segunda-feira, 28 de maio de 2012

A RECAPITALIZAÇÃO DA BANKIA EM ESPANHA




A SOLUÇÃO ESPANHOLA



Como se sabe – e agora já pode dizer como se sabe porque deixou de ser segredo – o sistema financeiro espanhol, sem excepções, está em grandes dificuldades, na iminência de falência, se muito rapidamente não forem tomadas as medidas adequadas.

Essa situação decorre da “bolha imobiliária” – a crise del ladrillo – e também de muitos outros activos tóxicos inscritos nos activos dos bancos dos quais os menos importantes não serão certamente os resultantes do subprime americano.

Depois de muitas mentiras e encobrimentos durante o governo anterior, como a boa nota nos famosos testes de esforço – as metáforas que estes tipos usam para esconder a verdade… -, e de o governo em funções ainda há poucas semanas ter voltado a garantir que não haveria dinheiro público para os bancos, a “bomba” rebentou com a calamitosa situação financeira da Bankia, instituição resultante da fusão em Dezembro de 2010 de sete caixas regionais, entre as quais estão com um peso correspondente a cerca de 90% a Caja Madrid e a Bancaja. Depois de uma guerra política travada no seio do PP, a Comunidade de Madrid, chefiada por Esperanza Aguirre, uma senhora condessa de extrema-direita, acabou por impor a direcção por que peleou durante vários meses – Rodrigo Rato, ex-ministro de Aznar e ex-director do FMI.

O negócio não poderia ter corrido pior: menos de dois anos depois, o banco estava falido, tendo o governo Rajoy sido obrigado a nacionalizá-lo para evitar a cessação de pagamentos. A intervenção do Estado começou com uma ajuda de cerca de 5 mil milhões de euros, tendo-se concluído, a meio da semana passada, que seriam necessários mais 19 mil milhões para evitar a falência.

O Estado espanhol não tem este dinheiro. Não pode angariá-lo directamente no mercado porque a taxa de juro previsível, acima dos 6%, seria incomportável. Também não quer recorrer ao fundo de resgate (futuro ESM), já que segundo as regras em vigor, o fundo somente pode emprestar aos Estados e um empréstimo do fundo equivale a uma intervenção da Espanha com tudo o que vem atrás – troika, despedimentos, cortes nos salários dos funcionários públicos e das pensões, enfim, o que nós e os gregos conhecemos bem. Tentou em vão Rajoy que a Merkel abrisse uma excepção e permitisse uma injecção de dinheiro do BCE a troco de garantias de pouco ou nulo valor, mas nada conseguiu. Somente Hollande o apoiou. Então, qual vai ser a solução do governo espanhol? Uma solução arrojada, mas engenhosa: vai injectar directamente no banco dívida pública! Em vez de emitir dívida no mercado para arrecadar dinheiro e metê-lo a seguir no banco, vai emitir a dívida pública directamente para o banco nacionalizado que nele figurará como um activo, teoricamente convertível em liquidez desde que seja aceite nas operações interbancárias como garantia (pouco provável) ou vendendo os respectivos títulos no mercado de capitais (hipótese também pouco provável pela desvalorização que sofreriam e consequente aumento da taxa de juro) ou (hipótese mais provável) para se financiar junto do BCE, entregando os títulos da dívida pública em garantia como actualmente fazem todos os bancos.

Se tudo correr bem, acabará por ser o BCE a recapitalizar o banco com a garantia do Estado espanhol. A dívida pública espanhola aumentará uns pontos percentuais, cinco ou seis, ficando mesmo assim aquém da generalidade das congéneres europeias em percentagem do PIB.

O verdadeiro risco desta operação não estará certamente na recusa do BCE em aceitar as garantias, mas na situação em que ficam o banco e Tesouro espanhol no mercado de capitais. Os juros vão indubitavelmente subir…e a intervenção tornar-se-á inevitável mais dia menos dia.

Moral da história: este “esquema” é bom ou mau? No presente momento histórico tudo o que agrave a situação na zona euro tem mais hipóteses de ser bom do que mau. Quem tiver mais a perder vai ter de pensar duas vezes. E depressa…


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