terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

COMENTANDO CERTOS COMENTÁRIOS



O CAPITAL E O TRABALHO

Nos últimos dias tem havido muitos comentários sobre o capital e o trabalho, bem como sobre as consequências ou inconsequências do seu antagonismo.
Têm servido de mote aos ditos comentários a futura proposta de Sócrates sobre as deduções fiscais (à colecta ou à matéria colectável, veremos) e a metáfora dos “coelhinhos” de Louçã.
Sobre a proposta de Sócrates, já meio-mundo se pronunciou. De todos os comentários, há dois que merecem ser sublinhados. O da Presidente do PSD, que teme qualquer tipo de proposta ou de discurso que possa ressuscitar o “fantasma da luta de classes” e provocar a crispação entre os que têm muito e os que têm pouco; e os que entendem que a proposta é demagógica, porque, em última instância, vai incidir sobre os rendimentos do trabalho, embora os mais elevados e poupa o capital.
A metáfora dos “coelhinhos” foi alvo de chacota da direita neoliberal, para a qual um euro metido na bolsa e dela saído com um ganho de dois é o mais completo desmentido das palavras de Louçã, mas também foi criticada por gente do Bloco, que a considerou infeliz.
Tanto num caso como noutro estamos caídos na velha questão do capital e do trabalho.
De todos os comentários, o que mais me espanta é aquele que vem de gente do Bloco que considera a metáfora infeliz. Que a Presidente do PSD não saiba o que é a luta de classes e esconjure tudo o que de perto ou de longe a possa avivar ou recordar, compreende-se; mas já não se compreende que alguém do Bloco não saiba que os meios de produção por si só nada produzem! De facto, o capitalismo pressupõe, ou melhor, implica a separação entre a propriedade dos meios de produção e a posse da força de trabalho; para que os meios de produção possam ser empregados na produção e para que a força de trabalho subsista é necessário que esta se venda e seja comprada pelos titulares daqueles. E para que haja formação e reprodução do capital é necessário que uma parte do que é produzido pela força de trabalho não seja remunerado, não reverta, portanto, para pagamento da própria força de trabalho (salário). É esta mais-valia que gera o lucro, que não vem obviamente do capital, mas da parte do trabalho não remunerada.
E depois haveria ainda que explicar a relação entre o capital constante (totalidade dos meios de produção) e o capital variável (totalidade do pagamento da força de trabalho) para se compreender melhor a metáfora dos “coelhinhos”, já que o lucro varia em função da quantidade de trabalho mobilizado pelo capital variável e cresce com a exploração. E explicar também a transformação e reprodução do capital…A resposta será sempre a mesma: a taxa de lucro tende a diminuir com o crescimento dos investimentos e somente pode ser mantida pelo crescimento correlativo da exploração. Por isso, a chamada redistribuição dos rendimentos tende a agravar-se, ou seja, do valor global produzido, a parte correspondente aos salários tende a diminuir em termos absolutos.
Daí que duas notas cem euros numa cama, por mais fofa e macia que seja, não gerem notinhas de nenhum montante...

1 comentário:

o castendo disse...

De leitura obrigatória, digo eu: http://odiario.info/articulo.php?p=1053&more=1&c=1