sábado, 20 de março de 2010

AS VOZES DO PS CONTRA O PEC



ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO, TUDO NÃO PASSA DE SIMPLES CONVERSA

Várias vozes se tem manifestado contra o PEC dentro do PS. Vozes com intensidade diferente: umas exprimem um lamento tímido, típico de quer deixar uma nota para memória futura; outras parecem ir um pouco mais além, falam num partido que deixou cair “sem cuidado” as bandeiras de esquerda; outras ainda culpam Bruxelas do que se passa cá dentro.
A experiência diz-nos que faz parte da mistificação ideológica do PS a existência de vozes discordantes como factor legitimador do partido como partido de esquerda. Não interessa para este efeito saber qual a verdadeira intenção de quem fala – seguramente há intenções diferentes – mas o resultado prático das palavras dissidentes.
Nos trinta e seis anos que levamos de democracia nunca tais palavras, quase sempre proferidas desorganizadamente, tiveram qualquer efeito prático relevante e raramente, raríssimamente, consubstanciaram uma proposta política alternativa. São palavras ditas apenas para que se fique a saber que dentro do partido também há gente que não concorda com as políticas de direita, gente que até está de acordo com as críticas (não com a oposição) que a esquerda lhes faz. Objectivamente o efeito prático de tais palavras acaba por ser o de manter a ficção de que o PS é um partido de esquerda, mesmo quando, pelas políticas que pretende pôr em prática, não se encontra ninguém no espectro político português à sua direita.
Se, de facto, Soares, Cravinho, Alegre, Pedroso (que até poderia concordar com as privatizações!) e tutti quantti estão realmente contra o PEC e contra a política de direita que o PS se propõe pôr em prática por que não convocam um Congresso para discutir o assunto e tentar alterar o rumo político do Governo?
Jamais o farão, jamais porão em causa a política do Governo, por mais reaccionária que seja. Tais vozes, tal como as de alguns deputados, ficarão muito satisfeitas se o seu simples e triste destino for o de ficarem para “memória futura” e se, além disso, o Governo se disponibilizar (como seguramente o fará) a prestar-lhes “esclarecimentos convincentes”, como Lacão com a sua conhecida naïveté já antecipou.

5 comentários:

Anónimo disse...

Não posso deixar de concordar.
Se pudesse - tomara! - discordaria, porque este assentimento equivale ao reconhecimento de que na hora da verdade a diferenciação partidária entre PSD e PS e CDS é irrelevante, limitando-se ao colorido das flores com que enfeitam a realidade das medidas, da sua necessidade, dos seus efeitos. Isso mesmo ficou patente na última edição da "Hora da Verdade", em que, no meio de um consenso quase surreal, foi reveladora apenas a sugestão de que ao PM "só" havia escapado o factor "calendário", aventada pelo "ortodoxo" Nogueira de Brito.
Na hora da verdade, isto é: na hora desta verdade do diktat.
Mas, reconheça-se, é irrespondível (intra-sistematicamente) o argumento segundo o qual não pode pretender escapar à obrigação o livre co-autor do texto de que ela emerge.
Sobretudo quando tantas vozes respeitáveis e responsáveis se levantaram à data do Tratado de Maastricht contra a entrada no €uroclube e alguns países da União economicamente muito mais bem colocados optaram sem grandes hesitações por ficar fora da foto.
Está na memória de todos a convergência sem reservas e a prática, sem rigor nem prudência, na gestão do PEC-crescimento, dos agora consensuais do PEC-rigor financeiro.
Se para um partido socialista os que pagam fazem parte dos "outros", ele está condenado à italianização.
Mudará de nome consoante a ocasião, e a ocasião mudará facilmente de partido.
Digo eu, que digo provavelmente disparates, empolados e fora de moda, sem rigor cientifico em termos de ciências exactas ou da natureza, formalmente tão difíceis de tragar como sentenças de centenas de páginas que me dizem, no meio de desportivas apostas, serem escritas à mão.
Estaremos a ensandecer (cfr. Gil Vicente)?

jlsc

jvcosta disse...

Jos,
Seja ou não válida a crítica - estritamente no plano formal - que lhe fiz há dias, o seu último parágrafo mostra sentido de humor que sobreleva a "pompa jurídica" :-)
Como me palpita que sei quem é, aqui deixo um abraço.
Agora a sério: partilho consigo a preocupação de estarmos a ir para uma italianização, primeiro por um nosso Bettino, depois, esperemos que não, pelo espectro de um Berlusconni. Ainda não o vejo, mas eles aparecem facilmente.

Anónimo disse...

Corrigenda:
"Quadratura do Círculo" e não "Hora da Verdade".

jlsc

Ana Paula Fitas disse...

Também eu concordo absolutamente... por isso, registo mais um link para o próximo Leituras Cruzadas :)
Abraço.

V disse...

Como diria o meu neto, delirei.

...ou não fosse delirante o estado a que chegou o PS...
V