PARA DEFENDER O BLOCO CENTRAL
Não deixa de constituir alguma surpresa a intervenção de Paulo Pedroso reproduzida no telejornal das 13 horas.
Pedroso tem manifestamente tendência para pisar caminhos difíceis, se não mesmo melindrosos. Numa altura em que as eleições gerais estão a mais de um ano de distância e relativamente às quais o PS acalenta a esperança de alcançar a maioria absoluta, não parece fazer muito sentido vir dizer que o PS pode governar coligado com o PSD.
Que pretende Pedroso? Perfilar-se como homem de diálogo, aberto ao compromisso, por contraposição a Sócrates a quem acusam de autoritário e arrogante? Se esse for o seu objectivo, temos de concordar que a jogada é arriscada. Não apenas por ser uma jogada contra Sócrates, mas também por provir de quem esteve submetido a uma longa quarentena. Alguém que terá de reganhar a confiança dos seus colegas de partido, antes de tentar seduzir os seus putativos parceiros de bloco central.
Por outro lado, a intervenção de Pedroso, na medida em que se demarcou claramente da esquerda, serve também para pôr definitivamente fim à ilusão de que o PS tem uma ala esquerda e de que Pedroso pertencia a essa ala. Pedroso, tal como Vieira da Silva, e outros, é igual a todas as demais personalidades do PS. São gente de centro, que advogam e praticam uma política económica de direita, com um entendimento algo diferente dos demais sectores de direita relativamente a certas questões sociais.
Mesmo aqueles que mais frequentemente criticam certas políticas, ou melhor, certas medidas da governação socialista, como é o caso de Alegre e ultimamente de Soares, posto que num registo diferente, servem na perfeição aquele objectivo e ajudam com as suas intervenções, sempre posteriores às medidas que criticam, a segurar uma franja do eleitorado que poderia fugir para os partidos de esquerda.
Em conclusão: não há razão para que os eleitores que, no plano económico, preferem uma política de direita, deixem de votar no PS, não fazendo por isso sentido, pelo menos neste momento, apelar ao bloco central como instrumento indispensável de governabilidade. Ora, como Pedroso não interveio como analista, já que não é de admitir que quem pediu ao Estado uma onerosa indemnização por ter sido privado (temporariamente, presume-se…) de ascender às mais altas funções do Estado, actue naquela qualidade dias depois de ter regressado ao Parlamento, é muito provável que, no interior do PS, alguém se veja forçado a recordar-lhe que os processos em que está envolvido ainda não terminaram…
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