QUE CONSEQUÊNCIAS?
A União Europeia decidiu ontem, em reunião extraordinária ao mais alto nível, suspender as negociações (ou, apenas adiar) as negociações do Acordo de Cooperação e Associação com a Rússia até que sejam cumpridos os seis pontos do acordo de cessar-fogo negociado em Agosto pelo Presidente Sarkozy com ambos os contendores.
O acordo está, no essencial, a ser cumprido, com excepção do ponto quinto acerca do qual existem interpretações divergentes. Diz este ponto que “as forças militares russas terão de retirar-se para as linhas anteriores ao início das hostilidades”, acrescentando ainda que “forças de pacificação russas implementarão medidas adicionais de segurança, até que se acorde um mecanismo internacional”.
Como se sabe, a Rússia mantém tropas nas regiões separatistas, cuja independência acaba de ser reconhecida por Moscovo, e em vários pontos-chave do território georgiano, nomeadamente portos e cidades.
A União Europeia, pese embora o bom senso que o Presidente francês tem demonstrado como mediador deste conflito, vai ter muita dificuldade em demonstrar à Rússia que o acordo não está ser cumprido. As tropas sediadas nas regiões separatistas são tropas de pacificação e as que ocupam alguns outros pontos do território georgiano representam as tais medidas adicionais de segurança que a presença em Tblissi de alguém com Saaskashvili, no entender dos russos, exige.
O mais que a UE poderá conseguir é uma redução da presença russa, mas nunca a retirada. A Rússia foi para ficar…
Por outro lado, a suspensão das negociações do acordo acabará por afectar muito mais, do lado da UE, aqueles países que dependem energeticamente das exportações russas, como é o caso de quase todos os ex-membros do Pacto de Varsóvia, do que os que têm grandes relações comerciais com a Rússia em ambos os sentidos, como é principalmente o caso da Alemanha, da Itália, da Holanda e da França, que continuarão a resolver, tranquilamente, no plano bilateral os seus problemas.
No jornal “Público” de ontem há dois excelentes artigos sobre a crise do Cáucaso ou, o mesmo é dizer, das relações do chamado Ocidente com a Rússia. Um da autoria de Oleg Shchedrov, que nos dá a perspectiva de Moscovo ante o cerco e a arrogância com que a Rússia tem sido tratada pelos Estados Unidos acolitados, com mais ou menos, convicção pelos europeus; outro, de Eduardo Lourenço, muito cáustico sobre a atitude da Europa relativamente a um conflito que não contende com os seus interesses.
De facto, não se compreende em homenagem a que supremos interesses a Europa aceita marginalizar a Rússia e alinha covardemente numa política de cerco a um país que é tão europeu como muitos outros que tem assento na União, que nem pelo seu passado, nem pela sua política são exemplos recomendáveis. Que esse possa ser o interesse do imperialismo americano, pelas razões aqui várias vezes referidas, ou do próprio Reino Unido no seguimento das suas concepções geopolíticas mais ancestrais, compreende-se. O que não se compreende é que esse interesse seja partilhado pelos grandes países da Europa continental. Como diz Eduardo Lourenço, sem a Rússia a Europa não passará de um pequeno cabo da Ásia.
E isso ver-se-á mais cedo do que se crê. Com a cada vez mais previsível derrota da NATO no Afeganistão, a Europa vai ter que repensar-se…
A União Europeia decidiu ontem, em reunião extraordinária ao mais alto nível, suspender as negociações (ou, apenas adiar) as negociações do Acordo de Cooperação e Associação com a Rússia até que sejam cumpridos os seis pontos do acordo de cessar-fogo negociado em Agosto pelo Presidente Sarkozy com ambos os contendores.
O acordo está, no essencial, a ser cumprido, com excepção do ponto quinto acerca do qual existem interpretações divergentes. Diz este ponto que “as forças militares russas terão de retirar-se para as linhas anteriores ao início das hostilidades”, acrescentando ainda que “forças de pacificação russas implementarão medidas adicionais de segurança, até que se acorde um mecanismo internacional”.
Como se sabe, a Rússia mantém tropas nas regiões separatistas, cuja independência acaba de ser reconhecida por Moscovo, e em vários pontos-chave do território georgiano, nomeadamente portos e cidades.
A União Europeia, pese embora o bom senso que o Presidente francês tem demonstrado como mediador deste conflito, vai ter muita dificuldade em demonstrar à Rússia que o acordo não está ser cumprido. As tropas sediadas nas regiões separatistas são tropas de pacificação e as que ocupam alguns outros pontos do território georgiano representam as tais medidas adicionais de segurança que a presença em Tblissi de alguém com Saaskashvili, no entender dos russos, exige.
O mais que a UE poderá conseguir é uma redução da presença russa, mas nunca a retirada. A Rússia foi para ficar…
Por outro lado, a suspensão das negociações do acordo acabará por afectar muito mais, do lado da UE, aqueles países que dependem energeticamente das exportações russas, como é o caso de quase todos os ex-membros do Pacto de Varsóvia, do que os que têm grandes relações comerciais com a Rússia em ambos os sentidos, como é principalmente o caso da Alemanha, da Itália, da Holanda e da França, que continuarão a resolver, tranquilamente, no plano bilateral os seus problemas.
No jornal “Público” de ontem há dois excelentes artigos sobre a crise do Cáucaso ou, o mesmo é dizer, das relações do chamado Ocidente com a Rússia. Um da autoria de Oleg Shchedrov, que nos dá a perspectiva de Moscovo ante o cerco e a arrogância com que a Rússia tem sido tratada pelos Estados Unidos acolitados, com mais ou menos, convicção pelos europeus; outro, de Eduardo Lourenço, muito cáustico sobre a atitude da Europa relativamente a um conflito que não contende com os seus interesses.
De facto, não se compreende em homenagem a que supremos interesses a Europa aceita marginalizar a Rússia e alinha covardemente numa política de cerco a um país que é tão europeu como muitos outros que tem assento na União, que nem pelo seu passado, nem pela sua política são exemplos recomendáveis. Que esse possa ser o interesse do imperialismo americano, pelas razões aqui várias vezes referidas, ou do próprio Reino Unido no seguimento das suas concepções geopolíticas mais ancestrais, compreende-se. O que não se compreende é que esse interesse seja partilhado pelos grandes países da Europa continental. Como diz Eduardo Lourenço, sem a Rússia a Europa não passará de um pequeno cabo da Ásia.
E isso ver-se-á mais cedo do que se crê. Com a cada vez mais previsível derrota da NATO no Afeganistão, a Europa vai ter que repensar-se…
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