A ESPANHA PROTESTOU
A imprensa espanhola (uso o adjectivo no sentido que lhe é atribuído no País Basco, Catalunha e um pouco na Galiza), seja de esquerda ou de direita, tem uma posição relativamente coincidente quanto à apreciação das relações das ex-colónias com a Espanha. Se estas aceitam aquilo a que se poderia chamar a hegemonia pós-colonial da “nação espanhola” são bem tratadas e todos os desmandos são perdoados por mais inaceitáveis que sejam.
Hoje, tanto em relação à América Latina, como em relação à África, embora aqui em menor escala, por a dominação colonial espanhola ter tido uma muito menor projecção neste continente, poucos são os países “acarinhados” pela Espanha, não obstante a manutenção de um discurso oficial de outro sentido, principalmente quando referido à hispanidade ou às relações a nível continental. Fora a Colômbia, acossada pelas FARC e pelos “irmãos” do continente, poucos são os países da América Latina que hoje têm relações completamente desanuviadas com a Espanha. Embora nuns casos os agravos sejam mais sentidos do que noutros.
Por isso não admira que em toda a imprensa espanhola a expulsão pelo governo venezuelano de um eurodeputado espanhol tenha sido alvo de veementes críticas.
De facto, é de lamentar que pessoas com responsabilidades políticas de representação aterrem num país estrangeiro possuidos daquela arrogância moral que logo lhes permite, em nome de uma civilização superior, dizer o que está certo e o que está errado ou até qualificar como ditador o dirigente desse país. E como agora está na moda expulsar deputados, o Governo da Venezuela, seguindo as pisadas do governo britânico, mandou o deputado do PP para casa.
Tanto neste como no caso anterior, os expulsos são gente de direita ou de extrema-direita, baseando-se as expulsões nas perturbações da ordem pública que tais personalidades poderiam criar. Com uma diferença: os europeus não gozam do direito de livre circulação na Venezuela, nem os venezuelanos na União Europeia. Enquanto os cidadãos holandeses gozam do direito de livre circulação no Reino Unido, assim como os britânicos nos demais países da União Europeia.
Nunca sendo de aplaudir uma expulsão, apesar de haver pessoas que tudo fazem para a merecer, é bom não esquecer esta prática e outras ainda mais gravosas, como a proibição de entrada no país, foram aplicadas, por democracias ocidentais, a cidadãos portugueses que combatiam a ditadura salazarista. Ou, quando a entrada não lhes era limitada ou vedada, ficava-lhes proibida qualquer tipo de actividade política, sob pena de imediata expulsão. O caso mais acintoso foi o do General Humberto Delgado – expulso, impedido de entrar ou silenciado.
Quem atira a primeira pedra?
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