UM DOCUMENTÁRIO DA RTP
Assisto com emoção ao documentário hoje exibido pela RTP sobre a Guerra da Guiné. Trinta e muitos anos depois revejo lugares, pessoas e factos que conheço bem.
Não posso deixar de me emocionar com a “história” do Major Coutinho e Lima, que Spínola quis transformar em bode expiatória da incapacidade militar do colonialismo português. Recordo a assistência jurídica e judiciária que imediatamente lhe prestámos por iniciativa desse incansável lutador anti-fascista que foi José Barros Moura. Recordo a prepotência de Spínola e da sua gente contra os que se propuseram defender Coutinho e Lima.
Como sempre, Barros Moura foi o sacrificado. Spínola colocou-o imediatamente no mato, em S. Domingos, onde, por ironia da história, cerca de um ano depois, acabaria por ser dos primeiros a confraternizar com guerrilheiros do PAIGC. Eu mantive-me em Bissau, beneficiando da circunstância de pertencer à Marinha, cujos chefes na Guiné tinham um velho contencioso com Spínola, e, por isso, pude, contra Spínola, manter a defesa de Coutinho e Lima até ao momento em que aqueles que viriam a ser a “génese” (ou parte dela) do MFA, na Guiné, resolveram contratar Manuel João da Palma Carlos, que agradeceu todo o trabalho forense realizado e…que felizmente nada mais teve que fazer, por, entretanto, ter ocorrido o 25 de Abril.
Nunca mais vi Coutinho e Lima. Anos mais tarde, em Cabo Verde, o Comandante Osvaldo Lopes da Silva, que comandou o ataque do PAIGC a Guileje, confirmou-me o que nós, em Bissau, tínhamos imediatamente compreendido: Coutinho e Lima tinha duas alternativas – deixar-se imolar com a sua gente (nenhum avião o poderia socorrer; quantos fossem quantos seriam abatidos; nenhum auxílio terrestre era possível na época das chuvas); ou abandonar o quartel e retirar-se em boa ordem para o posto mais próximo. Foi o que fez.
A derrota de Guileje e o ataque, no Norte, a Guidage, anunciavam a derrota do exército colonial na Guiné e fim do regime. A nossa Pátria era a Democracia!
1 comentário:
Pinto:
Um cidadão solidário e justo é-o em todas as circunstâncias.
Ainda bem que contas esses factos importantes da guerra colonial, não deixando de prestar o devido relevo à actuação de BARROS MOURA (tão interventivo na crise académica de 1969 em Coimbra e tão esquecido pelo ex-Presidente da República Jorge Sampaio, no momento em que resolveu condecorar só os membros da direcção da AAC da altura, a maioria dos quais com especial relevo na actual estrutura do PS)...
Se as jornalistas autoras da peça televisiva o soubessem de antemão, por certo achariam útil o teu depoimento e as linhas mestras da argumentação jurídica.
Obrigado.
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