A GRANDE ENTREVISTA
Carvalho da Silva é hoje, sem favor, a voz mais respeitada da esquerda portuguesa. Numa época em que os sindicatos foram atacados por toda a direita e desprezados por uma certa “esquerda bem-pensante”, ele, à frente da equipa da Intersindical, conseguiu resistir e fortalecer o movimento sindical, tornando-o na voz verdadeiramente alternativa ao pensamento único dominante que do PS ao CDS varre o espectro político português.
Carvalho da Silva soube também resistir a qualquer tipo de sectarismo, a que frequentemente a direita o pretende colar e para o qual o empurra, sem que alguma vez a sua posição aberta e plural o tenha impedido de distinguir com clareza os inimigos dos aliados. Nunca perdeu o norte, nem nunca se deixou embalar por cantos de sereia e prossegue com coragem e lucidez a defesa de uma sociedade mais justa, mais solidária e, acima de tudo, mais humana. O que verdadeiramente impressiona na sua luta de décadas, que a experiência, a idade e a sabedoria, refinaram, é o seu humanismo.
Simultaneamente, valorizou-se pessoal e profissionalmente e, por isso, ele é também uma das vozes mais competentes da sociedade portuguesa nas matérias de que se ocupa.
A entrevista que hoje concedeu a Judite de Sousa é a todos os títulos notável. Ele não tem qualquer ilusão sobre o que verdadeiramente se pretende com os famosos planos de recuperação da economia, nem sobre o oportunismo que lhes anda associado. O capitalismo neoliberal, abalado pela crise, não está derrotado. Pelo contrário, busca, à custa do sacrifício de todos, restaurar-se com a cosmética necessária para parecer diferente, mantendo-se igual.
Desmontou igualmente, com a mesma facilidade, a pretensa manipulação do movimento sindical, primeira acusação de qualquer reaccionário primário, contrapondo-lhe a independência sindical, tanto em relação ao poder político como ao poder económico.
Carvalho da Silva com uma linguagem nova, rigorosa e certeiramente demolidora de falsos lugares comuns e falsas verdades é voz que em toda a esquerda portuguesa melhor interpreta a luta que importa travar contra a ausência de perspectivas que se abateu sobre a sociedade portuguesa, em consequência dos sucessivos falhanços governamentais das últimas décadas.
1 comentário:
Nestes conturbados tempos, sabe bem ler opiniões como a sua, caro Professor, contrárias, sobretudo, ao sabor bem-pensante daqueles a quem o poder estragou.
Na verdade, é uma pena (para não dizer que é um crime...) que o poder reinante desperdice levianamente o saber e a força das organizações sindicais e deste Homem a todos os títulos notável: competente, sóbrio, certeiro na crítica e intransigente naquilo que mais interessa, isto é, na defesa dos direitos daqueles que são sistematicamente abandonados pelo poder.
Encontrá-lo, sr. Prof, foi uma boa dádiva desta Primavera que acaba de começar.
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