segunda-feira, 21 de maio de 2012

A GRÉCIA, AGORA E SEMPRE




A NOVA LUZ QUE VEM DA HÉLADE



É com satisfação que se constata que uma parte já considerável da opinião pública europeia, portuguesa incluída, recusa hoje a bárbara afirmação de que “Nós não somos a Grécia”. Quando aqui há cerca de três anos nos opusemos a esse maniqueísmo bacoco e provinciano, como era o caso dos que entre nós repetiam esse slogan convencidos de pertencerem a uma classe de gente superior desta hipócrita Europa, ou a essa nova forma de racismo baseada na pretensa laboriosidade dos povos, como era o caso dos alemães, estávamos, com os mesmos do costume, praticamente isolados, tal a torrente propagandística que a partir de Frankfurt e de Berlim varria literalmente a Europa numa campanha desenfreada contra os gregos como há muito se não assistia.

É claro que essas vozes podem continuar e seguramente vão continuar a imputar à Grécia todas as responsabilidades pela crise do euro. Um dia destes até se deu o caso de uma besta do PSD indígena, ao que dizem deputado ao Parlamento europeu, ter chegado à conclusão de a Grécia não passar de uma ficção – “É um país inventado; era uma província do Império Otomano”!, disse tal avantesma. Podem continuar a dizer o que disserem, mas de uma coisa eles podem estar certos: cresce cada vez mais o número de pessoas que olha para a Grécia de outra maneira. Que reconhece, compreende e apoia a luta do povo grego contra a tirania imposta por Berlim e Bruxelas.

Mais ainda: cresce também na Europa o número de pessoas que não está disposta a aceitar na sua terra uma situação idêntica à que impuseram à Grécia. Quando aqui há cerca de três anos se defendeu neste blogue a “união dos devedores” contra os agiotas e os especuladores internacionais, bem como contra os seus lacaios de serviço nos diversos governos da União, aquele apelo mais não parecia do que um simples grito de revolta contra uma fatalidade inevitável.

E também quando aqui sempre se disse, mesmo contra a opinião de gente bem-intencionada, que a chamada crise da dívida mais não era que uma crise do euro, agravada pela crise financeira internacional, condenada mais tarde ou mais cedo a ocorrer, independentemente das políticas nacionais, como consequência inevitável da própria natureza do euro, eram ainda muitos os que achavam mais fácil imputar as causas da crise aos desvarios (e outras coisas piores) dos diversos governos por mais diferentes que tivessem sido as respectivas políticas nacionais do que a factores que uma análise serena, racional, rapidamente evidenciaria.

Pois também hoje se consolida na Europa a convicção de que a “crise da dívida” é uma crise do euro, sendo já muitas as vozes influentes que entendem que tal crise, como fenómeno europeu que é, só poderá encontrar solução numa resposta europeia que atenda com equidade aos diversos interesses em jogo.

Ainda ontem, por exemplo, uma conhecida figura do PSOE, com papel de relevo na política espanhola no tempo de González e de Aznar, insuspeito de simpatias esquerdistas, presidente da Junta da Extremadura durante vários mandatos, veio publicamente reconhecer que a crise espanhola é uma crise financeira, provocada pela situação dos bancos, potenciada e agravada pela natureza do euro, cabendo à Espanha apenas em parte solucioná-la; a outra parte cabe à Europa. E conclui com uma tirada que para um “moderado”, como a imprensa bem pensante gosta de catalogar estas pessoas, não pode deixar de ser muito elucidativa do ponto em que as coisas já estão. Diz Rodríguez Ibarra: “A penitência que nos está sendo imposta pelos países que tomaram a direcção da Europa não só é totalmente ineficaz como injusta. E se a Espanha, juntamente com outros países, decidisse terminar este calvário, ameaçando-os com el portazo”? Ou seja, e se a Espanha e outros que se encontram na mesma situação decidissem bater coma porta?

É por isso que tem também crescido na Europa o repúdio pelas inacreditáveis declarações reiteradamente proferidas por Barroso sobre as eleições gregas, bem como pelas vergonhosas pressões que Merkel e os seus ministros têm feito sobre os governantes e sobre o próprio povo grego.

E já nem sequer falamos da queles que entre nós acusam de chantagem os partidos gregos que se querem libertar da tirania da Troika e da prepotência alemã. Esses falecidos da história que já andaram por todo o lado ao sabor oportunista dos ventos que sopram nem sequer são dignos de menção. Vão acabar como começaram: na União Nacional dos nossos tempos, onde aliás já estão!

Oxalá, os gregos consigam resistir porque será do resultado da sua luta que vai depender o futuro próximo da Europa!

2 comentários:

Anónimo disse...

Antes deste post tinha acabado de ler o Causa Nossa e estava enojado.
Isto fez-me bem melhor que Kompensan S
V

Anónimo disse...

Tem razão o senhorito espanhol, o actual problema da banca espanhola não existiria, pelo menos com a dimensão que tem, sem o euro, por uma razão muito simples não tinha crédito para tal. Mas o senhorito nunca se interrogou sobre isso mesmo quando a tralha que os governou, ele incluído se calhar, se ufanava de ter uma produção de construção imobiliária (o tal ladrilho) superior à da França, Inglaterra e Alemanha juntas, 4 milhões de imigrantes etc. etc. (tanta riqueza....como por cá)?. Ter-se-à interrogado sobre o futuro que a gestão da famosas Cajas (e não só) traria aos espanhóis enquanto elas iam alimentando o frenesim da partidocracia local e regional, incluindo a gigantesca corrupção que se tem vindo a descobrir?, Pois não, só agora!
LG