O SONHO E A REALIDADE
Num interessante artigo hoje publicado no “Público”, o antigo vice-chanceler e Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Schröder e dirigente cimeiro dos Verdes durante mais de 20 anos considera que o “Não” da Irlanda é o segundo e mais duro golpe contra uma Europa unida e forte, sendo de admitir que por isso mesmo desapareça da cena internacional, como parceiro sério e credível, nos próximos dez anos, pelo menos.
É ainda de opinião que com o “Não” da Irlanda estão criadas as condições para que dentro da UE subsistam duas Europas – a da integração e a do Mercado Comum, ou, a da CEE e a da EFTA. E aconselha: os que se contentam com o Mercado Comum fiquem como estão, os que querem a integração política devem seguir o seu caminho.
Embora Fischer no artigo que escreveu nem uma única vez lhe ocorra perguntar o que pensam os europeus – também para ele a construção europeia não é coisa para ser discutida na praça pública – a verdade é que esta posição é muito diferente da daqueles que, na sequência do resultado do referendo de 12 de Junho, falaram em deixar a Irlanda para trás. A fractura de que fala Fischer é muito mais profunda e muito mais vasta do que a revelada pelo referendo da Irlanda.
De facto, depois do alargamento, aquelas duas posições, que já existiam mais ou menos mitigadamente no seio da EU a seguir à adesão do Reino Unido, ficaram muito mais nítidas e a todo o momento são evidenciadas. Os novos Estados do leste europeu com independências recém-conquistadas ou saídos da tutela soviética não vêm na integração política europeia o factor de segurança por que aspiram. Mal ou bem, a segurança para eles só pode vir do outro lado do Atlântico. Assim sendo, é natural que com os mais variados pretextos dificultem a integração política europeia e recusem, na prática, uma política de defesa que não seja a da NATO.
A Europa com que sonha Joschka Fischer não se ralizará tão cedo…mas não por causa do “Não” da Irlanda.
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