quarta-feira, 10 de março de 2010

A ENTREVISTA DE CAVACO SILVA




O QUE FICOU CLARO

Sem preocupação de fazer uma síntese completa da entrevista de Cavaco Silva, sublinho aquilo que me pareceu mais evidente.
Cavaco Silva não acredita, como ninguém acredita, que o Primeiro Ministro não soubesse do negócio da PT (compra não consumada da TVI). Com esta sua afirmação deixa também implícito o seu apoio à Comissão de Inquérito.
Para quem está muito preocupado com a situação económica do país e o desemprego, este seu apoio implícito, perfeitamente legítimo, à comissão de Inquérito, significa que o Presidente quer o Governo politicamente ocupado e sob alguma pressão durante a pré-campanha para as eleições presidenciais. Com o Governo a ser inquirido no Parlamento, o candidato do PS às presidenciais fica tolhido na sua acção e torna-se um alvo de críticas fáceis por ter de manter um silêncio que muitos vão considerar conivente. Por outro lado, com o Governo sob inquirição resta-lhe menos tempo para tramar alguma cilada, hipótese que Belém teme com a experiência própria de quem não quer tropeçar duas vezes na mesma pedra.
A segunda conclusão directamente dirigida à oposição (de direita) é a de que ela não pode contar com Presidente para qualquer tipo de instabilidade política, nem para dissoluções ou demissões do governo…até à eleição presidencial.
Mais duas notas, estas relativas à entrevistadora. Quem faz uma entrevista ao PR, ou sobre assuntos da competência do PR, tem que saber distinguir muito bem entre dissolução do Parlamento, competência discricionária do Presidente, ouvido o Conselho de Estado e exoneração do Governo, apenas possível no caso de irregular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado. A primeira implica necessariamente eleições e um novo Governo; a segunda não implica eleições (a menos que em consequência da exoneração do Governo o Parlamento tenha de ser dissolvido, por impossibilidade prática de constituição de um novo governo naquele quadro parlamentar), embora implique sempre um novo governo.
A segunda nota é a seguinte: quem faz citações tem de ser exacto. A entrevistadora não foi, embora Cavaco Silva se tenha apercebido do seu lapso. Sócrates não se referiu ao Presidente quando disse que “Cada um tem de pedalar a sua bicicleta”. Referiu-se a Ferreira Leite e ao PSD, que teriam de pedalar a sua (deles) “bicicleta” para competir com ele e não aproveitarem-se da “bicicleta” do Presidente da República para ganhar eleições.
É esta incompetência ou incapacidade dos jornalistas naquilo em que “podemos ser perfeitos”…que muito me penaliza.

1 comentário:

Jorge Almeida disse...

Para quem não viu, e gostava de ver, esta entrevista está disponível no sítio da RTP na internet.

É só copiar o seguinte link:

http://tv1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=1436&formato=flv

colá-lo na barra de endereços do seu programa de internet, e carregar em "enter".