terça-feira, 16 de março de 2010

MÁRIO SOARES FALOU SOBRE O PS




AS PALAVRAS E OS FACTOS

Mário Soares foi a Setúbal, certamente a convite do seu amigo Vítor Ramalho, falar entre outros assuntos da situação do PS, do governo e do país. Relativamente ao partido, e é essa a única parte que agora nos interessa, queixou-se da falta de debate interno e criticou as previstas nacionalizações inscritas no PEC.
O PS, Mário Soares ou qualquer um de nós tem de julgado, qualificado e avaliado pelos factos que pratica ou não pratica e não tanto pelos lamentos que exprime a propósito desta ou daquela situação, nomeadamente nos casos em que quem fala, pelas funções que ocupa ou pelo prestígio da sua figura, está em condições de agir ou de animar um forte movimento de opinião capaz de alterar o rumo das coisas.
Depois do PEC que o governo aprovou, cessavam de vez as veleidades de fazer passar o PS como um partido minimamente comprometido com a esquerda. A distribuição dos ónus destinados a atenuar ou até mesmo a cobrir (se o PEC fosse exequível) o extraordinário agravamento do défice e da dívida, ocorridos no essencial para satisfazer clientelas políticas ou fruto de uma errada política financeira, não deixa dúvidas sobre as opções políticas do PS na hora de “pagar a conta”.
Impossibilitado por razões políticas evidentes (e até pessoais, é bom não esquecer) de tocar no capital financeiro e especulativo, ou de atingir, por razões de proximidade política, os altos rendimentos, qualquer que seja a sua proveniência (uns até serão ilícitos – como é o caso das múltiplas reformas milionárias votadas pelos próprios beneficiários - outros fundados em razões puramente ideológicas – como é o caso dos altíssimos ordenados e prémios de gestão), Sócrates virou-se despudoradamente contra os desempregados, os pequenos pensionistas, os trabalhadores, a baixa classe média e contra o património nacional que se propõe desbaratar a troco de um prato de lentilhas.
Antecipando o descalabro que tais medidas necessariamente provocarão na base eleitoral do PS, Soares falou, como tantas vezes no passado tem falado, para deixar a nota crítica lá onde o facto já está consumado.
Não é apenas Soares que faz este papel no PS. Outros o têm feito ao longo da sua conturbada história de mistificação ideológica.
Se Soares quer mesmo impedir as nacionalizações ruinosas e vergonhosas que Sócrates e o seu Ministro das Finanças se propõem levar a cabo, então que crie dentro do PS (e terá certamente amplo apoio popular) um movimento contrário à política do Governo, nem que seja somente neste estrito domínio. Se as suas palavras são assim tão consensuais dentro de amplos sectores do Partido, já que fora do Partido não há qualquer dúvida de que são, então por que não avança destemidamente e deixa ficar para a posteridade o exemplo da sua empenhada acção numa “justa luta”?
Soares seguramente não o fará e pelo conhecimento que se tem do seu longo percurso político até será legítimo perguntar se é mesmo este o assunto – as nacionalizações – que Soares quer realmente discutir quando afirma que há falta de debate no partido!

1 comentário:

Anónimo disse...

Não compreendo este tipo de críticas. Parece-me que Mário Soares, para não passar por hipócrita, não lhe basta ter dizer que esta ou aquela medida é injusta teria que, ao mesmo tempo, dizer quais as medidas que preconiza? Exemplo: neste momento em que se anunciam medidas severas contra os mais desprotegidos, o Governo outorga (notícia de 14/3), parece que na sequência de negociatas à "Vara", um bónus de 10% nos negócios de todo um sector que, apesar de privado, vive já lautamente à mesa do Orçamento. Que dirá a isto dr Mário Soares?
No essencial tratar-se-à sempre, em larga medida, de uma redistribuição.Então como pode lamentar-se os que perdem sem explicitar o mecanismo e os beneficiários?