segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

PORTUGAL ENTRA NA GUERRA CONTRA A ETA?




O QUE SE DEVE FAZER E O QUE SE NÃO PODE FAZER

Portugal não tem que ser um santuário da ETA na sua luta contra a Espanha pela independência do País Basco. Mas também não pode ser uma extensão do governo de Espanha na sua luta contra a ETA.
Portugal compreende melhor do que qualquer outro povo peninsular o que significa o centralismo castelhano e a arrogância que lhe anda associada. A guerra da ETA contra a Espanha e da Espanha contra a ETA é uma guerra de que Portugal se deve manter equidistante.
Se membros da ETA, ou simples cidadãos do País Basco de nacionalidade espanhola praticaram crimes em Portugal, devem ser julgados e punidos em Portugal, segundo as leis portuguesas. As simples suspeitas de que sejam membros da ETA não legitimam a sua extradição para Espanha.
A simples designação de ”terrorista”, a partir das qualificações feitas por certas organizações internacionais (sempre regionais, nunca universais!) ou por certos serviços de poderosas potências imperiais sobre quem é ou não terrorista, desencadeia irracionalmente uma série de actos condenatórios que escapam a qualquer juízo crítico, frequentemente influenciados por considerações geopolíticas. Que a Estónia e a Letónia se tenham tornado independentes à margem da opinião dos muitos milhares de russos que lá vivem é um facto completamente irrelevante para o establishment da Europa Ocidental ou da União Europeia. Como irrelevante é o facto de o Kosovo, berço histórico da Sérvia, ter seguido o mesmo destino. Que a Espanha impeça, por via democrática, a autodeterminação do País Basco e, além disso, vá inviabilizando juridicamente a simples representação democrática dos movimentos afectos às correntes separatistas para por essa via assegurar a maioria das representações “castelhanas” é também assunto com o qual a dita Europa se não preocupa.
Em todos os casos citados, e em muitos outros que se poderiam citar, o que conta é o FACTO. Mas se o que conta é o facto, ninguém se pode espantar que haja quem lute contra o facto, por qualquer meio, com o único objectivo de o alterar.
É preciso não ter medo de dizer que a ETA desempenhou um papel fundamental na democratização de Espanha, ao ter inviabilizado a sucessão escolhida por Franco, pouco depois de o ditador espanhol – um dos maiores criminosos políticos do século XX – ter condenado à morte por garrote dois jovens militantes da organização separatista basca. De então para cá a ETA não mais deixou de lutar pela independência do País Basco pela via militar. Como sempre acontece quando se usa a guerra para prosseguir certos fins nem sempre os meios são aceitáveis e muitas vezes merecem a reprovação generalizada. Mas, infelizmente, a guerra é isto mesmo, procurando quem nela entra demonstrar a justiça das suas posições e justificar a opção escolhida por as demais se terem tornado inviáveis. Também no País Basco se vai ter de se esperar pelo fim da guerra para se saber quem tem razão, já que a história não regista derrotas injustas…mas apenas vitórias justas!

1 comentário:

Jorge Almeida disse...

Queria deixar aqui a minha opinião acerca da Espanha e da ETA.

Quanto a mim, a ETA só existe, na actualidade, porque o Estado Espanhol assim o quer. E passo a explicar:

O grande santuário da ETA era o País Basco Francês. Quando o Estado Espanhol conseguiu que os franceses deixassem de dar guarida à ETA, e começassem a caçar os etarras, a ETA (entretanto minada porque infiltrada pelas autoridades de Madrid) passou a estar à mercê do Estado Espanhol.

Porque é que o Estado Espanhol não arruma com a ETA de vez? Porque a existência da ETA é, paradoxalmente, quanto a mim, hoje em dia, o maior obstáculo à independência do País Basco, e, consequentemente, o maior garante da existência de Espanha como país.

É que a imagem que o basco médio, e, por consequência, dos independentistas extremistas, é uma imagem dum bando de arruaceiros e de bandidos que só vêm desestabilizar o desenvolvimento económico do País Basco. Daí a tendência de diminuição de votos em partidos independentistas como o PNV, e o facto de, nas ultimas eleições, o lehendakari ter deixado de ser dum partido independentista.

Porque é que a ETA é, na minha opinião, o maior obstáculo à independência do País Basco? Imaginem que a ETA acaba. Como, de certeza, sabem, o País Basco é a região autónoma mais rica de Espanha, e aquela que mais contribui para o PIB espanhol. 10 anos após o encerrar da ETA, em que todos os anos os independentistas vão lembrando aos bascos que estão a sustentar os "preguiçosos" dos madrilenos e os "ciganos" dos andaluzes (entre outro tipo de ressentimentos), o risco dos bascos votarem "Sim" pela independência é muito grande.

Será que a Espanha sobreviveria à independência do País Basco? Na minha opinião, não! Não é tanto pela importância do País Basco sozinho, mas pelo facto da Catalunha não ir ficar a assistir a isto de braços cruzados. Os catalães irão aproveitar para declarar, logo, a sua independência. E, sem as suas 2 regiões que mais contribuem para o PIB, de que é se sustentaria a Espanha? De turismo de sol e praia? Das laranjas andaluzes? Como é que conseguiria assegurar aos castelhanos o nível de vida a que eles se habituaram?

E Portugal, como é que ficava no meio disto tudo? Politicamente falando em termos internacionais, Portugal deixava de ter um vizinho forte para ter vários vizinhos fragmentados. Poderia ganhar mais peso internacional com uma eventual implosão espanhola. Portugal sempre foi forte quando a Espanha foi fraca, é olhar para a história que isso aparece sempre.
Mas isso não significa, necessariamente, apoiar um bando de terroristas como é a ETA de hoje em dia.