terça-feira, 23 de março de 2010

A COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

QUEM PERDE E QUEM GANHA
Não creio que a decisão de constituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para tentar apurar o que se passou na fracassada compra da TVI pela PT seja vantajosa para quem a promove.
Há assuntos que, pela sua natureza, tem o seu efeito muito circunscrito à classe política. Não por a classe política se indignar verdadeiramente com eles ou por estar muito preocupada com os códigos morais que deveriam pautar a sua conduta. Mas antes por estar convencida que pode tirar um partido especial do aprofundamento de certas situações.
Como já aqui se disse a maior parte das pessoas acha normal que o Governo minta e não fica particularmente chocada por o primeiro-ministro ter pretendido ou ter tentado silenciar uma jornalista (?) que sem critério e sem rigor o atacava pessoalmente.
Por outro lado, pelo que se pode colher dos depoimentos que se ouviram na Comissão de Ética, é de prever que a Comissão de Inquérito não adiante nada ao que já se sabe. Com excepção do Crespo, do Moniz e da Moura Guedes, todos muito desacreditados, embora por razões não inteiramente coincidentes, do director do Expresso, que fez figura de “queixinhas” em vez de ter sublinhado a natureza não pressionável da sua função e de Ferreira Leite, que nunca conseguirá reunir provas para garantir aquilo que afirma, já se percebeu que todos os outros vão dizer o mesmo que já disseram antes.
E, quando assim acontece, quem fica a ganhar é quem assume o papel de vítima e quem fica a perder é quem continua a atacar sem provas formais.
Depois, também já se percebeu que, com excepção do PSD, que está à deriva, nenhum dos outros partidos nutre um especial interesse pelos trabalhos da Comissão. O Bloco terá um entusiasmo reduzido, mas se entretanto houver uma nova sondagem que o penalize tanto quanto a anterior, depressa se “desentusiasmará” e deixará ficar o PSD sozinho na ribalta.
Finalmente, muita gente do lado da oposição e do povo em geral vai achar que, havendo tantos assuntos com interesses para atacar o governo do Partido Socialista e ainda por cima assuntos que directamente têm a ver com a sua vida e com o seu próximo futuro, a Comissão de Inquérito é mais uma distracção para políticos pouco interessados em resolver os verdadeiros problemas das pessoas.
É certo que uma coisa não tira a outra, dir-se-á, mas seria seguramente muito mais importante atacar com todas as forças o PEC e as opções políticas que ele encerra do que estar a conceder ao Primeiro Ministro, e por extensão ao Governo, uma boa oportunidade para se vitimizar e poder assim deixar relativamente na sombra aquele programa ou até reinventar novos argumentos para justificar o injustificável a partir do clima criado pela Comissão Parlamentar de Inquérito, que ele não deixará de explorar como um acto de perseguição pessoal.

2 comentários:

jvcosta disse...

Corrigindo um pequeno erro, obviamente apenas um lapso teu: não é o director do Expresso, mas sim do Sol, esse inefável Saraiva.

JMCPinto disse...

Foram ambos, mas esqueci-me do do SOL. Que também não exibiu quaisquer provas, nem sequer disse o nome da pessoa que veio falar com ele a mando do banco...