OS NOVOS CANTOS DE
SEREIA
Voltamos a Ulisses como inevitavelmente teria de acontecer.
Gregos de hoje lembrai-vos das recomendações que vos fizeram
na ilha de Circe. Tende bem presente os conselhos da deusa sobre os cantos de
sereia. Nunca esqueçais que as sereias enfeitiçam os homens com os seus cantos.
Quem ouvir a sua voz jamais regressará a casa.
Pois também hoje quem escutar o canto das sereias nunca mais
abandonará a austeridade. Prossegui o vosso rumo, tendo bem presente que a
mortífera Caríbdis e a terrível Cila já não habitam as grutas de antanho nem se
escondem nas profundezas do oceano.
Elas estão localizadas onde vós bem sabeis e quando em
conjunto vos dizem que querem manter a Grécia no euro e aliviar o vosso “sofrimento”
com pitadas de crescimento, o que na realidade querem é impedir-vos de chegar a
Ítaca. Nunca vos esqueçais que no prado onde elas se encontram há ossadas amontoadas
de homens decompostos.
Mantende-vos alerta e prossegui o vosso caminho segundo a
vossa própria estratégia. Se nesta fase da viagem ouvirdes o canto das sereias acabareis
enfeitiçados com falsas promessas
Nunca permitais que a Aurora de róseos dedos que há bem pouco
tempo recomeçou a raiar sobre a vossa terra sagrada volte a ser ensombrada pela
terrível escuridão em que esteve mergulhada nestes últimos quatro anos!
Não vos deixeis enganar!
5 comentários:
Excelente!
Eu diria mais: "Não nos deixemos enganar.".
Com alguma sorte pode ser que a Grécia volte a desempenhar o papel de berço de uma nova civilização. Quem sabe...
JR
""Around 60% of German exports still go to other European countries, although Asia’s share is increasing."
Daqui a 10-15 anos veremos se a Alemanha ainda estará "refém" das importações dos PIIGS."
Vai grande o entusiasmo/delírio sobe o renascimento cultural dos gregos (os biólogos alimentam a esperaça de tentar recriar os dinossauros!).
Façamos igualmente votos que os nos portugueses renasça o vigor e a coragem de Viriato e suas valentes gentes
"Quem quer salvar o sistema financeiro tem de matar à fome a procura; quem quer salvar a procura tem de arruinar o sistema financeiro. A mistura absurdamente contraditória dos dois modelos económicos, como resultado do empate entre eles, mostra que estão a desfazer-se os fundamentos capitalistas comuns a ambos." Estará a acertar que escreve isto? Não obstante a gritaria anti-germânica ( é preciso sempre culpar o "outro" pelos nosso erros- é a psicologia social a explicá-lo) que para aí vai, é um autor alemão que o escreve. São também alemães os principais criadores que abastecem a minha mediana cultura na música filosofia etc. É também em máquinas saídas daquelas mentes quadradas que são feitos os exames médicos mais delicados em Portugal.
LG
Tudo isso é verdade e ninguém contesta a excelência da técnica germânica. Só que para comprar os produtos daquelas engenhosas e laboriosas mentes é preciso ter dinheiro! E Ricardo, antes que qualquer outro, explicou como se arranja o dinheiro para pagar essas compras no comércio internacional. E até hoje nenhuma outra fórmula foi descoberta melhor que a dele. Quando ela não é seguida, o resultado é o que se está a ver.
É a teoria das vantagens comparativas. Não como o neoliberalismo hoje a entende, mas como Ricardo a explicou aos ingleses.
Para comprar os vossos lanifícios e os vossos têxteis, é preciso que vocês lhes comprem aquilo que eles melhor sabem fazer, mesmo que vocês aqui até fossem capazes de produzir esses mesmos produtos a custos mais baixos. Só que se o fizerdes, acabareis por perder. Produzireis menos e mais caro o que sabeis fazer melhor e impedireis que aqueles que só sabem fazer isso vos possam pagar o que vós quereis vender.
Não é portanto com reformas à Schroeder, depois seguidas por Merkel, de contracção dos salários internos e correspondente contracção da procura que se promove a prosperidade e a igualdade no comércio internacional. Como foram egoístas, quiseram ser só eles a vender e a comprar pouco aos outros, vão ter de sofrer as consequências. Aqueles que lhes compraram, muito para além do dinheiro que tinham, com os financiamentos que eles lhes fizeram, resultantes dos gigantescos excedentes que foram acumulando, agora não lhes poderão pagar. E fazem muito bem!
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