segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O ANO DE TODOS OS EMBUSTES


TRÊS ELEIÇÕES

O dia de ontem foi muito significativo do que poderão vir a ser os próximos dez meses do ano em curso.
Todos os partidos que estão ou já estiveram no poder nestes últimos tempos (enfim, somente três partidos constituíram governos constitucionais, coligados ou não) vão esforçar-se por nos darem de si próprios uma imagem nada coincidente com a sua prática enquanto partidos de governo.
O CDS/PP, ontem reunido em Congresso, depois das directas já terem decidido quase tudo, mostrou-nos um Paulo Portas a “gozar” com os correligionários que o contestam, remetendo para o domínio do carácter o aprofundamento das divergências sobre o seu comportamento pós-eleitoral. E, como é óbvio, as questões de carácter não se discutem, tanto mais que os “superiores interesses da Pátria” podem sempre ditar, a seu tempo, soluções que agora não convém antecipar.
Para além das questões internas, algumas com reflexos externos, foi vê-lo falar sobre os assuntos que o CDS “pôs na agenda política”: os créditos do Estado sobre as empresas, a segurança, a descida de impostos, a educação, a situação económica dos mais desprotegidos, enfim, tudo o que possa agradar a um eleitorado descontente com as permanentes disputas internas do PSD. Para quê falar dos assuntos que verdadeiramente interessaram o CDS enquanto foi governo e que Abel Pinheiro tão bem exprimiu nas mil e uma conversas que manteve com toda a gente por ele contactada? Para quê falar nos elogios que Portas não se cansava de prodigalizar ao “bando de Washington”, principalmente na pessoa de Rumsfeld?
O PSD, entre conselhos ameaçantes dirigidos à presidente para que tome uma decisão até fins de Fevereiro sobre a sua continuidade à frente do partido e as constantes mudanças de posição sobre assuntos da governação, vai multiplicando os ataques a Sócrates e exibindo uma incontida felicidade por a crise por se abater forte sobre o país. Que se pode esperar de um partido que não tem qualquer proposta e que assenta o essencial da sua argumentação política nas posições mais retrógradas de uma teoria económica, cujas “verdades” são diariamente desmentidas pelo que se passa no mundo? Apoiada incondicionalmente por Borges (esse defensor do subprime) e P. Pereira (essa espécie de Pol Pot da retórica, tal a sanha destruidora com que combate tudo quanto se lhe opõe), MFL é bem o exemplo de um político sem rumo a quem um dia atribuíram um lugar cujo desempenho nunca irá compreender.
O PS, num passe de mágica, certo de que já atingiu o limita da sua expansão à direita, procura agora penetrar no eleitorado de esquerda, preparando-se para aprovar no congresso uma moção que está quase nos antípodas de tudo o que praticou nestes últimos três anos e meio. Se tal moção representa o pensamento político do partido por que não o pôs em prática durante a legislatura em curso? Se o PS está assim tão contra as soluções neoliberais, porque continua a dar-lhes guarida no dia-a-dia da sua política? Enfim, é de acreditar que de tudo o que foi dito e vai escrito na dita moção, somente os casamentos entre pessoas do mesmo sexo e (eventualmente) o refendo sobre regionalização sejam para levar a sério.
Se os portugueses mais uma vez se deixarem levar por cantos de sereia, de nada lhes valerá queixarem-se mais tarde…

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