A OMERTA À PORTUGUESA
Logo que sai a lume qualquer investigação criminal visando gente relacionada com a política, de imediato se detecta nas demais pessoas directa ou indirectamente relacionados com os investigados um clima de constrangimento que, na prática, as impede de dizer aquilo que qualquer pessoa normal diria no lugar delas.
Obviamente que não estamos a falar de suspeitas baseadas em cartas anónimas ou em denúncias não fundamentadas. Estamos a falar de suspeitas fundadas em factos relevantes, como, por exemplo, escutas legalmente efectuadas, documentos, “enriquecimento ilícito” e outras situações semelhantes. Certamente que ninguém deve considerar-se condenado antes do trânsito em julgado da última sentença, nem ninguém perde o seu direito à presunção de inocência.
Mas também não há qualquer espécie de dúvida de que, quando os factos em que assentam as suspeitas são inequívocos ou praticamente insusceptíveis de um segundo sentido, não deveria haver qualquer relutância por parte dos responsáveis políticos ou por parte daqueles que com as referidas pessoas se relacionam em situação de superioridade ou igualdade hierárquica nas empresas ou nos serviços públicos dizerem que os visados deveriam, enquanto sob investigação, afastar-se dos cargos que ocupam. Para salvaguarda do seu bom nome e , principalmente, das instituições.
Se bem repararmos, ninguém o faz. Quando muito, se o caso é excessivamente escandaloso, vão empurrando de uns para os outros. Somente quem nada tem a ver com o assunto e luta pela transparência e idoneidade das instituições assume posições claras.
Esta omerta à portuguesa tem, a meu ver, diversas explicações. Antes de mais há quem não fale porque tem “telhados de vidro”. Depois há quem não fale porque, embora saiba onde o caso começa, não tem a certeza onde o caso vai parar. E, por isso, acha mais prudente ficar calado. Finalmente, há quem nada diga, porque tem a certeza de que se falar será prejudicado.
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