terça-feira, 9 de setembro de 2008

O ACORDO SARCOZY (UE) - RÚSSIA


A AMÉRICA FICOU A FALAR SOZINHA

No post que ontem escrevi sobre a crise do Cáucaso há uma incorrecção que convém corrigir.
As tropas russas não abandonam a Ossétia e a Abekázia, como erradamente referi, mas sim a Geórgia, segundo um calendário aprovado entre dois presidentes (Rússia e França).
Assim, dentro de uma semana abandonarão as posições entre o porto de Posi e Senaki e, em um mês, retirarão das zonas adjacentes à Ossétia do Sul e Abekázia para as posições anteriores ao começo das hostilidades, depois que nestas zonas tomem posição os observadores da UE, num mínimo de 200.
A retirada dos cinco postos compreendidos entre Posi e Senaki é feito sob garantia de que a Geórgia não voltará a usar a força no Cáucaso, tendo a França ficado “fiadora” da palavra do presidente Saaskashvili.
Finalmente, em 15 de Outubro terá lugar em Genebra uma conferência internacional para discutir as questões de segurança na Ossétia do Sul e na Abekázia.
O presidente francês na conferência de imprensa referiu todos os pontos relevantes do acordo acima transcritos e, além disso, reiterou a condenação do reconhecimento da independência daqueles dois territórios pela Rússia, ao que Medvedev respondeu que a decisão da Rússia sobre essa matéria era “definitiva” e “irrevogável”.
Por outras palavras, a ausência no acordo de qualquer referência à integração das regiões separatistas na Geórgia significa, pelo menos para um número considerável de Estados da UE, que esse é um assunto por agora arrumado. De resto, o princípio da integridade territorial cede perante o princípio da autodeterminação.
O acordo ontem alcançado representa uma vitória para a Europa – a Europa dos Urais a Cascais – e nesse sentido deve ser entendido por todos os europeus que preservam a paz no continente.
Toda a gente sabe que há no seio da União Europeia países a quem este entendimento não interessa e que essa divergência de pontos de vista é aproveitada e amplamente estimulada por Washington para manter a Europa dividida e enfraquecida.
É assim, desde logo, no caso da Inglaterra (Reino Unido) à qual convém por razões geoestratégicas ancestrais ligadas à sua insularidade manter a Europa continental divida e enfraquecida. É assim também com os recém-Estados independentes que antes integraram a União Soviética (Estónia, Letónia e Lituânia) ou que pertenceram ao Pacto de Varsóvia (Polónia, principalmente) e sempre tiveram uma história muito atribulada. Enquanto no primeiro caso pesam fortes razões geoestratégicas, neste segundo grupo de países prevalecem razões traumáticas do foro psicanalítico difíceis de debelar.
Pacientemente, os Estados que querem construir na Europa uma arquitectura de segurança europeia vão ter que lidar com este problema e contê-lo. O caso da Inglaterra é paradoxalmente mais simples. Está muito identificado e a sua larga experiência diplomática não deixa antever nenhum tipo de conduta cujos efeitos não possa controlar. Não assim nos demais casos, pois a própria natureza do mal que os afecta não põe Europa a salvo de uma qualquer conduta demencial do tipo da recentemente ensaiada por Saaskashvili.

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