segunda-feira, 22 de setembro de 2008

AS LIÇÕES DA CRISE

EM PORTUGAL, EFICÁCIA ZERO

As primeiras lições que em Portugal se podem tirar da crise assola o capitalismo neoliberal, sem freios nem açaimos, é a de que a crise nunca existiu.
À parte umas notícias nos jornais, uns suaves comentários dos banqueiros, nada mais no establishment português verdadeiramente importante passou.
Os comentadores neoliberais passaram pelo cataclismo como cão por vinha vindimada ou, quando tiveram que falar sobre o assunto, deram mais uma vez provas do seu proverbial autismo, a ponto de chegarem a afirmar que a crise mais não é do que uma demonstração da pujança do sistema capitalista!
Do lado dos partidos chamados de direita, nomeadamente o PPD/PSD, o que se ouviu foi sempre no sentido de um maior liberalismo. Se estivessem mais a par do que afirmam os seus congéneres (fundamentalistas) americanos até certamente diriam, tal como eles, que a crise tem a sua principal causa no excesso de regulação.
Mas não é destes - de quem obviamente nada há a esperar - que me quero ocupar. Estou mais interessado em perceber o que é que o PS compreendeu do que se passou. A avaliar pelos discursos da rentrée, nomeadamente o de Sócrates, parece também concluir-se que a crise nunca existiu. Ou melhor, se existiu foi apenas para justificar o desfasamento entre a actual situação económica do país e aquela que o governo previa que existisse. Tirou dela Sócrates qualquer outra lição? Pegou Sócrates neste verdadeiro 11 de Setembro económico para fustigar a direita e o capitalismo neoliberal? Foi Sócrates de opinião que o desastre dos mercados financeiros é um fenómeno comparável à queda do muro de Berlim para o comunismo soviético?
Não, Sócrates não está interessado nisso. O que o move são umas tretas contra o PSD a propósito da Madeira e afirmação de que o seu Governo é um exemplo de “modernidade” sem precedentes na história de Portugal. Por esta amostra do que o PS pensa sobre a crise já nós poderemos fazer uma ideia do contributo que os “meninos de ouro” da Respublica nos vão dar sobre tema.
O PS português deve ter sido o único partido no mundo com aquele nome que não teceu comentários políticos ao que se está a passar. O que, de resto, não constitui para qualquer observador minimamente atento motivo de espanto ou de surpresa. Basta acompanhar a sua prática política e ler os seus ideólogos para se compreender que o tema não poderia deixar de ser muito incómodo. Então não é verdade que o “socialismo moderno” é algo que nada tem a ver com a economia e que isso da redistribuição da riqueza por força da acção do Estado não passa de uma velharia sem nome? E não se sabe que a verdadeira redistribuição se faz pela acção infalível do mercado?

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