela via eleitoral. O PCP sabe isso e a História confirma-o.
O poder ideológico ao serviço do sistema capitalista é tão forte e penetra tão intensamente por todos os interstícios sociais que inclusive faz com que as pessoas votem e defendam pontos de vista contrários aos seus interesses julgando que os estão a defender.
Sabendo isto, o PCP aposta em tempo de crise em amplos movimentos sociais de contestação e mudança que, segundo o seu ponto de vista, poderiam ser muito mais fortes e abrangentes se o PS não fosse governo. Tais movimentos não só podem impedir retrocessos que a via parlamentar não logra conseguir, como ainda provocar mudanças que, por aquela mesma via, jamais se alcançariam.
De certa forma o PS no Governo funciona para esta estratégia como um travão ao desenvolvimento desses movimentos na medida em que uma parte dos seus apoiantes não se sente à vontade para se manifestar e lutar contra um governo do partido em que votou. Mas que poderia engrossar as fileiras da contestação, se o governo fosse abertamente de direita.
Diferente é a posição do Bloco de Esquerda. Aparentemente o Bloco segue uma estratégia eleitoral e mesmo quando apoia a moção de censura do PCP fá-lo por essa razão, apesar de saber que a precipitação de eleições antecipadas dificilmente o favoreceria.
O Bloco é constituído por gente de muitas proveniências – comunistas arrependidos, trotskistas, estalinistas, maoistas, “albanistas”, titistas, humanistas desinteressados e até socialistas desiludidos, além de uma numerosa e generosa juventude aparentemente anti-sistema, mas sem uma sólida formação ideológica. Daí que se diga que o Bloco se caracteriza mais pelo que não quer do que propriamente pelo que pretende. De todos, os que mantêm mais viva a utopia ainda são os trotskistas, apesar de (ou talvez por isso mesmo), como aqui já se disse, o “trotskismo nunca ter existido”.
O risco que o PCP corre – não com esta moção de censura que não recolherá votos suficientes para derrubar o Governo, mas com a sua queda antecipada – é a de a realidade ficar muito aquém das suas expectativas…

2 comentários:

V disse...

Fique ou não a realidade aquém das expectativas, não vejo outra solução.
Isto não se resolve nas urnas, na TV nem nos blogues. Só na rua.
Vamos perder essa batalha? Admito que sim, mas nesse caso o exemplo do presente será a advertência do futuro.
V

Ana Paula Fitas disse...

Caro JM Correia-Pinto,
Acabei de fazer link.
Obrigado.
Um abraço.