NA ITÁLIA TUDO É POSSÍVEL
Berlusconi é o exemplo acabado da negação de tudo o que durante séculos constituiu a imagem de marca da Itália: a subtileza. A subtileza na política, na diplomacia, na retórica, na arte, enfim, o famoso espírito florentino, que, embora originário da Toscânia, não deixava de impregnar a vida italiana em muitos dos seus mais interessantes aspectos.
Com Berlusconi, a subtileza acabou. É preciso impedir que o Cavalieri seja investigado por corrupção? Pois, faz-se uma lei a proibir a investigação! É necessário que a opinião pública desconheça as maquinações dos grandes delinquentes do crime económico e financeiro? Então, publica-se uma lei a ameaçar com muitos anos de cadeia aqueles que as derem a conhecer, com base em factos indesmentíveis!
O Conselho de Ministros italiano aprovou, na passada sexta-feira, uma lei que limita drasticamente as escutas telefónicas. Ficam doravante proibidas (isto é, depois da aprovação da lei pelo Parlamento) as escutas telefónicas destinadas a investigar crimes punidos com menos de dez anos de cadeia. Nos casos em que se mantêm, não podem durar mais de três meses e passam a ser decididas por um órgão colegial de três membros e não apenas por um magistrado, como até agora.
Deixam de poder fazer-se escutas para investigação de crimes económicos, financeiros e empresariais. Com esta proibição assegura-se a impunidade de facto aos crimes de colarinho branco ou torna-se muito difícil a investigação.
Por outro lado, os juízes que divulgarem o conteúdo das escutas serão punidos com cinco anos de cadeia, os jornalistas que as publiquem com três e as empresas editoriais onde sejam publicadas com multas elevadíssimas. Tudo isto, alega-se, em homenagem ao princípio da defesa da privacidade.
A verdade é que Berlusconi tem pendentes vários processos, sendo o chamado Caso Mills aquele que mais o preocupa. Berlusconi está acusado de corrupção judicial por ter subornado o advogado inglês David Mills, quando este testemunhava em dois processos contra ele. Com esta lei tudo fica mais fácil…
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