terça-feira, 10 de novembro de 2009

A QUEDA DO MURO



20 ANOS DEPOIS

Comemorou-se em Berlim a Queda do Muro com a presença de muitos dos protagonistas, directa ou indirectamente, ligados ao acontecimento.
Dentre todos os protagonistas, não esquecendo o povo anónimo que com a sua luta contribuiu decisivamente para a alteração da situação, impossível não recordar o extraordinário contributo de Mikhail Gorbachov para as grandes mudanças ocorridas na Europa Central e do Leste com as reformas políticas introduzidas na União Soviética com a famosa perestroika. Evidentemente, que Gorbachov foi a causa próxima que permitiu fazer explodir uma situação que há muito padecia de vários males. Como a história não tem ses, nunca se saberá como se teriam passado as coisas sem Gorbachov. Mas sabe-se – e isso basta – que quando o dirigente soviético iniciou o programa de reformas que, nos seus desenvolvimentos, haveriam de culminar com a desagregação da própria União Soviética e com o fim da Socialismo Real, os povos da Europa de Leste adquiriram um novo ânimo que os levou, em apenas 5 anos, à modificação de todos os regimes vigentes nos países do Pacto de Varsóvia.
Enquanto Honecker nas celebrações do 40.º aniversário da fundação da RDA, em 7 de Outubro de 1989, se esforçava por demonstrar que o socialismo, e regime político que ele representava, estavam solidamente implantados na terra natal de Marx e Engels, Gorbachov, presente nas cerimónias, correspondendo ao imenso clamor popular que percorria as ruas de Berlim oriental vitoriando o seu nome, respondia-lhe lembrando que “A vida castiga os que chegam demasiado tarde”.
Depois do que se tinha passado no Verão, com a abertura da fronteira húngara, e das manifestações que por toda a Alemanha de leste não paravam de se suceder, com especial incidência em Leipzig, não era possível Honecker manter-se no poder por muito mais tempo, nem manter-se na RDA a política de isolamento dos seus cidadãos relativamente aos irmãos do ocidente. Daí à Queda do Muro foi um mês e da Queda do Muro à Reunificação da Alemanha um ano!
E, mais uma vez, no Tratado 4+2, Gorbachov acabou por ter um peso decisivo, ao não se ter feito eco das discordâncias do Reino Unido e da França relativamente à reunificação alemã, nem mesmo das reticências da América, temerosa de uma reunificação feita à custa da neutralidade alemã.
A Queda do Muro e a Reunificação alemã são, em si, factos positivos e inevitáveis. O que depois se seguiu em consequência da impossibilidade de reforma do sistema da União Soviética e da exploração que o capitalismo fez da vitória está á vista de todos. Os compromissos militares assumidos com a URSS não foram cumpridos. A NATO quase cercou a Rússia e teria alcançado completamente o seu objectivo se, entretanto, não tivessem ocorrido em Moscovo profundas alterações políticas que puseram termo a uma política de sucessivas humilhações. Os trabalhadores que inequivocamente queriam a liberdade perderam a segurança no emprego, na saúde e na velhice. O capitalismo quebrou todas as amarras e por toda a parte impôs a ferocidade das suas leis sem freios nem contra-poderes. O neoliberalismo dominou o mundo nestes últimos vinte anos, acabando com a sua ganância por o mergulhar numa crise profunda.
Em Berlim comemora-se a Liberdade. Mas muito mais e muito diferente vai ter de ser feito nos próximos 20 anos para que os povos do leste europeu respondam com outro ânimo e com outra confiança ao instituto americano de opinião PEW, tão decepcionantes são para os vencedores as respostas agora dadas pelos cidadãos dos países da Europa do leste e das antigas repúblicas soviéticas relativamente às profundas modificações ocorridas…

2 comentários:

Anónimo disse...

Apesar der ser mais novo que o autor dos "post",penso, a descrição, de muita qualidade, corresponde à memória que tenho daqueles tempos. É feita uma referência aos desrespeito, pelos arautos do Direito Internacional, dos compromissos assumidos. Ficou assim à mostra, uma vez mais, o valor dos compromissos sem força a escorá-los. Já naquele tempo aqueles gestos "cheiravam" a condescendências da Nato para facilitar as tarefas do liquidatário que, agora, volta a ser exibido como troféu da grande caçada. Simplesmente patética a figura de Gorbatchov que conseguiu o formidável feito da desintegração da própria Rússia e de uma humilhação sem paralelo para um país daquela importância. A esquerda, aquela que se revia no Sistema, nunca quis, ou foi capaz, de fazer uma análise radical do que aconteceu. Agora contenta-se com os temas "fracturantes" e com os êxitos de Imãs, Mollas, talibans revendo-se, nais ou menos envergonhadamente, no país do "Querido Lider", Chavez etc. Uma lástima!

jvcosta disse...

Como salientei numa nota no meu moleskine, por testemunhos diversos de amigos e colegas russos, o grande problema foi que Gorbatchov nunca teve apoio interno comparável ao seu enorme prestígio extra fronteiras. Claro que o golpe de Agosto também não ajudou, catapultando essa figura menor que foi Ieltsin.