A ENTREVISTA DE CÂNDIDA ALMEIDA
Cândida Almeida concedeu uma entrevista ao DN sobre a operação furacão.
Dificilmente se poderia imaginar uma entrevista mais infeliz.
A entrevista é do princípio ao fim inconsistente. As respostas estão mal estruturadas e a opinião pública fica com uma má ideia sobre a forma como são conduzidas em Portugal este tipo (só este?) de investigações criminais.
Em primeiro lugar, para se vir falar sobre esta investigação quatro ou três anos depois de iniciada, é preciso ter ideias muito claras sobre o que se quer dizer. E, francamente, não sei se a Procuradora, na esteira das anteriores declarações do PGR sobre o crime económico, pretendeu preparar a opinião pública para um desfecho inconcludente do processo ou, se, pelo contrário, quis vir fazer uma espécie de “mid-term review”, dando conta do que se fez até hoje e do que falta fazer.
Em qualquer dos casos, a entrevista é um falhanço. Dela não resulta ter a investigação uma estratégia clara sobre o que pretende. Parece mais interessada em arranjar desculpas do que em apontar rumos claros que tenham sido seguidos. Desculpa-se frequentemente com a lei em vigor, para logo depois, num tardio rebate de consciência, vir dizer que concorda completamente com as exigências constitucionais portuguesas.
Depois, à semelhança de uma colega sua, parece estar muito preocupada por a investigação criminal ocorrer depois do crime! Este ponto de vista parece estar a generalizar-se no MP, como se o contrário é que fosse normal. É claro que pode haver fiscalização preventiva, mas a partir do momento em que haja crime ou suspeita dele, a investigação será sempre um posterius.
A referência à PJ nos termos em que foi feita levanta todo tipo de suspeitas: ou não dizia nada, ou dizia mais.
Finalmente, as reservas ao inquérito parlamentar são politicamente inaceitáveis. Embora se saiba antecipadamente o resultado de uma comissão parlamentar de inquérito que contenda com os interesses da maioria, nem por isso a opinião pública deixa de ficar mais esclarecida com o que nela se passa. Acredito é que o MP não esteja muito interessado em que o grande público tome conhecimento de factos precisos, porque quanto mais conhecimento houver do processo, menos tolerância haverá para um desfecho inconclusivo.
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