O DESEMPREGO EM REGIME CAPITALISTA
O desemprego é uma realidade inerente ao sistema capitalista. Em outras épocas históricas ou sempre que a capacidade defensiva dos trabalhadores ou dos seus representantes foi politicamente fraca, o desemprego (o exército industrial de reserva) era uma arma de que o capital se servia para baratear o preço da força de trabalho. Todavia, a partir da altura em que passou a haver alternativa política ao sistema capitalista, o desemprego, não obstante a tentação capitalista de dele colher as indiscutíveis vantagens, passou a ser encarado diferentemente pelo sistema, pelo menos enquanto instrumento regular do seu funcionamento. Mais tarde, o capitalismo neoliberal, praticando-o em larga escala, sob o eufemismo da flexibilização das leis laborais, de que a precariedade é um dos seus máximos expoentes, tentou, e em certa medida conseguiu, fazer passar a ideia de que nunca em nenhum outro período da história houve tanta prosperidade e "democracia económica".
A actual crise do sistema e a sua falência, tanto plano científico, como no politico-filosófico, voltou a pôr a nu aquilo que politicamente a esquerda há muito vinha antecipando: o crescimento imoderado do crédito para colmatar a injusta redistribuição de rendimentos, resultante de uma concentração de capital sem paralelo na história do capitalismo, haveria, mais tarde ou mais cedo, de afectar as próprias bases do sistema e ter consequência inevitáveis em todos os domínios da actividade económica. Acontece, porém, que as consequências vão muito para além daquilo que a mais pessimista análise poderia predizer. Uma das suas mais graves consequências, para quem entende os sistemas como simples instrumentos ao serviço das pessoas, de todas as pessoas e não apenas de algumas, é o colossaal aumento do desemprego que por todo o lado se regista.Em virtude da falência do sistema, o desemprego é uma consequência inelutável e inevitável para muitas empresas, sem prejuízo das práticas oportunistas de muitos empresários que encontram na crise o pretexto ideal para se “livrarem” dos trabalhadores que podem dispensar sem perda dos lucros esperados.
Mas, não haja ilusões, esta última situação é apenas uma consequência colateral de um mal muito mais profundo.
Mas, não haja ilusões, esta última situação é apenas uma consequência colateral de um mal muito mais profundo.
O capitalismo, pelo menos com as características destes últimos trinta anos, faliu completamente. E nem a tentativa de o capital transferir para o Estado, o mesmo é dizer para os rendimentos do trabalho, os encargos da sua própria falência, procurando, por esta via, transformá-la numa crise meramente conjuntural, o livrará das conclusões que a todos se impõem como uma evidência: é necessário mudar o sistema. Não haverá na vida de cada um de nós, novos ou velhos, outra oportunidade como esta para o fazer.
Por isso, tresandam a demagogia despudorada as declarações da presidente do PSD, que ontem ouvi na RTP Internacional, quando imputa ao governo (seja este ou outro) a responsabilidade pelo actual surto de desemprego. O caso é tanto mais gritante, quanto é certo haver notórios partidários do PSD, que não somente encaram com toda a tranquilidade o desemprego, como inclusivamente o preferem a qualquer outra medida que o possa evitar ou atenuar.
Esta desavergonhada tentativa de fazer passar a mensagem de que há alguém responsável pelo que está a acontecer, deixando incólume o sistema, não tem, a meu ver, sido coerentemente combatida pela esquerda, também ela muito preocupada com a conjuntura.
De facto, é preciso ir muito mais além: é necessário apresentar propostas que alterem estruturalmente o sistema. E, entre os modelos que já faliram e a euforia neoliberal destes últimos 30 anos, há certamente muito por onde escolher. Se é necessário não ter vergonha e actuar politicamente ao abrigo de uma total impunidade para continuar a defender o sistema neoliberal, é também necessário fazer prova de coragem para abandonar velhos modelos cuja falência a história já demonstrou, para lutar pelo que se afigura viável, praticável e capaz de merecer a adesão da generalidade das pessoas.
Acho que esse é o grande desafio que se impõe à esquerda que não tem, nem nunca teve, qualquer responsabilidade pela “gestão” do sistema neoliberal!
Por isso, tresandam a demagogia despudorada as declarações da presidente do PSD, que ontem ouvi na RTP Internacional, quando imputa ao governo (seja este ou outro) a responsabilidade pelo actual surto de desemprego. O caso é tanto mais gritante, quanto é certo haver notórios partidários do PSD, que não somente encaram com toda a tranquilidade o desemprego, como inclusivamente o preferem a qualquer outra medida que o possa evitar ou atenuar.
Esta desavergonhada tentativa de fazer passar a mensagem de que há alguém responsável pelo que está a acontecer, deixando incólume o sistema, não tem, a meu ver, sido coerentemente combatida pela esquerda, também ela muito preocupada com a conjuntura.
De facto, é preciso ir muito mais além: é necessário apresentar propostas que alterem estruturalmente o sistema. E, entre os modelos que já faliram e a euforia neoliberal destes últimos 30 anos, há certamente muito por onde escolher. Se é necessário não ter vergonha e actuar politicamente ao abrigo de uma total impunidade para continuar a defender o sistema neoliberal, é também necessário fazer prova de coragem para abandonar velhos modelos cuja falência a história já demonstrou, para lutar pelo que se afigura viável, praticável e capaz de merecer a adesão da generalidade das pessoas.
Acho que esse é o grande desafio que se impõe à esquerda que não tem, nem nunca teve, qualquer responsabilidade pela “gestão” do sistema neoliberal!
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